A receita líquida foi de R$ 169,4 milhões, alta de 8%
Por Adriana Mattos
Uma das maiores empresas de shopping center do país, a Iguatemi registra atualmente uma retomada na operação mais rápida do que após os “lockdowns” do ano passado. “Vemos um processo de retomada mais avançado hoje. Não será algo lento e gradual como vimos [em 2020] e isso faz acelerar a discussão de novos negócios”, disse Carlos Jereissati, presidente da Iguatemi.
Apesar da crise, Cristina Betts, diretora financeira da empresa, disse que há “luz no fim do túnel”. Jereissati e Betts participaram de teleconferência com analistas para comentar o balanço do primeiro trimestre.
Em março, a empresa vendeu o equivalente a 31% do registrado em 2019 e operou com apenas 16% da capacidade. Jereissato diz que esse resultado – mesmo com os shoppings fechados – reflete iniciativas como o marketplace (shopping virtual) Iguatemi 365, o sistema de drive- thru e o “hub” logístico do iFood, entre outras. O fato da clientela ser de alta renda também ajudou.
A companhia informou que vai lançar um aplicativo do Iguatemi 365 no segundo semestre – o principal investimento na área digital da companhia. Também será aberta uma loja física temporária desse marketplace no Shopping Iguatemi, de São Paulo, em setembro.
A companhia estuda oportunidades a serem criadas com a Infracommerce, empresa que fez sua oferta pública inicial de ações de R$ 1 bilhão nesta semana. A Iguatemi tem 10% dessa empresa, indiretamente. “Temos algumas conversas com eles, nada fechado, e que pode vir possibilidades de investimento”, disse Jereissati.
A área financeira da companhia destacou ontem que a Iguatemi teve lucro no primeiro trimestre, em parte, pelo efeito de receitas financeiras. O lucro líquido cresceu 241%, para R$ 40,3 milhões. A receita líquida foi de R$ 169,4 milhões, alta de 8%.
As vendas totais dos lojistas recuaram 28,4%, para R$ 1,88 bilhão. As vendas “mesmas lojas” (que funcionam há mais de um ano) caíram 25,6%, reflexo do fechamento dos shoppings em março e retomada ainda gradual em janeiro e fevereiro. Os aluguéis “mesmas áreas” caíram 12,8%, e os aluguéis “mesmas lojas” caíram 4,2%.
A Iguatemi vem renegociando valores de contratos de aluguel com lojistas de forma individual, numa posição diferentes daquela adotada no início da pandemia, em 2020, porque entende que o cenário hoje não é semelhante ao do ano passado. “De outubro a fevereiro cobramos aluguel, e em março de 2021 houve suspensão e jogamos isso mais para frente, como fizemos no começo da pandemia no ano passado. Fizemos isso porque sabíamos da condição dos lojistas e jogamos para períodos mais amenos para ele ter condição de fazer o pagamento. Continuamos recebendo condomínio e fundo de promoção para manter o dia a dia [dos shoppings]. Conseguimos isso pela nossa condição de caixa”, disse a diretora financeira.
Jereissati foi questionado sobre os índices de reajuste de aluguel – lojistas têm pressionado pela troca do IGPM (que subiu mais de 20% em 2020) para o IPCA. Há varejistas que entraram com ação na Justiça pedindo a mudança. Ele criticou a hipótese de uma intervenção legal ou do Estado nessa definição que, diz ele, cabe ao setor privado fazer, em contratos de locação entre empresas. “Já tivemos esse debate sobre intervenção estatal e é uma volta ao passado. Hoje funcionamos no livre mercado, em lei do inquilinato atualizada em 1994, e não acredito numa intervenção dessa natureza”.
Há em discussão atualmente um projeto de lei (1026/21) que determina que o reajuste dos contratos de aluguel residencial e comercial não poderá ser superior à inflação oficial do país (IPCA). A proposta tramita na Câmara dos Deputados. De autoria do deputado Vinicius Carvalho (Republicanos-SP), o texto permite o uso de valor superior ao IPCA, desde que com anuência do locatário.
Jereissati disse que a empresa está olhando o reajuste de aluguel caso a caso. “São empresas bem distintas com contratos diferentes e cabe análises diferentes, para se chegar a um bom termo, e o acordo tem ocorrido com a maior parte dos lojistas”, disse.
No começo da pandemia, em 2020, a Iguatemi isentou lojistas do pagamento do aluguel por período específico, quando os shoppings fecharam totalmente no país, mas neste ano, com a reabertura de praças de forma mais irregular (alguns abriram rapidamente outras mais lentamente), a companhia não aboliu totalmente o pagamento.
Fonte: Valor Econômico