Os shoppings levaram um bom tempo para investir no formato que replica o seu modelo na internet, os chamados marketplaces. No mercado brasileiro, uma das primeiras iniciativas nessa direção veio do Iguatemi, que lançou sua plataforma em setembro de 2019, batizada de Iguatemi 365.
Agora, com todos os seus empreendimentos fora de operação por conta da Covid-19, o Iguatemi começa a colher, mesmo que timidamente, os frutos desse projeto.
“Diante do que estamos vivendo e das restrições que teremos nos próximos meses, é um momento importante para o 365 ganhar mais relevância”, disse Cristina Betts, vice-presidente de finanças e diretora de relações com investidores do Iguatemi, durante teleconferência realizada nesta quinta-feira, 23 de abril.
Segundo a executiva, no último mês, a plataforma registrou um volume bruto de mercadorias (GMV) dez vezes maior quando comparado às vendas apuradas em janeiro deste ano. No período, o marketplace adicionou 15 novos sellers, que, por sua vez, representam 100 marcas.
Rótulos de vinho da Mistral, títulos selecionados da livraria Cultura, a galeria de arte Carbono e a grife M Missoni foram algumas das novidades do canal, que se tornou também a primeira plataforma multimarcas do mundo a fechar uma parceria com a joalheria Tiffany.
“Nós temos mais 30 parceiros na fila para entrar nas próximas semanas”, afirmou Cristina sobre o canal, que encerrou 2019 com cerca de 100 marcas disponíveis.
Entre as próximas novidades, ela observou que já estão sendo negociadas lojas em formato “pop-up”, com coleções exclusivas e específicas para determinadas datas, como o dia das Mães.
“Muitas conversas que estavam em banho maria se aceleraram com a quarentena”, destacou. Ela também enxerga avanços na ponta dos clientes. “Depois de uma fase de experimentação, já estamos começando a ver um comportamento de vendas cruzadas entre os consumidores.”
Com o avanço durante o isolamento, o Iguatemi já avalia a expansão das entregas do marketplace, hoje restritas ao Estado de São Paulo. “Já estamos bem mais seguros sobre como operamos a plataforma e devemos começar a estender em breve a outras geografias.”
Reaberturas
Enquanto traça os planos de expansão do 365, o Iguatemi começa a se preparar para a possível reabertura de seus empreendimentos, com o relaxamento gradual da quarentena. Em Santa Catarina, a previsão é de que isso aconteça ainda nessa semana. Já em Brasília, no início de maio e, em São Paulo, a data estimada é 10 de maio.
No total, o Iguatemi tem participação em 13 shoppings e dois outlets. Todas essas operações estão sob a sua gestão e estão distribuídas por São Paulo, cidades no interior paulista, como Campinas e Ribeirão Preto, além de Brasília e Porto Alegre.
Com uma área bruta locável de 728 mil metros quadrados, o portfólio inclui ainda três torres comerciais. Em 2019, o grupo reportou uma receita líquida de R$ 754,3 milhões, um crescimento de 4,5% sobre 2018.
Cristina projeta que as reaberturas dos shoppings do grupo se darão de forma gradual sendo que, inicialmente, os empreendimentos deverão funcionar das 12 horas até às 20 horas. “É o modelo ideal para esse momento”, afirmou. “Até porque nós imaginamos que levará ao menos dois meses para que fluxo volte à normalidade.”
No último mês, o Iguatemi 365 registrou um volume bruto de mercadorias bruto dez vezes maior do que janeiro
Em paralelo à expectativa dessa retomada, a empresa segue negociando com os lojistas. O pagamento dos aluguéis por parte dos lojistas foi dividido em cinco parcelas, a serem quitadas a partir de outubro. Ao mesmo tempo, a companhia concedeu descontos de 60% a 100% nos fundos de promoção, além de 10% na taxa de condomínio.
Para esse mês, a empresa isentará o aluguel dos lojistas e concederá novos descontos de 40% a 50% no condomínio e de 60% a 100% nos fundos de promoção.
Para os lojistas que foram adimplentes nessas taxas em março, o Iguatemi vai abater ainda entre 25% e 50% no valor das parcelas referentes ao aluguel que começará a ser pago em outubro.
Lojistas consultados pelo NeoFeed, entretanto, não se dizem satisfeitos com essa política. “Tanto aluguel como o fundo de promoção não deveriam ser cobrados”, diz o líder de uma entidade de varejistas. “As lojas estão fechadas e também não faz sentido nenhum o fundo de promoção neste momento.”
Até os descontos de 50% do condomínio estão sendo questionados, pois os shoppings, diz essa mesma fonte, renegociaram com fornecedores e reduziram seus custos.
Segundo a executiva, pelos dados compilados até o momento, o índice de adimplência deve chegar a 80% nos shoppings e a 90% nas torres comerciais administradas pela empresa.
Cristina falou ainda sobre o plano de redução de investimentos que está sendo desenvolvido pelo Iguatemi, com a expectativa de uma economia de cerca de R$ 100 milhões no ano.
Entre outras frentes, a estratégia passará, principalmente, pela postergação de projetos de manutenção nos shoppings gerenciados pela companhia.
Fonte: NeoFeed