Empresa fecha este ano com 90 lojas no país e 4 na Europa. A empresa controlada pelo inglês Christopher Freeman cresceu 23% de janeiro a agosto, na comparação com igual período de 2021
Por Paula Martini
Uma das empresas mais antigas do país, a Granado tem planos otimistas para os próximos anos após passar pela pandemia sem apertos. A marca carioca de produtos de cuidados pessoais planeja dobrar a produção até 2030, abrir novas lojas próprias e consolidar a recente presença no exterior. Com faturamento estimado em R$ 1 bilhão em 2022, a empresa controlada pelo inglês Christopher Freeman cresceu 23% de janeiro a agosto, na comparação com igual período de 2021. A receita nesses oito meses, de R$ 590 milhões, foi superior inclusive aos R$ 350 milhões obtidos entre janeiro e agosto de 2019, antes da pandemia.
Criada em 1870 pelo português José Antônio Coxito Granado como uma espécie de farmácia, a empresa foi comprada por Freeman em 1994. Dez anos depois, em 2004, o inglês adquiriu a marca Phebo da Procter & Gamble. Hoje, os tradicionais sabonetes de glicerina da Phebo representam o principal negócio do grupo. Junto com a Phebo, a Granado comercializa cerca de 800 produtos. Além dos sabonetes, outros itens são consolidados no mercado, como o polvilho antisséptico (cujo registro foi aprovado pelo médico Oswaldo Cruz em 1903), e o sabonete líquido infantil, que tem 40% das vendas do segmento. Mais recentemente, a empresa apostou em novos nichos, como perfumes e itens para casa, e lançou uma linha pet.
“O momento é muito positivo. O Brasil é um mercado enorme porque brasileiro toma mais banhos que a média e ainda é um país de sabonete em barra, diferentemente da Europa. Nas fragrâncias também sempre vi um nicho, apesar de ter crescido a concorrência com os estrangeiros”, diz Freeman.
Cerca de 70% da receita da Granado vem das vendas no atacado, onde o setor de beleza e cuidados pessoais é liderado por marcas globais como Palmolive, Dove, Nivea e Lux, segundo dados da Kantar para 2021. O restante corresponde às vendas nas lojas próprias – no Brasil e no exterior – e no site. A configuração permitiu à empresa atravessar a pandemia sem grandes percalços. Em 2020, a Granado esperava crescer 15% e faturar R$ 670 milhões e teve receita de R$ 617 milhões mesmo com as medidas de isolamento social.
“O varejo é uma parte pequena do nosso faturamento. Nesse sentido, fomos beneficiados na pandemia porque não perdemos a fatia de vendas em supermercados e farmácias, que não precisaram fechar”, diz Sissi Freeman, diretora de vendas e marketing.
Ela reconhece que, apesar de crescerem, as vendas pelo site não foram capazes de absorver totalmente as perdas nas lojas durante a pandemia. Hoje as vendas do site são equiparáveis às de quatro lojas físicas. Os itens mais procurados são difusores de ambiente, kits para presente e os perfumes.
“A gente nunca tinha vendido tanto perfume on-line. Geralmente, as pessoas querem sentir o aroma. Mas, nos últimos três meses, o Époque Tropical representou 28% das vendas no site”, diz Sissi.
Lançado no fim de 2021, o perfume esgotou algumas vezes após viralizar nas redes sociais. Uma usuária do TikTok comparou o Époque Tropical a uma fragrância da marca londrina Joe Malone. Sissi garante, aos risos, que o marketing foi espontâneo.
Braço direito do pai, Sissi Freeman é responsável pelo reposicionamento da Granado, ampliando o portfólio sem perder de vista os valores da marca. Desde a inauguração da primeira loja-conceito, em 2006, no centro do Rio, os empresários aumentaram o ritmo gradativamente e vão terminar 2022 com 90 unidades no país, sendo cinco da marca Phebo.
Uma loja nova em Lisboa, prevista para o fim de outubro, não entra no cálculo. A filial portuguesa vai se somar às outras três unidades na Europa, todas em Paris, onde está instalado o centro de distribuição internacional. A empresa também está presente em lojas de departamento na França e Inglaterra e se prepara para chegar à Bélgica. As vendas internacionais ainda são tímidas, representam cerca de 1%, mas a perspectiva de crescimento já influencia o desenvolvimento dos perfumes, principal aposta no mercado externo.
Com grande parte das matérias-primas importadas, a produção sofreu com os lockdowns na China e a guerra na Ucrânia, que elevaram os valores do frete. Pela primeira vez, os preços dos produtos foram reajustados duas vezes no ano: 10% em janeiro e 5% em julho. “Muita coisa que a gente compra é dolarizada. A gente acredita tanto na estratégia internacional porque vê importância em ter receita em moeda estrangeira”, explica Sissi.
Apesar das dificuldades, pai e filha afirmam que a margem de lucro está em 15% e projetam, para 2023, mais de 20%. Contribui para o otimismo o pagamento de uma dívida gerada pela construção da fábrica em Japeri, na Baixada Fluminense, inaugurada em 2015. O investimento estimado entre R$ 400 milhões e R$ 1 bilhão corroeu o lucro da companhia, destinado ao pagamento dos credores. O balanço, segundo Christopher, se “fortaleceu” com a compra de 35% das participações pela Puig, empresa espanhola que detém marcas como Carolina Herrera e Paco Rabanne, em 2016.
Fonte: Valor Econômico