Por Shagaly Ferreira | Criatividade, carisma e habilidade para se comunicar com diversos públicos são os ingredientes que caracterizam os empreendedores que escolhem as lojas do bairro do Brás, na cidade de São Paulo, para atuar como influenciadores digitais. Não à toa, a desenvoltura utilizada para cativar os clientes nos vídeos ajudou a levar Beatriz Reis ao “Big Brother Brasil 24”.
Antes de entrar no “reality show”, a paulista de 23 anos produzia conteúdos de divulgação para lojistas da região, usando o bordão “Brasil!”, que continua sendo sua marca registrada dentro da casa. Desde o início do programa, o número de seguidores da sua conta no Instagram passou de 12 mil para quase 2 milhões.
Não há uma estimativa oficial de quantas pessoas desempenham esse tipo de trabalho na localidade. Mas, segundo João Finamor, professor de marketing digital da ESPM, o nicho ganhou força e virou tendência após a pandemia de covid-19, período em que o comércio digital se fortaleceu e o presencial ficou mais limitado. Esses criadores, então, passaram a ser uma extensão dos clientes dentro das lojas para consulta de preços e visualização das peças de roupas.
“Hoje em dia, a criação de conteúdo deixou de ser exclusivamente aspiracional e distante, com a influenciadora de luxo comprando a sua Chanel de edição limitada”, explica o especialista. “Cada vez mais, vemos que as pessoas buscam também aquele influenciador da realidade que elas vivem. Com isso, no pós-pandemia, tivemos uma ascensão desse tipo de criador da vida real, como os do Brás.”
Foi nesse período que Elizabeth Cortez, 29 anos, passou a produzir conteúdos no TikTok para lojistas do Brás. Durante a pandemia, ela gravava vídeos pessoais com “dancinhas” para a plataforma e, com a reabertura das lojas, passou a ser chamada pelos vendedores para dançar e fotografar usando as peças. Em 2021, ela viralizou ao receber mais de 4 milhões de visualizações em um desses conteúdos.
Os números do comércio no Brás dão a dimensão de por que o espaço se tornou tão atrativo para os criadores. O bairro, localizado na região central, é conhecido nacionalmente por ser um grande polo varejista de confecções. Segundo dados da Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), 400 mil pessoas circulam diariamente na região em busca dos produtos vendidos nas 15 mil lojas locais. Juntas, elas faturam em torno de R$ 16 bilhões por ano. Nos últimos anos, contam com influenciadores digitais para divulgar nas redes sociais peças em estoque e atingir um público mais amplo.
De forma geral, o trabalho de divulgação inclui fotos, ‘lives’ e vídeos feitos diretamente nos estabelecimentos. De acordo com Lauro Pimenta, diretor da Alobrás, cada loja costuma pagar entre R$ 300 e R$ 5 mil mensalmente para criadores de conteúdo. Como não costuma haver contrato de exclusividade e as negociações são mais informais, o valor do faturamento varia e pode alcançar cifras altas, a depender do maior número de estabelecimentos atendidos. Por isso, o ofício exige dedicação intensa para gerar resultados.
Fonte: Valor Econômico