Quem visita o escritório-sede da Petlove, no Centro Empresarial Nações Unidas, um dos principais edifícios comerciais de São Paulo, não imagina que o maior e-commerce de produtos pet do Brasil já esteve à beira da falência. Entre 2005 e 2011, Marcio Waldman, fundador da companhia, enfrentou tempos difíceis. Embora a economia estivesse deslanchando, ainda havia certa descrença em relação ao potencial de vendas pela internet. Somado a isso, a década passada marcou o momento de expansão acelerada de redes físicas, como Cobasi e Pet Center Marginal, hoje Petz. Na mesma época, Waldman encerrava a operação de sua clínica, chamada Petsupermarket, que também dedicava parte de seus 800 metros quadrados de área ao varejo. Enquanto a operação física perdia o fôlego, o site começava a dar sinais de um futuro promissor. “Em 2005, as vendas do nosso e-commerce se equilibraram com as da loja física, que ainda detinha serviços de pet shop, banho e tosa, internação e cirurgias. Além disso, na época, o Pet Center Marginal inaugurou uma loja próxima à minha, com várias promoções. Isso acabou com a minha clientela”, diz Waldman. “Dali em diante, ficamos apenas com o e-commerce. Passamos por dificuldades, mas em 2010 as vendas começaram a melhorar.”
Em 2011, a empresa faturava R$ 4 milhões e contava com sete funcionários, incluindo o próprio Waldman e sua esposa, Sandra. Foi quando representantes da consultoria McKinsey procuraram o empreendedor para apresentar uma proposta dos fundos de investimento Kaszek Ventures, Monashees e Tiger Global. “Eles estavam com uma demanda para encontrar um vertical do segmento pet. Naquela época, era muito mais difícil atrair a atenção de fundos”, diz Waldman. A ideia era transformar a pequena empresa, com receita enxuta, num gigante de escala global. Ele aceitou a sociedade e dividiu a participação da companhia com os fundos. Para explorar o potencial, os novos sócios mudaram a comunicação visual da empresa, que passou a se chamar Petlove.
Também houve investimentos em infraestrutura, desenvolvimento de tecnologia própria, governança corporativa e na área de recursos humanos, para estruturar o que Waldman chama de squads. Hoje, são 380 funcionários divididos entre a sede e os centros de distribuição da empresa, que são localizados em Extrema (MG) e no Recife. A estratégia deu certo. Em 2018, a Petlove teve receita de R$ 215 milhões, cerca de 54 vezes mais do que o faturamento obtido sete anos antes. Para 2019, a meta é crescer 46%, chegando a R$ 315 milhões. O bom desempenho recente chamou a atenção da Tarpon Investimentos, que em fevereiro comprou uma fatia de 54% da companhia, tornando-se sócia ao lado da Kaszek, Monashees e do próprio Waldman – a aquisição por parte da Tarpon envolveu a participação que a Tiger detinha no negócio.
Depois de se firmar como o maior e-commerce de produtos para animais de estimação do Brasil, a Petlove quer mais. A empresa projeta não apenas ser a maior no ambiente digital, mas de todo o segmento no País. “Queremos ser os maiores do mercado pet do Brasil. A nossa meta é faturar R$ 2,5 bilhões em 2024”, diz Waldman. Para executar o ambicioso plano, o executivo pretende investir em startups e em interação com lojas físicas de parceiros.
Um exemplo disso é que a companhia acaba de desenvolver um método de entregas e armazenagem por meio de ‘mini-hubs’, que funciona como pequenos centros que distribuem os pedidos realizados pela internet. O primeiro ponto inaugurado fica na Avenida Bandeirantes, em São Paulo. A ideia é replicar o modelo para outras capitais do País. “Com isso, conseguimos fazer a entrega por motoboy em até duas horas para a capital de São Paulo”, diz Waldman. “Começamos há cerca de quatro meses. Já estamos entregando quase 80% dos pedidos em uma hora e meia.” A Cobasi, principal rival da empresa no âmbito virtual, também opera por esse método. Já são mais de 30 ‘mini-hubs’.
ECOSSISTEMA Recentemente, muitas startups têm surgido nesse mercado. Alguns dos exemplos mais notórios são a Pet Driver – conhecida como Uber dos animais –, a empresa de entregas Zee.Now e a varejista PetBamboo. A Petlove não quer ficar fora disso. Ela acaba de adquirir a plataforma Vet Smart, um aplicativo móvel que auxilia veterinários e estudantes com dicas para a prescrição, divulgação de novos produtos e medicamentos. Segundo Waldman, mais de 170 mil veterinários utilizam a plataforma. A empresa quer, com isso, criar um ecossistema que cubra toda a cadeia. “Nós vamos injetar um capital para desenvolver a companhia. Criaremos novas ferramentas para que o veterinário consiga prescrever melhor e usar essa plataforma que a Petlove quer construir com os veterinários e as lojas físicas do Brasil”, diz Waldman. Os valores envolvidos na transação não foram revelados.
Para Maria Alice Narloch, analista da consultoria Euromonitor, o grande segredo para o sucesso da Petlove foi investir em um programa de fidelidade que oferece descontos para produtos de alta recorrência, algo que dá resultado e que a concorrência também passou a oferecer. “É muito mais fácil você prever o que o seu animal vai consumir do que o seu próprio consumo. Normalmente, você já tem o tipo de ração e sabe a quantidade que ele come por mês”, diz Narloch. “Por meio de um trabalho de machine learning, também é possível mapear de forma mais exata a jornada desse consumidor no site. Isso é algo que tem feito com que e-commerces, como Petlove e Cobasi, cresçam cada vez mais.”
Fonte: IstoÉ Dinheiro