Depois de abrir sua primeira loja no exterior em novembro, na rue Bonaparte, 6º arrondissement de Paris, a fabricante de produtos de higiene pessoal Granado pretende inaugurar mais duas unidades fora do Brasil ao longo deste ano. Uma segunda unidade deve ser aberta em Paris e outra, provavelmente, será inaugurada em Portugal.
No mercado doméstico, a empresa soma 59 lojas, sendo 16 em São Paulo e 14 no Rio, onde está sua fábrica. É também no Rio onde Christopher Freeman, presidente e controlador da companhia, enfrenta prejuízos frequentes com mercadoria roubada por quadrilhas especializadas.
As lojas na Europa fazem parte do plano de internacionalização da marca, que completa 150 anos em 2020. A Granado também lançou em novembro um site em francês para vendas on-line aos demais países europeus – em breve, será lançada uma versão em inglês e em português de Portugal. A estratégia é usar a base francesa como espécie um centro de distribuição para exportar os produtos Granado e Phebo, marca adquirida em 2004.
A Granado vem testando a clientela parisiense desde 2013, ainda que de forma tímida. Naquele ano, a rede de supermercados Le Bon Marché convidou cem marcas brasileiras a vender produtos numa loja no Quartier Latin. A Granado participou. Ao fim do evento, foi convidada a manter um quiosque na loja.
A internacionalização é uma etapa recente da reinvenção da Granado conduzida por Freeman, inglês de Newcastle que cruzou o caminho da empresa em 1994. Na época morando no Rio, Freeman foi contratado pela família fundadora da Granado para vender o negócio. Os potenciais compradores, porém, só mostravam interesse por fatias da operação. O inglês, então, tomou coragem. Fez um empréstimo e comprou a companhia por US$ 8 milhões. Isso foi 15 dias antes do Plano Real.
Desde então, ele trabalha para reposicionar as marcas Granado e Phebo, antes associadas a produtos de baixo valor agregado. Explorou o estilo retrô de embalagens e lojas, ampliou presença em eventos e hotéis de alto padrão, lançou linhas de produtos para muito além do famoso polvilho antisséptico e do sabonete de glicerina. Os exemplos mais recentes são as linhas de produtos para bebês e repelentes para mosquitos.
No ano passado, a Granado teve receita líquida de R$ 450 milhões, 12% a mais do que em 2016. Esse aumento foi resultado, sobretudo, da inauguração de dez lojas. São agora 59 unidades, que oferecem 500 diferentes produtos cada. Do total de lojas abertas, quatro foram no Estado de São Paulo, que pela primeira vez superou o Estado do Rio em número de unidades: 16 e 14, respectivamente.
“Abrimos somente uma loja no Rio em 2017. Problemas da Petrobras, da economia local, do pagamento de servidores públicos”, disse Freeman. Ele aproveitou os reflexos negativos da economia fluminense sobre o mercado imobiliário para mudar a sede da empresa do centenário endereço na rua 1º de Março, no Centro, para um torre corporativa no Porto Maravilha. “Por enquanto somos ainda os únicos inquilinos”.
Neste ano, além das unidades no exterior, a Granado planeja abrir mais oito lojas no Brasil. A empresa analisa espaços no Centro-Oeste, Minas Gerais e cidades em que já está presente, como São Paulo. Ele lembra que a crise barateou espaços em shoppings, facilitando a expansão. Ele prevê uma expansão de 15% na receita líquida em comparação ao ano passado, chegando a R$ 515 milhões.
Os investimentos mais recentes foram possíveis com a desalavancagem da empresa. Em novembro de 2016, a Freeman vendeu 35% da empresa ao grupo espanhol Puig, dono de fragrâncias como Carolina Herrera, Paco Rabanne e Jean Paul Gaultier. O valor da operação não foi revelado, mas estima-se algo próximo de R$ 500 milhões. Parte dos recursos foi direcionada para pagamento de dívidas.
“Temos um acordo pelo qual vendemos produtos deles nas farmácias e eles vendem os nossos em perfumarias. Cada um fica com a comissão das vendas. E agora estamos conversando sobre a possibilidade de produzirmos os sabonetes que o grupo vende na Colômbia e no México. Isso exigiria algum investimento em maquinário na fábrica de Japeri, na faixa de R$ 5 milhões a R$ 6 milhões”, disse o executivo.
Os recursos obtidos foram usados para pagamento de debêntures, emitidos para cobrir os custos de construção da fábrica da empresa em Japeri, na região metropolitana do Rio. Os papéis foram emitidos num momento de juros elevados e chegavam a quase 20% ao ano. Segundo Freeman, a unidade custou R$ 400 milhões e entrou em operação em 2014. São atualmente 500 funcionários na unidade, que opera em um turno.
Freeman diz que a empresa tem enfrentado problemas na fábrica. Somente no ano passado 14 caminhões da empresa tiveram produtos roubados. O prejuízo varia de R$ 100 mil a R$ 500 mil. Segundo ele, são quadrilha especializadas. “Duas horas depois do roubo você acha os nossos produtos sendo vendidos na rua, nos vagões de trens”, diz o executivo, que queixou-se da presença de bandidos em comunidades próximas. Ele descarta vender nova fatia da empresa ou seu controle.
Freeman esteve pela primeira vez no Brasil há 40 anos, transferido pelo BankBoston. Casou-se com uma paulista. Sua filha Sissi é diretora de marketing e vendas da Granado e tem uma pequena participação no capital. É a única dos três filhos que trabalha na empresa.
Fonte: Valor Econômico