Por Adriana Mattos | O GPA, dono da rede Pão de Açúcar, já se desfez de boa parte dos ativos principais que estavam em seu plano de venda, implementado para redução de alavancagem. Até existem ativos adicionais para serem negociados, mas o “grande volume já foi”, disse Rafael Russowsky, responsável pela diretoria financeira, em teleconferência com analistas, nesta quarta-feira (6).
Pelo balanço, há mais de R$ 1,6 bilhão a vencer entre um a dois anos, de um total de R$ 2,6 bilhões. Esse número, presente na demonstração de resultados do terceiro trimestre, está no cronograma de vencimentos dos empréstimos e financiamentos incluindo derivativos reconhecidos no ativo e passivo não circulante.
“Outros planos [de venda] de ativos ainda são incipientes e precisam de mais visibilidade”, disse o executivo.
No último um ano e meio, a empresa vendeu propriedades como lojas, postos e a sede da rede, em São Paulo, num total de R$ 1,9 bilhão em operações, e foram mais R$ 700 milhões em oferta de ações, totalizando R$ 2,6 bilhões. Em setembro, a relação entre dívida e Ebitda (que mede lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) estava em 2,9 vezes, versus 8,8 vezes um ano antes. Os 2,9 vezes já incluem recebíveis de cartão.
Redes de varejo não alavancadas têm essa relação em, no máximo, duas vezes. Russowsky, inclusive, citou que empresas lucrativas têm esse indicador em até uma vez e meia — sem afirmar se tratar de projeção.
Sobre essas condições de estrutura de capital, a companhia espera melhora de vendas e ganhos da reestruturação implementação pela atual gestão para melhora dos índices.
O comando buscou reforçar aspectos positivos do balanço durante a conferência, como melhora do resultado final e das vendas em lojas com mais de 12 meses (“mesmas lojas”).
Marcelo Pimentel, presidente da rede, disse que o terceiro trimestre teve “evolução constante e sólidos avanços operacionais”. E que a margem Ebitda ajustada foi a maior desde 2021, em 8,9%.
O caixa líquido operacional aumentou R$ 216 milhões em 12 meses. Além disso, ele afirmou que a reestruturação de Extra Mercado, envolvendo revisão de sortimento e conversão de lojas para a bandeira, termina neste ano.
O GPA ainda informou que soma cinco lojas da marca Pão de Açúcar Fresh — o grupo abriu 12 lojas de todas as suas marcas no trimestre e fechou dez.
Programa “Aliados”
Pelos dados, a venda total do GPA cresce menos no trimestre ao incluir programa “Aliados” na base, formado por lojas de bairro parceiras da empresa. As vendas totais foram de R$ 4,8 bilhões, alta de 1,9%, e excluindo o formato Aliados, alta é de 4,5%.
Lançado há cerca de oito anos, o Aliados ainda não decolou totalmente, na visão de especialistas. Nele, a companhia passa a trabalhar com pequenos e médios comerciantes localizados em regiões mais distantes, e vende seus itens de marca própria para o lojista, que passava a operar com a marca CompreBem, que pertence à rede GPA.
Ainda nesta quarta (6), a empresa foi perguntada sobre vencimento de dívidas de curto prazo, e a direção disse que está em contato com “parceiros financeiros” para tratar de questão de vencimento de dívidas e vendo “alternativas relevantes”, mas não deu mais detalhes ao mercado. Informou que deve prestar informações a respeito em “dias ou semanas”.
No geral, ao se olhar o desempenho do GPA, a empresa passou de um lucro de R$ 805 milhões de julho a setembro do ano passado, favorecido por não recorrentes em 2023, para um prejuízo de R$ 253 milhões (de operações continuadas).
Na teleconferência, a direção tratou de reforçar que o bom desempenho de 2023 veio dos não recorrentes e de créditos fiscais, e que, neste ano, houve grande efeito de contingências trabalhistas com hipermercados Extra (vendidos aos Assaí, mas que são de responsabilidade do GPA) e que levaram ao prejuízo do período.
Fonte: Valor Econômico