Indiferente à turbulência política, mas com menos expectativas do que tinha há nove anos, quando desembarcou no Brasil, a francesa Hermès poderá, em vez de inaugurar uma quarta loja física por aqui, investir na abertura da venda on-line.
“Ainda não existe um projeto imediato para isso, mas é possível”, informou o vice-presidente executivo de vendas da grife, Florian Craen, que na semana passada visitou São Paulo.
Atualmente, a marca tem três lojas no país – em Ipanema, no Rio, e nos shoppings Cidade Jardim e Iguatemi, em São Paulo. “Temos aqui uma presença modesta. O Brasil é um mercado que começa a se abrir para nós. Estamos no começo de uma história e ainda vivemos um momento emergente”, diz o executivo, percorrendo a exposição Leather Forever, que já passou por sete países e foi inaugurada pela Hermès na sexta-feira, no Iguatemi.
A mostra, para a qual se espera uma visitação de 20 mil pessoas, vai até dia 22. Trata da importância do couro na história da marca – material responsável por mais de 50% do faturamento da companhia. A Hermès, que está no seu terceiro século, começou produzindo selas antes de entrar no mercado de roupas e acessórios.
Além das lojas com vitrines que ditam tendências, a empresa tem se beneficiado do comércio on-line, que já existe em 30 países, dos mais de 40 onde está presente. “Hoje, a presença digital não é apenas uma forma de comércio, mas uma maneira de falar com a clientela. E os clientes não são parecidos em todos os países”, diz Craen.
“Não há uma receita. No Brasil, por exemplo, a clientela masculina é mais significativa. O importante é manter nossa identidade”, disse, para frisar os valores de uma marca que gosta de ser reconhecida pela discrição.
A grande aposta no Brasil agora é a loja do Iguatemi, aberta em julho do ano passado. A companhia espera, com maior visibilidade, inverter sua contabilidade com os brasileiros que ainda compram mais no exterior do que aqui. A companhia tem uma rede de 304 lojas em cerca de 40 países.
A relação com o Brasil é muito antiga, lembra Craen. O país é tradicional fornecedor de casulos de seda para a produção de lenços da Hermès.
De terno de risca de giz e gravata de seda, o executivo diz que a gravata hoje é uma escolha de elegância e não mais uma obrigatoriedade, como era quando entrou na empresa há 21 anos. “Antes a gravata era um uniforme. Deixou de ser mesmo em ocasiões mais formais. O mundo está mais amplo na latitude e na longitude”.
Ele também conta que quando começou a trabalhar para a marca, não se vendiam bolsas “Birkin”, uma coqueluche internacional que custa a partir de R$ 35 mil, segundo estimativas do mercado – a empresa não confirma o preço. Ela é produzida por encomenda e pode levar até dois anos para ficar pronta.
A receita global da grife mais seleta do mercado de luxo foi de EUR 5,5 bilhões no ano passado, um crescimento de 8,6% em relação a 2016. O lucro líquido, de EUR 1,2 bilhão, aumentou 11%. A rentabilidade operacional, de 34,6% das vendas, atingiu seu maior nível. Os mercados mais importantes são França, Estados Unidos, Japão e China. Na América Latina, em termos futuros, Brasil e México são os principais, diz Craen, que viveu cinco anos em Xangai e foi “testemunha das transformações de um país que se preparava para entrar no século XXI.”
Fonte: Valor Econômico