Por Eduardo Terra* | Ao longo do último ano, Inteligência Artificial (IA) tem sido um assunto obrigatório e inevitável em reuniões, encontros, eventos e congressos de negócios. Como palestrante e membro do Conselho de Administração de diversas empresas, tenho tido o privilégio de ver essa história se desenrolar a cada dia. De certa forma, estamos vivendo um momento histórico.
O curioso é que, embora a IA tenha mais de 50 anos como tecnologia em desenvolvimento (e, filosoficamente, exista há milênios), estamos apenas no início dessa jornada. Especialmente no varejo.
Tenho dito que IA é prioridade, mas não realidade!
O que faz a IA deixar de ser um assunto de nicho (e até um pouco esotérico ou de ficção científica para o varejo menos digitalizado) é a confluência de diversos fatores para viabilizar um rápido avanço da tecnologia nos últimos 12 a 18 meses. Especialmente quando falamos de IA Generativa.
Além da grande massa de dados gerada pelo varejo atualmente, temos a evolução da conectividade, principalmente com a chegada do 5G permitindo os avanços na Internet das Coisas, os ganhos da capacidade computacional a partir da Computação Quântica já em desenvolvimento e finalmente o constante barateamento das soluções de armazenamento em nuvem formando assim uma combinação explosiva. Juntos estes 4 elementos irão trazer um crescimento exponencial das aplicações de Inteligência Artificial ao longo desta década.
Isso não significa, porém, que as aplicações de IA ainda estejam em um estágio embrionário ou que a tecnologia não esteja madura para ser aplicada no cotidiano do varejo. Muito pelo contrário: ela já vem mudando os processos de negócios das empresas, por meio dos algoritmos usados em soluções de previsão de demanda, relacionamento com os consumidores, distribuição e (com a IA Generativa) atendimento ao cliente.
É questão de (pouco) tempo
Não se engane: com o movimento acelerado que temos visto no varejo global, é questão de pouco tempo para que a IA se torne mainstream, tão presente no dia a dia dos profissionais de varejo quanto a compra de mídia ou a negociação de produtos. Da mesma forma como a internet deixou de ser um diferencial para se tornar parte do cotidiano das empresas (e abriu outras possibilidades de interação com os clientes e novos modelos de negócios), a Inteligência Artificial irá transformar os negócios.
Inevitavelmente, a IA se tornará cada vez mais potente, mas é importante deixar de lado os receios de que ela se torne uma “Skynet que irá destruir a Humanidade”. As preocupações éticas já estão presentes e, embora existam aplicações da tecnologia para o mal (deep fakes e ciberataques farão parte do cotidiano, infelizmente), precisamos avaliar como a IA pode ser positiva para aproveitarmos seus benefícios.
Esse momento de experimentação exige olhos abertos. Muito abertos. Para testar, se espantar, aprender, questionar, descobrir, se aprofundar, expandir os horizontes. Mesmo quem está mais avançado ainda está no início dessa jornada – e quem entender primeiro como aproveitar bem a evolução da tecnologia irá criar vantagens competitivas de longo prazo.
Mas não encare este momento sem um enorme senso de urgência. Afinal de contas, a IA é uma tecnologia exponencial. Em pouco tempo, ela dobra ou quadruplica sua capacidade de geração de insights e de transformação dos negócios. Ficar para trás se torna um grande risco, pois os líderes podem abrir um gap impossível de alcançar. Por isso, quanto antes você se movimentar, melhor – e se a concorrência estiver meio parada, melhor ainda: não tenha medo de mergulhar no mundo da IA.
Um roadmap bem compacto
Meu lado professor nunca me abandona, não tem jeito. Por isso, esboço aqui um “mapa” da jornada de IA que todos nós precisaremos percorrer em nossas empresas. Estas ideias estão, de forma muito mais aprofundada, no meu mais novo livro, “Inteligência Artificial no Varejo”, que está em fase final de preparação – logo estará nas livrarias e, espero, também em suas mãos.
Então vamos ao roadmap bem compacto da IA no varejo:
Destrave seu negócio
É preciso quebrar 7 barreiras que amarram as empresas ao passado e impedem que elas avancem rumo ao futuro. Essas barreiras são as seguintes:
- Confiar somente na intuição e ignorar o poder dos dados;
- Contar com dados desatualizados e ignorar as informações em tempo real;
- Ter uma arquitetura de informação rígida e/ou obsoleta, em vez de aproveitar dados não-estruturados;
- Manter os silos de informação da empresa, que “represam” dados em determinadas áreas;
- Considerar a TI como um centro de custos, e não como uma fonte de oportunidades;
- Não compartilhar dados com parceiros de negócios para gerar mais contexto e tratamento;
- Ficar limitado a processos manuais nas mais diversas áreas do varejo, ignorando o potencial da automatização de tarefas.
O futuro começa hoje
É preciso tomar três grandes cuidados antes mesmo de iniciar sua jornada de Inteligência Artificial no varejo, pois a transformação digital precisará ser aprofundada – e esse, sozinho, já é um tema complexo. Os três cuidados são os seguintes:
- Calibre suas expectativas, para evitar grandes empolgações que possam levar a projeções exageradas (e frustrações tão grandes quanto);
- Avalie e melhore a qualidade dos seus dados, pois a IA é tão poderosa quanto a qualidade das informações que ela analisa;
- Não considere somente a redução de custos na análise dos impactos da IA, pois a tecnologia mudará o trabalho das pessoas e exigirá o reskilling dos times da empresa.
Abrace as 4 novas competências
Competências técnicas não serão essenciais para o sucesso no mundo da IA, pois se a tecnologia cuidará do que é possível de se automatizar, ficará para o ser humano o que foge dos padrões. E isso muda a educação, que tradicionalmente se baseou na formação das pessoas para tarefas específicas.
A partir de agora, será cada vez mais importante ensinar as pessoas a pensar e, especialmente, a dominar estas 4 competências, que considero fundamentais para o sucesso em um futuro “movido a IA”:
- Imaginação, pois o mundo da IA é o mundo das possibilidades infinitas. A imaginação para propor ideias será mais importante que a excelência na execução de processos automatizáveis;
- Expressão, para comunicar bem as ideias e explorar suas possibilidades. Os profissionais precisarão saber comunicar expectativas, visões, sonhos e alternativas;
- Fazer perguntas, pois são elas que geram respostas para os problemas. Quem sabe perguntar e questiona suas próprias perguntas acelera seu aprendizado e encontra soluções mais rapidamente;
- Repertório, pois quem tem uma “biblioteca de conhecimento” evolui mais rápido e consegue encontrar novas perguntas que geram novas respostas.
O caminho para o sucesso do varejo na era da Inteligência Artificial passa pelo preparo de cada um de nós. Precisamos ter mais imaginação, expressão, capacidade de fazer boas perguntas e construção de repertório. Esses mesmos aspectos precisam ser multiplicados nas empresas para gerar mais conhecimento e capacitação. Aproveite as oportunidades e trabalhe a formação de uma nova cultura digital, nos momentos informais de interação, nos rituais do negócio e por meio de processos formais de transmissão de conhecimento.
Mas, acima de tudo, coloque o pé no acelerador e dê mais velocidade à transformação digital do seu negócio. Tudo isso, em conjunto, integrado à sua cultura e à realidade de cada empresa, é o que fará o varejo da Inteligência Artificial ter sucesso. Esta na hora de transformarmos a prioridade da IA em realidade !
*Eduardo Terra é Presidente da SBVC, Conselheiro de Empresas, Escritor e Palestrante
Fonte: LinkedIn