O GPA Alimentar fechou o ano com alta real de 2,7%, alcançando um faturamento de R$ 44,9 bilhões. O aumento foi puxado pelo Assaí, que teve crescimento real de 27,9%. O avanço, contudo, não se traduziu em maior lucratividade. O percentual de lucro líquido caiu 1,2 ponto percentual (pp), alcançando 0,9% da receita líquida. O principal problema foi a queda de 1,4 pp na margem bruta, que alcançou 23% no ano passado. O recuo se deveu à agressividade das ações promocionais implementadas na bandeira Extra, em abril de 2016. Mas, segundo Ronaldo Iabrudi, CEO do GPA, a companhia já encontrou o seu patamar de equilíbrio. “Não esperamos mais pressão sobre as margens”, afirma. Nesta entrevista a SM, ele explica as decisões da empresa e fala sobre os resultados de 2016.
A divisão alimentar fechou o ano com aumento real. Isso se deve apenas ao Assaí?
Sem sombra de dúvida o Assaí foi o negócio de maior destaque do Grupo em 2016. A bandeira chegou a 35% de participação no segmento alimentar, com faturamento de R$ 15,7 bilhões. Mas investimos fortemente em iniciativas de competitividade e em um trabalho de adequação do negócio à realidade do mercado. Tivemos três focos estratégicos prioritários: execução dos fundamentos do negócio, análise estratégica do portfólio de lojas e manutenção da disciplina na gestão financeira. Várias foram as ações realizadas nestas três frentes. Entre elas, o lançamento das novas dinâmicas comerciais do Extra, que levaram à evolução sequencial do negócio ao longo do ano, com uma importante recuperação de volume e fluxo, além de ganho de market share. Promovemos, ainda, análise criteriosa do portfólio, o que levou ao fechamento de pontos deficitários e a priorizar abertura dos modelos de maior retorno e adequados ao entorno: Assaí, Minuto Pão de Açúcar e Aliados (parceria com o pequeno varejo para fornecimento de produtos e consultoria).
O lucro caiu, sobretudo, devido às promoções implementadas no Extra. Apesar da alta em vendas, o esforço promocional compensou?
Chegamos a um patamar de equilíbrio, com margens competitivas. Não esperamos pressões adicionais. Trabalhamos para que o aumento do volume das vendas dilua os custos da companhia, aumentando a rentabilidade no Multivarejo (divisão que reúne Extra e Pão de Açúcar) em 2017. Pretendemos ampliar a margem sendo bem assertivos em nossos investimentos promocionais, com maior eficiência no uso do CRM. Isso trará maior alavancagem operacional e mais vendas quando a economia retomar. Também tornaremos a operação mais enxuta. O aumento do volume de vendas diluirá custos, mas continuaremos a trabalhar nessa linha. Teremos mais funcionários polivalentes nas lojas.
Já o lucro do Assaí subiu 1 pp, amenizando a queda da companhia. Quando as vendas do formato deixarem de dar grandes saltos, a contribuição será menor. Isso atrapalhará a lucratividade da empresa?
Não. Apesar da melhora da lucratividade do Assaí em 2016, observamos que há espaço também para melhoria das margens (EBITDA e líquida), ainda mais porque teremos ganhos provenientes da maturidade das lojas inauguradas, de escala e eficiência. Haverá também outras oportunidades que devemos explorar, como produtos e serviços financeiros. Mesmo em um cenário de retomada do consumo, com a queda das commodities, prevemos uma recuperação dos clientes pessoas jurídicas, além da manutenção do público final. Quando o consumidor aprende a economizar, não abandona esse hábito, mesmo que os indicadores macroeconômicos melhorem. O formato da bandeira Assaí, sobretudo após adaptação das lojas nos últimos anos, caminha para se consolidar como opção de compra econômica para o brasileiro. O modelo de negócios do Assaí oferece margem EBITDA relativamente baixa. Apesar disso, tem retorno muito positivo. Pela natureza do formato, não carrega estoque e o custo financeiro é baixo.
A partir de quando haverá recuperação da margem da companhia?
O GPA está passando por uma recuperação gradativa, especialmente na bandeira Extra. A recuperação de margem pode vir de menores níveis de ruptura e de eficiência nos custos logísticos. Além disso, essa melhora também depende de fatores macroeconômicos, principalmente da diminuição dos níveis de desemprego, queda da inflação e da taxa de juros. Apesar dos indicadores positivos, ainda não vimos a retomada do consumo dentro das nossas lojas. Estamos confiantes, porém cautelosos, em um início de retomada ao longo de 2017. Continuamos focados nos planos que definimos. Mesmo que os resultados não sejam os esperados em um curto prazo mantemos os projetos e as iniciativas desenvolvidas em cada negócio do Grupo.
O segmento de proximidade pode ajudar a alavancar a lucratividade?
Sim, o formato proximidade, com as bandeiras Minuto Pão de Açúcar e Minimercado Extra, encerrou o ano com faturamento líquido superior a R$ 1,1 bilhão e crescimento sustentável das vendas em mesmas lojas acima da inflação e com ganhos de market share. Em 2016, a rentabilidade do negócio foi 2,5 pp superior a 2015, decorrente da melhoria de processos e aumento de escala. Houve aprimoramento na operação logística, redução da quebra e diluição das despesas. A maior seletividade do plano de crescimento prioriza o Minuto Pão de Açúcar, que demonstra melhor retorno de maneira consistente.
Os recursos provenientes da venda da Via Varejo serão empregados em que áreas?
Tomamos a decisão de colocar a Via Varejo à venda durante o planejamento estratégico da companhia. Identificamos um potencial enorme do varejo alimentar, nosso core business. Temos uma presença concentrada na região Sudeste, portanto, ainda há muito espaço para crescer em todo o País. Nossa plataforma multinegócios, de atuação em diferentes formatos, nos oferece um horizonte amplo de atuação. Os recursos a serem levantados na operação serão investidos em ações para consolidar e ampliar participações de mercado do GPA no segmento alimentar. Isso considerando oportunidade de investimentos futuros e perspectivas de crescimento e retorno do consumo nos próximos anos. Também focaremos na reforma e modernização do parque de lojas, em tecnologia e na experiência digital do consumidor em nossas lojas, potencializando o retorno do capital investido.
Fonte: Supermercado Moderno