Controladora de shoppings tradicionais focados na alta renda, a Iguatemi acredita que o pior da crise já passou, disse ontem o presidente Carlos Jereissati Filho, após a publicação de seu balanço do segundo trimestre. Ações do setor fecharam em forte alta ontem na B3.
Analistas entendem que os números do período foram melhores do que se projetava para a companhia, mas há diferenças nas percepções em relação a desempenhos futuros.
Parte das equipes de análise entende que o cenário do setor ainda é incerto e alguns números da empresa, como inadimplência de lojistas, podem piorar nos próximos meses, como diz a equipe do Credit Suisse. Já a área do Bradesco BBI diz que a Iguatemi pode estar no caminho certo ao reduzir custos, e tende a passar pelas turbulências de forma mais “suave”.
O prejuízo líquido ajustado atingiu R$ 7,8 milhões de abril a junho, e o Goldman Sachs projetava perda de R$ 39 milhões. Esse número considera o efeito dos descontos de aluguel sem o escalonamento desse impacto, que será informado trimestralmente pelo grupo (chamada “linearização”). Já ao se considerar esse escalonamento, houve lucro líquido de R$ 46,3 milhões, queda de 23%.
As vendas totais de lojistas atingiram R$ 603,6 milhões, queda de 82,8%, efeito do fechamento de pontos de abril a maio. As vendas “mesmas lojas” (pontos em operação há mais de um ano) caíram 70,6% e as vendas em “mesmas áreas” encolheram 81,6%.
Os aluguéis “mesmas lojas” declinaram 79,1%. A taxa de ocupação, de 93,6%, subiu 1,5 ponto, e surpreendeu o mercado. O número refletiu processo de negociação com lojistas durante a crise, que evitou saída de lojas dos empreendimentos. A inadimplência caiu 26% no trimestre, o que também chamou a atenção de analistas.
Isso ocorreu porque o aluguel atrasado de meses anteriores foi pago, o que tem efeito positivo no período. Tanto a taxa de ocupação quanto a inadimplência são alguns números que os especialistas vão continuar acompanhando mais de perto, pois refletem a saúde dos lojistas.
Segundo Jereissati Filho, em São Paulo, há shoppings do grupo fazendo 70% da venda normal, e há alguns empreendimentos chegando a 80%, em praças com período de funcionamento mais longo. “Então temos tido bom desempenho em São Paulo, mas também em parte porque aqui temos shoppings com caráter único […]. Entendo que o pior já ficou para trás”, diz.
“Vemos um cenário de retomada e estamos otimistas, as pessoas estão voltando e em julho, com a reabertura dos restaurantes, tivemos um movimento muito forte após o dia 15 […]. Lembrando porém, que a pandemia parece longe de acabar”, disse ontem.
Segundo analistas, como já se esperava, por conta do fechamento de empreendimentos em abril e maio, os números do segundo trimestre foram ruins, mas melhores do que se projetava. Isso acabou animando o mercado ontem, mesmo com o cenário de incertezas no consumo – as ações de Iguatemi fecharam em alta de 7,76%, Multiplan, de 8% e BR Malls, de 7,72%. “Embora o trimestre possa não ter esclarecido as preocupações de longo prazo, ele definitivamente deu algum conforto ao fato de que o curto prazo pode não ser tão feio quanto o esperado”, diz a equipe do Credit Suisse.
Sobre o aspecto dos cortes de despesas, o comando disse ontem que a Iguatemi reduziu em 13% o seu quadro de pessoal, com um total de 478 menos vagas na companhia, entre demissões em julho e vagas congeladas, informou a empresa ao Valor. Segundo Jereissati Filho, as reduções no quadro ajudam a empresa a “otimizar custos” e a ter “melhores resultados” para atravessar a fase de pandemia.
Fonte: Valor Econômico