Da panela de casa, numa produção para um círculo de amigos, a receita da cerveja de Antônio Pedroso e mais cinco jovens passou a ser fabricada em grandes quantidades para abastecer seis bares do Estado do Rio. Os resultados do negócio, com apenas três anos de operação, reforçam o motivo pelo qual as microcervejarias aparecem numa lista de 27 ideias para empreender, elaboradas pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Rio (Sebrae), a pedido do EXTRA. As alternativas referem-se a mercados já em alta e que devem continuar assim. E vão de brechós à alta tecnologia.
— Nossas fontes para buscar essas informações de mercado são dois portais de inteligência, nos quais acompanhamos tendências e verificamos a situação do país — explica Cezar Kirszenblatt, o gerente de Conhecimento e Competitividade do Sebrae/RJ.
A lista leva em conta fatores como as crescentes preocupações com saúde e qualidade de vida, sustentabilidade, mobilidade, beleza e uso de Tecnologia da Informação. Além disso, a resistência de alguns segmentos à crise econômica depõe a favor deles. Mas escolher uma área citada na relação não é garantia de sucesso. É preciso planejamento, de acordo com Lyana Bittencourt, diretora do Grupo Bittencourt:
— É preciso fazer uma pesquisa em detalhe dos números do segmento para montar uma equação financeira saudável: saber as necessidades de caixa, investimento e possibilidades de retorno — diz.
Para a marca de Antônio, a Three Monkeys Beer, a saída financeira, por exemplo, foi terceirizar a produção.
— Alugamos uma fábrica e enviamos a equipe, pois as receitas são todas nossas. Isso facilitou o processo. Apesar da produção não sair mais barata, pudemos começar sem um investimento muito alto — diz ele, aos 29 anos: — Até o fim do ano, lançaremos mais quatro produtos. E, ano que vem, sairemos do estado.
Entre os segmentos apontados pelo Sebrae, há alguns cuja moda pode passar em curto e médio prazos — três e dez anos, respectivamente. Antônio sabe que as cervejas artesanais, por exemplo, podem ter queda no consumo daqui a algum tempo. Mas crê que os bons vão sobreviver.
— O que recomendamos é um monitoramento constante. Os hábitos da sociedade mudam, mas você pode fazer adaptações. Se atua no segmento de beleza, e a moda masculina estiver em alta, por exemplo, pode oferecer isso — orienta Kirszenblatt, do Sebrae.
Micronegócio é aposta à parte
Grande parte das 27 ideias podem ser tocadas a partir de uma marca própria, como a de Antônio, ou ingressando numa rede de franquias. A decisão depende do perfil do empreendedor, segundo a consultora Lyana Bittencourt.
— Normalmente, quem investe em sua própria ideia tem um perfil um pouco mais criativo. Então, o primeiro passo para a escolha é o autoconhecimento neste sentido. Depois, é preciso checar se você tem as competências que o negócio precisa: eu as tenho? Preciso de um sócio ou é melhor buscar algo já estabilizado para colocar em minha operação? A decisão passa por quanto a pessoa está disposta a seguir regras e assumir riscos também. Tudo isso vai direcionar o empreendedor mais para um caminho ou para o outro — diz.
Um dos itens da lista, no entanto, são as microfranquias, cujos investimentos, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), vão até R$ 80 mil. A exigência de um investimento menor, se comparado aos modelos tradicionais de franquias, diminui os riscos do negócio. A maioria é composta por negócios voltados para serviços, prestados mesmo sem a necessidade de o empreendedor ter um ponto físico.
Há o contrário, no entanto. A empresária Sybelle Drumond, de 38 anos, por exemplo, tem uma unidade da microfranquia de ensino Kumon, no bairro Leblon, na Zona Sul do Rio.
— Eu queria abrir um negócio a partir de uma ideia própria, mas resolvi mudar quando conheci o Kumon. Além de trabalhar com educação, que é um segmento do qual gosto mundo, a franquia dá todo o suporte necessário, da escolha de ponto até a estratégia de marketing. E, no modelo micro, o investimento é mais acessível e menos arriscado — conta ela.
‘Mortalidade é alta por falta de capital de giro’, diz especialista
— Na hora de montar uma equação financeira saudável, eu sugiro que o empreendedor trabalhe com, no mínimo, três cenários possíveis: um que ele considere conservador, um otimista, e outro, pessimista. Basear-se apenas em um, é um alto risco. O índice de mortalidade de empresas é elevado também por falta de capital de giro. Então, é bom se preparar. O segundo ponto é, de fato, a construção do conceito do negócio que será aberto: ter estratégias de operação, vendas, tecnologia e atendimento. Destrinchar um bom plano de trabalho é fundamental para o cliente retornar — aponta Lyana Bittencourt, diretora executiva da consultoria Grupo Bittencourt.