Enquanto espera uma recuperação mais vigorosa da economia brasileira em 2020, o grupo Herval, de Dois Irmãos (RS), amplia e planeja uma reorganização das operações no mercado interno e investe para aumentar as exportações. A estratégia envolve os negócios nos segmentos de varejo, indústria e serviços, afirma o presidente Agnelo Seger, representante da família que neste ano aumentou de 72% para 96% a participação no controle da empresa, depois de adquirir os 24% que pertenciam à família Grings. Os 4% restantes estão nas mãos da família Knorst. Todas são da mesma região.
Com 60 anos completados no dia 1º deste mês, a Herval é dona da iPlace, revendedora de produtos Apple com 138 pontos de venda em 26 Estados, e da taQi, varejista multimarcas de materiais de construção, ferramentas, eletrodomésticos, móveis, bazar e informática com 89 unidades no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Também fabrica móveis de madeira e estofados, colchões e produtos químicos em Dois Irmãos e Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, e Bezerros, em Pernambuco, e controla uma financeira, uma corretora de seguros, uma administradora de consórcios e uma construtora.
Conforme Seger, o grupo deve obter receita bruta entre R$ 3,2 bilhões e R$ 3,4 bilhões neste ano, ante R$ 3,1 bilhões em 2018. Como aproximadamente 65% do faturamento vem do varejo, o número preciso dependerá das vendas de fim de ano das duas redes de lojas, diz o empresário.
Móveis de madeira, colchões e materiais de construção são os segmentos com melhor desempenho até aqui, mas ele lamenta a recuperação “tão lenta” da economia brasileira ao longo de 2019 e espera uma reação mais forte do mercado para as vendas da empresa crescerem “dois dígitos” em 2020.
No varejo, os planos da Herval incluem a abertura de sete novas lojas iPlace neste último trimestre, para aproveitar a esperada alta na demanda de fim de ano com os lançamentos programados pela Apple para o período. As unidades serão abertas no Recife, em Goiânia, Salvador, Vitória e no Rio de Janeiro, exigirão um aporte total de R$ 20 milhões e vão empregar 150 pessoas. Já a taQi não terá novos pontos em 2019 porque está em fase de revisão do portfólio de produtos e do ritmo de expansão. “Temos que avaliar o ‘timming’ correto”, afirma Seger.
O empresário não revelou o total de investimentos realizados pelo grupo neste ano, mas além das novas lojas eles cobrem a redução de “gargalos” produtivos nas fábricas com a aquisição de novas máquinas e equipamentos. Incluem ainda novas tecnologias e sistemas, tanto para as operações de comércio eletrônico, que respondem por cerca de 15% das vendas das duas redes de varejo, quanto para o lançamento de um banco digital, programado para novembro.
O novo negócio será vinculado à controlada HS Financeira e, sozinho, receberá inicialmente R$ 20 milhões em investimentos, informa o presidente, que ainda mantém em segredo a marca da futura instituição. De acordo com ele, o banco vai oferecer serviços como empréstimos, pagamentos e transferências e, no futuro, o portfólio será ampliado com a venda de seguros. Outro plano com a nova estrutura é aumentar a base atual de 300 mil cartões HS Card emitidos pela financeira, que passarão a ter a bandeira Visa e vão oferecer “vantagens e facilidades” nas compras nas redes do grupo.
No setor industrial, a Herval estuda a abertura de mais uma fábrica de colchões e móveis estofados, desta vez na região Sudeste, para reduzir os custos logísticos no atendimento ao principal centro consumidor do país. O grupo não fixou uma data para tomar uma decisão a respeito, mas está avaliando a disponibilidade de locais para a possível operação e cogita até uma eventual redistribuição da produção, com a transferência de parte das linhas do Rio Grande do Sul para a região.
Segundo Seger, com a economia fraca as plantas atuais operam com uma ociosidade média de 30%, ao mesmo tempo em que falta mão de obra disponível em Dois Irmãos. Dos 7 mil funcionários do grupo, 2,8 mil estão na pequena cidade de 32 mil habitantes, a 50 quilômetros de Porto Alegre. Por enquanto não há uma previsão de quanto seria necessário investir na nova fábrica, mas o empresário cita como exemplo os R$ 100 milhões aplicados na construção da unidade em Pernambuco, inaugurada em 2015.
No mercado externo, a empresa acabou de inaugurar um centro de distribuição em Miami para ampliar as exportações para os Estados Unidos, com foco na linha “premium” de móveis Uultis (desejo, em latim), lançada há dois anos. As vendas externas da Herval alcançam 30 países, incluindo América Latina, EUA e Canadá, e respondem por 6% a 7% do faturamento no segmento industrial, mas a partir da implantação do centro de distribuição a ideia é chegar a uma participação de dois dígitos nos próximos anos, diz o presidente.
“Vemos uma oportunidade muito boa, porque com a briga comercial entre Estados Unidos e China os americanos estão buscando novos fornecedores de móveis”, afirma Seger. De acordo com ele, o centro de distribuição permitirá a pronta entrega de produtos no mercado local e servirá como base para importação de insumos e matérias-primas. O investimento inicial na Herval Corporation, como é chamada a operação, foi de cerca de US$ 1 milhão, pois a estrutura é alugada e pode ser ampliada se a demanda exigir.