Por Maria de Chiara | Dono das redes Guaibim, de móveis e eletrodomésticos, e da Casa + Fácil, de materiais de construção, o Grupo Ramiro Campelo, que se apresenta no seu site com um “DNA 100% baiano”, avalia ser um varejista ainda mais regional. Isto é, o grupo quer ter presença em cidades menores, onde as grandes concorrentes não estão.
O regionalismo é uma marca do varejo brasileiro. Quase a metade (46%) das 300 maiores empresas em faturamento do País — ou 139 companhias —, operam em apenas um Estado. Nesta série de reportagens, o Estadão irá apresentar as empresas que vêm se destacando em suas regiões. São redes varejistas muito fortes localmente e que têm como um dos seus grandes ativos conhecer as preferências do consumidor. Muitas vendem até mais de R$ 1 bilhão por ano.
A Guaibim começou em 1972, na cidade de Valença, no litoral Sul da Bahia, onde o empreendedor Ramiro José Campelo Queiroz, abriu a primeira loja chamada Casa do Fazendeiro. Lá eram vendidos, produtos para agricultura, pesca e itens náuticos.
Com o tempo, o negócio virou um comércio de materiais de construção. E, em 1982, com uma nova bandeira, o empresário ingressou no segmento de móveis e eletrodomésticos.
”Penso em voltar às minhas origens, ter lojas da Guaibim em cidades com 50 mil a 100 mil habitantes (como em Valença), do que abrir em Salvador (BA)”, diz Ramiro Queiroz Júnior. Ele ressalta que essa estratégia ganha força, especialmente em momentos como atual, que não é tão favorável ao varejo de eletromóveis e materiais de construção. O empresário é filho do fundador e hoje divide a direção do Grupo com irmão e sócio Marcio Queiroz.
No resgate dessa estratégia, Ramiro Júnior lembra que a empresa cresceu em cidades menores, onde a concorrência é menos acirrada, o custo de locação é menor e a proximidade com o consumidor é maior.
Aliás, essa baianidade no atendimento, ressaltada no site da companhia e que se traduz na maior proximidade do consumidor, é tida pelo empresário como um dos diferenciais da varejista. Isso porque os produtos vendidos — TV, tijolo, geladeira, por exemplo — são basicamente os mesmos da concorrência.
Outro diferencial da varejista regional é a entrega. Ele lembra que em alguns casos as mercadorias vão de barco até a casa do cliente. A rapidez na entrega da compra é outro ponto importante, especialmente no mercado de consumo popular. “O consumidor de baixa renda não tem paciência para esperar, se tiver o produto na loja, ele leva na hora”, diz o diretor.
Devagar e sempre
Os irmãos Queiroz assumiram a direção do negócio em 1990, com a saída do pai do comando do Grupo. De 1991 a 2003 abriram apenas mais uma loja em Ituberá (BA), cidade vizinha de Valença. Em Valença já havia uma unidade da Guaibim e outra da Casa + Fácil.
A partir de 2003, com o boom do consumo popular e do crediário, a varejista, até então com três pontos de venda, acelerou a expansão para um raio de 400 quilômetros dos dois centros de distribuição situados em Valença.
Chegou com lojas à Região Metropolitana de Salvador em 2008 e à capital baiana em 2011, inclusive com a sede do Grupo. Com recessão a partir de 2015, o impulso do consumo popular esfriou e a varejista redobrou cautela.
Hoje as margens no varejo estão comprimidas, diz Ramiro Júnior, o que é um grande problema, sobretudo, para as grandes redes que usam capital de terceiros. Ele ressalva que esse não é o seu caso. “Sempre fomos muito conservadores: nunca tivemos crescimento alavancado por meio de endividamento.”
Apesar de trabalhar com capital próprio, faz dois anos que o Grupo não abre lojas. Também nesse período fechou duas unidades da Casa+ Fácil, em Salvador, que não desempenhavam bem. Encerrou o ano passado com 81 pontos de venda em 36 cidades. São 49 lojas de eletroeletrônicos, 17 de materiais de construção e 15 quiosques da Motorola, operados pela empresa.
A estratégia defensiva, de jogar parado, sem expandir pontos de venda, e tentando conquistar fatias de mercado deixadas pela concorrência, garantiu o faturamento no ano passado de R$ 584 milhões. Para este ano, a perspectiva é avançar 10%, em média. Esse crescimento deve ser puxado pelas vendas de eletroeletrônicos e móveis.
Para 2024, a companhia não descarta a possibilidade de voltar a abrir lojas. No entanto, existem obstáculos, como o elevado valor de locação de pontos em cidades menores que têm apenas poucas ruas comércio. “Para abrir um ponto de venda hoje tem que fazer muita conta”, diz o empresário.
Também a possibilidade de expandir a rede para outros Estados está fora de cogitação por causa do desafio logístico. “Com a exigência cada vez maior de entregas mais rápidas, uma loja não pode estar a mais de mil quilômetros de distância do centro de distribuição.”
Fonte: Estadão