Quem foi que disse que santo de casa não faz milagre? Em fevereiro de 2015, a Gucci surpreendeu o mundo da moda ao substituir a estilista Frida Giannini, que durante uma década comandou a grife italiana, por um assistente dela, o até então desconhecido Alessandro Michele. Enquanto as passarelas da concorrência mostravam roupas minimalistas e cotidianas, ele apresentou coleções extravagantes, totalmente espalhafatosas, cheias de bordados e lantejoulas, que Michele recomenda serem usadas tanto por homens quanto mulheres, a chamada moda sem gênero.
Dois anos depois, a aposta arriscada se fez pagar: somente no primeiro trimestre de 2017, a Gucci apresentou um crescimento explosivo de 48% em suas vendas, mais que o triplo da líder mundial do mercado de roupas e acessórios de luxo, a Louis Vuitton. O anúncio do resultado, na semana passada, fez com que as ações do grupo Kering, dono da Gucci, subissem 10%.
Some-se a isso um investimento pesado na reformulação da imagem da marca (a última campanha só teve modelos negros), nas contas da marca nas redes sociais e em seu e-commerce. Uma parceria com a gigante do varejo eletrônico Farfetch vai criar mecanismos em dez cidades no próximo semestre para que nenhuma cliente espere mais do que 90 minutos para receber suas compras em casa. E Deus sabe como as clientes de hoje não sabem mais esperar…
Para celebrar o feito, Michele, de 45 anos, escolheu a cidade de Florença, onde a marca foi fundada em 1921, como cenário do desfile de sua coleção cruise, que chega às lojas de todo o mundo – inclusive às seis no Brasil – a partir de novembro.
A passarela foi montada na galeria palatina do Palácio Pitti, uma joia do renascimento cujos jardins serão restaurados graças a uma generosa doação de R$ 8 milhões da Gucci.
Em meio a obras dos mestres Rafael, Ticiano e Caravaggio, celebridades como os cantores Elton John e Beth Ditto e os atores de Hollywood Jared Leto e Kristen Dunst conferiram os 113 looks, que incluíam jaquetas militares ultrabordadas, vestidos de seda em cores chamativas e motivos florais usados com suéteres compridos, um casaco de pele com a logomarca de grife aplicada, meias de lurex e muitos babados e pérolas desfilados por modelos com jeito de gente comum.
“Pensei na Itália renascentista, que se parece com Los Angeles”, disparou o estilista, para espanto geral. Ele se referia à efervescência cultural e fashion que a cidade americana vem protagonizando nos últimos dois anos.
E o que o Renascimento italiano tem a ver com a moda agênero da Gucci? Basta lembrar-se dos homens do século XV que se ofereciam para posar para os artistas da época, uma atitude que, até então, era atribuída às prostitutas fiorentinas. Ou das grandes famílias de banqueiros mecenas que encomendavam obras a Michelangelo e seus colegas sem restrições de criatividade ou orçamento.
O mesmo que o empresário francês François-Henri Pinault anda fazendo com seu novo queridinho, que lhe devolve, assim como à clientela ávida por novidades, grandes alegrias.
Fonte: Época