A Inbrands, holding de moda que reúne macas como Ellus, Richards, Salinas, VR e Tommy Hilfiger, vai demorar “um ano ou mais! para concluir um processo de ajustes nas suas lojas, com o objetivo de voltar ao lucro, nas palavras do presidente da companhia, Nelson Alvarenga Filhos, em entrevista ao Valor.
“Foi feita muita confusão na empresa e para consertar leva tempo”, afirmou o empresário, que assumiu o comando da companhia há cerca de quatro meses.
Alvarenga começou, em novembro do ano passado, a fazer mudanças do portfólio das lojas, cortando 30% das linhas de produtos, com o objetivo de simplificar as marcas. Em seguida, começou a reavaliar a cadeia de fornecimento para ajustar os volumes de estoques. “Só esse processo leva um ano ou mais, para fazer uma arrumação direito”, disse o empresário, que esteve no sábado no Guarujá (SP), participando de um encontro com outros nomes do varejo.
Fundador da Ellus e dono de 39,41% das ações da Inbrands por meio da NABR, Alvarenga assumiu o compando da companhia em novembro do ano passado, como presidente-executivo e presidente do conselho de administração. Entre 2008 e 2016, a Inbrands elegeu presidentes com perfis mais voltados à gestão operacional e financeira.
“As gestões anteriores trabalharam com muito foco em fusões, em aquisições, em IPO [ oferta pública inicial de ações ]. Houve uma distração em relação ao foco central do negócio. Os outros [ presidentes ] tinham uma visão muito de curto prazo, sempre esperando uma capitalização. Elas podem acontecer no percurso. Mas o principal do negócio é o varejo. A Inbrands não é um ‘private equity’, não pode pensar só em fazer dinheiro”, afirmou o presidente da companhia.
O empresário disse ainda que a engociação de uma fusão como a Restoque, dona das marcas Le Lis Blanc, Dudalina, Bo.Bô, John John e Rosa Chá, fazia sentido no começo das conversas, em 2015. Mas, à medida que a crise econômica do país se aprofundou, em 2016, a nião das companhias tornou-se inviável. “Tinha tanta arrumação para ser feita entre as duas empresas e são empresas com culturas tão diferentes, que consideramos melhor cada um arrumar a sua casa. Eventualmente, mais à frente, voltamos a conversar”, afirmou.
Alvarenga acrescentou que a Inbrands pode retomar as conversas sobre fusões e aquisições, mas o foco agora é cuidar da operação de varejo e recuperar a cultura da companhia de ser uma gestora de marcas de alto valor agregado. “Não temos nada contra eventualmente conversar sobre entrada de um fundo, ou fusões e aquisições. Mas não quero ter essa conversa agora”, disse Alvarenga.
Os sócios da Inbrands concluíram em fevereiro deste ano um aumento do capital social da companhia em R$ 103,8 milhões, ampliando o capital da empresa para R$ 390,7 milhões. A operação foi feita por meio de uma emissão de 24,06 milhões de ações ordinárias, ao preço de R$ 4,31 por ação.
As novas ações emitidas foram totalmente subscritas e integralizadas pelo Vinci 10 Fundo de Investimento Renda Fixa Crédito Privado, mediante a capitalização dos créditos decorrentes da terceira e da quinta emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, de emissão da Inbrands, no valor de R$ R$ 67,7 milhões e R$ 36,1 milhões, respectivamente.
O aumento do capital teve por objetivo preservar e otimizar o caixa da empresa e cumprir obrigações junto aos debenturistas.
A Inbrands também suspendeu o pagamento de dividendos no valor de R$ 3,6 milhões. “Estamos mais organizados em termos de dívidas, agora. A meta é reduzir mais o endividamento e recompor o caixa”, disse Alvarenga.
A Inbrands ainda não divulgou os resultados do quarto trimestre de 2016. De janeiro a setembro, a companhia registrou queda de 8,7% na receita líquida, para R$ 610,9 milhões. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 52,8% para R$ 48,6 milhões. A empresa acumulou no período um prejuízo líquido de R$ 95,8 milhões, ante um lucro de R$ 12,8 milhões nos nove primeiros meses de 2015.
A dívida líquida atingiu em setembro R$ 593,9 milhões, contra R$ 458,7 milhões no fim de 2015. Além da emissão de ações para reduzir a dívida em debêntures, a Inbrands renegociou com credores, no fim de 2016, o alongamento de débitos com uma nova emissão de debêntures, no total de R$ 470 milhões, com vencimentos em 2018 e 2019. Essas debêntures estão nas mãos de quatro bancos e cinco fundos de investimentos. A companhia tem ainda uma dívida de R$ 30 milhões com o Bank of China, com vencimento em 2017.
Ainda de acordo com Alvarenga, o cenário macroeconômico brasileiro dificulta a recuperação da operação nas lojas. “Consolidar marcas com valor leva tempo. Vamos estruturando as coisas e aí tem que dar marça ré de novo por conta da crise. Estamos tendo que aprender e reaprender a sobreviver. É muito difícil conseguir maturar projetos no Brasil com todas as confusões na área política. Estamos vivos esperando estar no fundo do poço. Desafortunadamente é mais uma década perdida para nosso país e a situação da Inbrands reflete um pouco isso”, afirmou o empresário.
Fonte: Valor Econômico