Um dos maiores grupos empresariais de Portugal, o Sonae, dono de redes de varejo em países da Europa, e da empresa de telefonia lusitana Nos, mira no Brasil, apesar da crise econômica que assola o país. Em entrevista ao GLOBO, Paulo Azevedo, presidente do grupo e filho do fundador da companhia, revela que pretende investir em shopping centers nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Afirma, ainda, que a companhia está de olho no setor de tecnologia, onde pretende fazer aquisições. O Sonae, com volume de negócios superior a € 1,215 bilhão, é dono de nove empresas do ramo, como Wedo, Saphety e tlantic, que já operam no Brasil.
A Sonae está em fase de crescimento hoje?
A recuperação econômica da Europa ajuda nesse processo. Passamos os últimos cinco anos com a crise que houve no sul da Europa, onde estamos com exposição grande em países como Portugal, Espanha e Itália. Passamos esses últimos anos ganhando solidez e tratando de nosso balanço. E hoje temos força para voltar a ser uma empresa de investimento.
Como o senhor analisa o crescimento da Europa e a recessão no Brasil?
O crescimento na Europa não é brilhante. Mas é algum crescimento. E já houve recuperação interessante de Portugal e Espanha em 2015 e 2014. E este ano a Espanha continua muito bem. Então, não estamos pessimistas. A dificuldade para nós, agora, é o Brasil, onde estamos na área de centros comerciais (shoppings). E temos a certeza de que vai ser difícil desenvolver novos centros nos próximos tempos. E esse era um objetivo grande nosso. Queríamos crescer no Brasil. Temos uma empresa com dimensão. E agora precisava ser maior. E, com a queda no consumo e a falta de capacidade de investimento dos lojistas, vamos passar por um período de pausa no crescimento.
Houve projetos suspensos no Brasil?
Nós deixamos de fazer novos desenvolvimentos há um ano e meio. Terminamos o que estava sendo feito. Mas continuamos a olhar para projetos maiores, que demoram muito tempo (para maturar), confiantes de que, em alguns anos, haverá oportunidades. Mas não sei quando o Brasil vai retomar o crescimento.
Quais são esses projetos?
Temos centros comerciais muito interessantes no Brasil, mas não temos grandes centros nem na cidade do Rio de Janeiro nem em São Paulo. E achamos importante ter centros nessas cidades. Portanto, gostaríamos de ter mais shopping centers. Temos grandes projetos no Estado de São Paulo. (Hoje, são dez shoppings no Brasil, entre o interior de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Goiás e Amazonas. As vendas dos lojistas nos shoppings totalizaram R$ 1 bilhão no primeiro trimestre deste ano, quase igual ao mesmo período do ano passado).
Esses investimentos vão ocorrer só quando o Brasil se recuperar?
Hoje pode não ser o pior momento para encontrar novos projetos. Estamos cautelosos, mas atentos.
Por que o grupo vem investindo em tecnologia?
Na área de tecnologia, temos nove empresas com operações no Brasil. E, em parte dessas companhias, o Brasil é o maior país com a tlantic (em Florianópolis, na área de comércio eletrônico). A tecnologia vai ser cada vez mais importante em todos os negócios, seja em varejo ou telecomunicações. Estamos à procura de investimentos em tecnologias inovadoras que tragam benefícios para esses negócios. E temos investido em geolocalização, para perceber os tráfegos e os fluxos de nossos clientes no varejo. Também estamos investindo em cibersegurança. A WeDo é cada vez mais uma empresa de análise de big data. Vendemos mais produtos e com muitas formas de pagamento. Os cartões dos clientes têm mais informações, e eles fazem mais transações, passando um tempo maior no celular e nos computadores. Portanto, o volume de dados está crescendo brutalmente.
Qual é o plano para acelerar os investimentos na área de tecnologia?
Temos feito três aquisições por ano. E agora vamos duplicar já este ano (a empresa tem um orçamento de € 40 milhões para fazer aquisições este ano). Os mercados de tecnologias são muito globais. Procuramos empresas no mundo inteiro. Se for no Brasil, ótimo. A WeDo já fez compras no Brasil. Temos ainda a tlantic e a Saphety.