O Grupo de Moda Soma precificou seu IPO no meio da faixa de preço, levantando R$ 1,8 bilhão numa oferta que traz para a Bolsa uma empresa com ambições de consolidar o varejo especializado focado no público A e B.
A companhia — dona das marcas Farm, Animale e Maria Filó — vendeu as ações a R$ 9,90 numa oferta 100% primária, e estreia na B3 com um valor de mercado de R$ 4,4 bilhões. As maiores alocações foram Opportunity, Atmos, Constellation, GIC (o fundo soberano de Singapura) e VELT Partners, nesta ordem.
A faixa de preço ia de R$ 8,80 a R$ 11, e o hot issue foi colocado.
A oferta, 100% primária, será seguida de um dividendo a ser pago aos acionistas que estavam na companhia antes da oferta, numa espécie de oferta secundária disfarçada.
“A Farm é uma marca tão forte que já construiu uma loja em Ipanema sem sequer ter vitrine,” diz um gestor que participou da oferta. “A loja foi toda construída no subsolo.” Segundo este investidor, a Soma conseguiu protagonismo no mercado de moda “sem ter nem uma loja no Barra Shopping ou no Morumbi Shopping. Isso não é para qualquer um.”
A história do grupo começou quando a Animale, controlada por Roberto Jatahy e sua irmã, comprou a Farm, criada por Marcello Bastos e Kátia Barros. Mais tarde, o grupo comprou as marcas Foxton, Cris Barros e Maria Filó, uma transação anunciada em dezembro e concluída em maio.
O sucesso do IPO atesta a capacidade do Rio de Janeiro de continuar produzindo marcas de moda com alma — e capazes de se tornar negócios de escala. Todas as marcas do grupo, com a exceção da Cris Barros, são cariocas.
A Soma triunfou num mercado que já levou à recuperação judicial ou extrajudicial companhias como a Restoque — dona da Le Lis Blanc, Bo.Bô e John John — e a Inbrands, dona da Richards, Ellus e VR.
A digitalização do varejo trazida pela pandemia pegou muitos varejistas despreparados, mas a Soma conseguiu surfar a explosão do ecommerce porque já estava executando uma estratégia omnichannel robusta.
Nos últimos anos, a companhia investiu pesado na contratação de engenheiros e criação de sistemas, chegando a montar uma divisão de inovação digital, o Soma Labs. Agora, os recursos do IPO devem ser usados em aquisições oportunistas de marcas que podem ser plugadas neste backbone digital.
Gestores que estudaram a companhia descreveram Jatahy, o CEO da empresa, como um gestor consistente e disciplinado que transita e dialoga bem com a parte criativa do negócio.
As duas marcas principais do grupo já passaram pela transição difícil e perigosa da estilista fundadora para uma equipe profissional. Claudia Jatahy e Katia Barros, respectivamente criadoras da Animale e Farm, ainda participam da concepção das marcas mas não estão no dia a dia.
A companhia tem 282 lojas, sendo 257 próprias e 25 franquias, mas seu ponto forte é a multicanalidade.
Há cinco anos, a Soma criou o ‘código vendedor’, para que os vendedores das lojas físicas estimulem a venda online por meio da divulgação de um código promocional individualizado, sendo comissionados como na venda em loja física.
Por meio do código vendedor, também chamado de ‘social selling’, os ‘influencers’ fazem vendas pelo Instagram, capilarizando a presença das marcas em todo o País. No roadshow, o relato de uma influencer que ganha R$ 30 mil por mês em comissões de vendas atiçou os investidores. Quase 12% do faturamento da Soma vieram do social selling no ano passado.
Um risco do negócio: boa parte do faturamento está sujeita à Lei da Moda, uma lei de incentivo fiscal que reduz o ICMS da companhia no Estado do Rio.
Os coordenadores da oferta foram Itaú (líder), XP Investimentos, Bank of America-Merrill Lynch e JP Morgan.
Pinheiro Neto Advogados assessorou a companhia.
Fonte: Brazil Journal