A varejista catarinense Havan, do empresário Luciano Hang, pretende abrir 74 lojas em quatro anos e chegar a 200 unidades até o fim de 2022, com maior presença nas regiões Norte e Nordeste. Para sustentar esse crescimento, o empresário planeja dobrar o tamanho do seu centro de distribuição, localizado em Barra Velha (SC), para 200 mil metros quadrados em até três anos.
Desde o início de 2019, a Havan vem comprando terrenos próximos ao centro de distribuição. Só da Electro Aço Altona, fabricante de peças de aço fundido, a varejista adquiriu terrenos que somam 742 mil metros quadrados. Pagou por eles R$ 45,3 milhões, conforme documentos enviados à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela Aço Altona.
“Compramos uma quantidade de terrenos suficiente para atendermos até 500 lojas”, diz Hang. A ampliação será feita em etapas. “Estamos construindo agora mais 30 mil metros quadrados, depois serão mais 40 mil e, por último, os 30 mil restantes.”
A maior parte dos recursos que serão usados para ampliar o centro de distribuição e na construção das lojas sairá do caixa da companhia. Hang também não descarta a contratação de empréstimos com bancos nacionais.
A Havan tem 126 lojas no país, sendo dez no Norte e no Nordeste. O plano é abrir lojas nas capitais dessas duas regiões nos próximos meses. As novas lojas serão abastecidas pelo centro de distribuição de Barra Velha. Centros muito distantes das lojas encarecem a logística e tendem a afetar margens ou elevar o preço final dos produtos, tornado a operação menos competitiva. Por isso, as redes espalham centros em diversas regiões. A Via Varejo, dona de Casas Bahia e Ponto Frio, por exemplo, tem 26 centros de distribuição no país.
Sobre isso, o empresário disse que não pretende abrir centros de distribuição novos, “que irão demandar esforços de gestão e mais custos”, diz. “Prefiro ter um único centro de distribuição e administrar os custos de entrega para outras regiões.”
Hang também pretende crescer no Rio Grande do Sul, Estado que por muito tempo ficou para trás nos planos da Havan. “A burocracia era terrível. Os sindicalistas, por exemplo, não deixavam as lojas abrirem aos domingos e feriados e tive vários embates por causa disso”, diz Hang.
Mas, após as últimas eleições para governador, a relação melhorou. O plano agora é abrir mais dez lojas até o fim de 2019. “Nos próximos anos, esse número deverá chegar a 50”, disse. O custo médio para a abertura de uma loja da Havan é de R$ 15 milhões a R$ 20 milhões.
Em São Paulo, a Havan tem 26 pontos comerciais no interior e no litoral e a expectativa, segundo Hang, é que esse número chegue a 100. Da capital paulista, no entanto, o empresário, por enquanto, “passa longe”. “Cidades complicadas, com muita demora para conseguir licenças a gente corre longe”, afirmou. Em São Paulo, os custos também tendem a ser mais altos do que em cidades menores e a concorrência, mais acirrada.
Além das lojas de departamento, Hang é dono de postos de gasolinas, pequenas hidrelétricas e uma administradora de imóveis. Mas o varejo é seu maior negócio, responsável por 95% do faturamento. Em 2018, a receita bruta do grupo foi de R$ 7,3 bilhões, diz Hang, que espera um crescimento expressivo, de 65%, neste ano, para R$ 12 bilhões. O lucro que, segundo ele, foi de R$ 820 milhões no ano passado pode chegar a R$ 1,4 bilhão. A empresa, de capital fechado, não divulga balanço.
As estimativas são ambiciosas para um ano em que a economia patina. Segundo Hang, o crescimento deve ser baseado no uso da capacidade de lojas abertas entre 2014 e 2015. Quando o consumo cai em períodos de crise, o prazo de retorno de lojas recém-inauguradas tende a crescer. O empresário diz que essas unidades deram sinais de melhora desde meados de 2018. No geral, as vendas da Havan aumentaram 65% nos quatro primeiros meses do ano, afirma.
No ranking mais recente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), de 2017, a Havan aparece na 24ª posição entre as 300 maiores empresas do setor, com faturamento de R$ 5 bilhões e 100 lojas. Em relação a 2016, a receita cresceu 30,9% — o segundo maior avanço daquele ano entre todas as varejistas.
Entre as redes de lojas de departamento e artigos do lar, a Havan ficou atrás apenas da Lojas Americanas, que faturou R$ 21,34 bilhões, com 1.306 lojas, segundo a SBVC. No ano passado, essa varejista, com sede no Rio, faturou R$ 20,84 bilhões e teve lucro de R$ 380,5 milhões, 60% mais que os R$ 237,6 milhões registrados um ano antes, segundo as demonstrações financeiras padronizadas.
Hang, que antes era avesso a aparições públicas, tornou-se conhecido pela participação na campanha de Jair Bolsonaro à presidência, com informações circulando no mercado na época de que ele poderia ser o vice na chapa presidencial. Até 2016, pouca gente sabia quem era o dono da rede fundada em 1986 em Brusque (SC).
O empresário é ativo nas redes sociais, onde acumula 4 milhões de seguidores, defendendo pautas do governo e atacando o PT e “os comunistas”. O ativismo político causa polêmica, mas ele encara as críticas com bom humor.
Fica sério quando fala da possibilidade de reformas como a da Previdência não serem aprovadas no Congresso. “Eu acredito nas mudanças que vão ocorrer no Brasil a partir da reforma da Previdência e estou acelerando os negócios baseado nisso”, afirma. “Se eu notar que as reformas não serão feitas eu vou ser o primeiro a frear, dar marcha-aré e me resguardar. Eu com certeza interromperia meu plano de investimento.”
A maior parte das lojas da Havan tem entre 5 mil e 16 mil metros quadrados, onde são vendidos produtos diversos, de travesseiros a roupas de bebê, máquinas de lavar e smartphones.
Algumas unidades, como a de Barra Velha, têm 35 mil metros quadrados, e contam com outras estruturas, como salas de cinema — que geram receita com a locação do espaço.
Com exceção das unidades em shopping centers, quase todas adotam a mesma arquitetura peculiar. As fachadas lembram a Casa Branca, o que é explicado pela paixão de Hang pela cultura americana. Na frente de quase todas há uma réplica da Estátua da Liberdade.
Mesmo com os planos de crescimento e a expectativa de melhora da economia, o empresário descarta a possibilidade de levar a Havan para a bolsa de valores. “A chance [de abrir o capital] é zero. Minha empresa é de um dono só. Não consigo estar amarrado”, afirma, categórico.nbsp;
Fonte: Valor Econômico