A Iguatemi, dona de shoppings de alto padrão no país, acredita que há espaço para melhora das condições econômicas no segundo semestre e em 2017, após a recente mudança de governo, mas não a ponto de levar a empresa a revisar expectativas de desempenho já anunciadas. Presidida por Carlos Jereissati Filho, a companhia espera expansão em receita líquida de 5% a 10% neste ano – uma taxa que pode ficar abaixo, portanto, do crescimento de 8% obtido em 2015.
“Temos resiliência, mas não estamos isolados do resto do mundo. Há ambiente mais favorável, mas é preciso sinais mais claros para considerarmos mudanças em ‘guidance.’ Nossa preocupação é ficar nessa faixa, de 5% a 10% [de alta na receita em 2016], o que é bom sinal considerando um mercado em que há empresas caindo 20%, 30%”, disse Jereissati, durante comemoração dos 50 anos do shopping Iguatemi São Paulo.
Para outro indicador, a margem de lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda, da sigla em inglês), a previsão é que fique entre 73% a 77%, sendo que no ano passado atingiu 79%.
A companhia ainda prevê investimentos na faixa de R$ 150 milhões a R$ 170 milhões neste ano, versus soma duas vezes maior, de R$ 360 milhões em 2015 e de R$ 585 milhões em 2014. O fim de um ciclo de investimentos em projetos novos, criados a partir do zero (greenfield), explica essa queda. A princípio, os valores mais baixos neste ano – orçados antes da confirmação de Michel Temer como presidente interino – estão mantidos, apesar da hipótese de melhora do ambiente econômico.
Alguns indicadores de performance mostram um início de ano difícil. A taxa de inadimplência da companhia foi a 3,7% no primeiro trimestre, 1,1 ponto acima do mesmo período de 2015, o que indica maior atraso no pagamento de aluguel por parte dos lojistas. E a taxa de ocupação dos shoppings do grupo caiu de 96% para 94%.
“Não é nada tão alto”, comentou ele, sobre a taxa de inadimplência. “Sempre nos mantivemos abertos a negociar com lojistas. Na verdade, nós procuramos alguns primeiro mostrando disposição em conversar, caso fosse necessário”, acrescentou. “Onde havia dificuldade [em arcar com despesas] houve abertura para isso”. De um ano para cá, lojistas de shoppings buscaram grupos do setor para adiar pagamentos de condomínio ou aluguel ou buscar descontos.
Mesmo assim, a receita líquida da Iguatemi cresceu 8% de janeiro a março, para R$ 160,5 milhões. O aumento das despesas financeiras e, ao mesmo tempo, a queda nas receita financeiras tiveram impacto na última linha do balanço, com lucro líquido caindo 14%, para R$ 38,7 milhões.
Segundo o empresário, a melhora nas condições econômicas do país no segundo semestre pode levar a uma retração menor do Produto Interno Bruto (PIB) em 2016 e abrir espaço para crescimento maior em 2017.
“Já existe um movimento de revisão de algumas expectativas por parte de agentes do mercado. A mudança na direção [com o início do governo Temer] do país está correta, especialmente em relação à necessidade de reduzir o patamar de dívida pública”, afirmou.
“Se você gastar mais do que tem e pagar o juro que paga, não tem jeito, você quebra […] As medidas que precisam ser tomadas para tentar reverter esse cenário atual de crise não terão efeito imediato, são demoradas. Mas a direção é correta, o caminho está certo.” Segundo ele, a sinalização de um corte na própria estrutura de cargos públicos, como informado por membros do governo, indica que há um nível de comprometimento com essa redução dos gastos. “A capacidade deste governo de se comunicar com clareza pode ser fundamental para entendimento e apoio às decisões.”