Por Rodrigo Loureiro | Bem antes de fundar a rede de comida árabe Habib’s, Alberto Saraiva, então estudante de medicina, se aventurou em uma série de negócios. “Eu cheguei a abrir mais de 4 mil discos de pizza”, conta ao NeoFeed, ao relembrar os tempos em que operava a Casa da Pizza Rodízio, em Guarulhos, ainda na década de 1970.
Quase cinco décadas se passaram até que Saraiva voltasse a trabalhar com uma operação totalmente dedicada a pizzas. No fim de maio, o empresário tirou do forno duas novas marcas: a Cabulosa (de pizzas) e a Mita (de marmitas). Ambas funcionam exclusivamente por delivery e usam as estruturas das lojas de Habib’s e Ragazzo.
Em dois meses, a Mita está em 27 unidades e a Cabulosa, em 13. Agora, a meta de Saraiva é, pelo menos, dobrar o número de unidades de cada marca digital até o fim deste ano. Por ora, o plano está concentrado em São Paulo. Para abrir as primeiras unidades e desenvolver as marcas, o CEO do Habib’s diz que investiu R$ 10 milhões.
Saraiva não descarta continuar investindo nessa expansão, mas afirma que o processo passa a ser de adaptação das lojas do Habib’s ou do Ragazzo. Para que elas passem a atender essas operações digitais, o valor fica entre R$ 50 mil e R$ 60 mil por loja. Esse número é somado aos custos de contratação de profissionais e outras despesas.
Mesmo recentes, as operações já vêm gerando resultados para a companhia. A Mita, por exemplo, está crescendo a uma velocidade 50% acima do esperado. A expectativa é de que menos de 20 unidades estivessem em funcionamento neste momento. Em relação à Cabulosa, a operação tem menos unidades, mas a expectativa também é de dobrar o número de unidades para 2023.
O preço, que se tornou uma marca registrada dos negócios de Saraiva, talvez explique por que as marmitas estão neste primeiro momento em um ritmo mais acelerado do que as pizzas. Cada refeição da Mita custa a partir de R$ 19,90 no iFood. Já uma pizza da Cabulosa não sai por menos de R$ 54,90 no aplicativo.
Mais marcas não estão descartadas por Saraiva, mas ele quer consolidar suas novas criações. Para o empresário, o que facilita essa incursão em diferentes negócios é a experiência do Habib’s em oferecer um cardápio diverso dentro da rede. O menu, inclusive, deve aumentar nos próximos meses com uma nova linha de pastéis, além de kebabs.
O Habib’s não é a única empresa do ramo de alimentação que está olhando para as marcas digitais. O Giraffas também aposta nessa frente – inclusive com uma concorrente da Mita.
No ano passado, a rede de restaurantes lançou as marcas Saffari, de marmitas, e Storo, de hambúrgueres. Seis meses depois, contudo, interrompeu a operação da segunda. “A Storo encontrou maiores dificuldades de posicionamento”, disse Carlos Guerra, CEO do grupo Giraffas, ao NeoFeed, na época.
Em relação à Saffari, a situação era inversa a da sua concorrente. A operação já contava com 125 unidades em novembro do ano passado e a previsão era aumentar esse número para 310 neste ano. Espaço para isso não faltava. A marca digital explora as lojas da própria rede Giraffas, que contava com 380 unidades até o fim de 2022.
Novas lojas
Ainda que faça um esforço no digital e tenha se beneficiado durante a pandemia de já ter um sistema de delivery em operação, o Habib’s espera que seu crescimento venha mesmo com a operação física. A bola da vez, diz Saraiva, está na expansão da operação dentro de shoppings.
No fim do mês passado, a rede apresentou durante um evento da Associação Brasileira de Franquias um novo modelo de lojas dedicado a shoppings. As novas unidades têm espaços a partir de 50 m² (cerca de um quarto do tamanho de uma loja tradicional) e, pela primeira vez, demandam menos de R$ 1 milhão para a construção.
Com pouco mais de 300 lojas, o Habib’s tem apenas 20% de sua operação dentro de shoppings. Para mudar esse número, o grupo mapeou mais de 400 estabelecimentos comerciais que poderiam receber suas lojas.
A velocidade de ocupação vai depender da demanda dos interessados em adquirir uma franquia da rede. A expectativa é chegar a um total de 350 lojas em 2024. A loja mais barata, de 50 m², custa R$ 950 mil e tem expectativa de faturamento médio mensal na casa de R$ 250 mil.
Já a opção mais parruda dentro dos shoppings conta com 185 m² de espaço e mais 30 m² para mezanino. O investimento necessário é de R$ 1,5 milhão e o faturamento gira em torno de R$ 500 mil por mês. Em ambas, o prazo de retorno do investimento fica entre 24 meses e 36 meses.
Em até seis anos, a projeção do Habib’s é que a frente de shoppings represente 40% da receita da companhia. No ano passado, a companhia faturou R$ 2,7 bilhões com sua operação. A previsão para crescimento neste ano é chegar a R$ 2,9 bilhões, uma expansão de, aproximadamente, 6%.
De acordo com Saraiva, a companhia ainda está distante do patamar de 2019, ano em que o empresário diz ter “saudades de olhar os gráficos”, mas espera que os resultados de 2024 sejam melhores. “A economia está indo bem. E quando a economia vai bem, os negócios vão bem”, diz ele.
A postura de Saraiva chama a atenção porque o empresário era um dos apoiadores do candidato Jair Bolsonaro à reeleição. Questionado pelo NeoFeed se houve alguma retaliação dos consumidores por conta do apoio do candidato, ele diz que não. Ainda assim, em entrevista recente ao UOL, Saraiva afirmou que não apoiaria o político novamente.
Fonte: Neofeed