Há dois movimentos paralelos e relevantes em andamento hoje. Apesar do interesse do mercado nesses acordos, há cautela em relação a um eventual avanço em todos eles
Por Adriana Mattos
Fatos recentes envolvendo o interesse de empresas em negócios e ativos do setor podem mudar o ambiente concorrencial do mercado de shopping centers no país no curto prazo.
Há dois movimentos paralelos e relevantes em andamento hoje. A Ancar Ivanhoé, uma das maiores operadoras de shopping do Rio de Janeiro, e a BR Malls voltaram a buscar um acordo envolvendo uma fusão de parte dos ativos da primeira junto ao portfólio da segunda.
Isso levaria a Ancar a ter cerca de 25% da BR Malls, como noticiado pelo Valor semanas atrás. As empresas confirmaram as conversas, que continuavam em andamento na semana passada, segundo fontes.
Antes disso, em janeiro, a Aliansce Sonae fez uma proposta de fusão com a BR Malls, mas o conselho de administração rejeitou os termos apresentados.
Ao mesmo tempo, há uma segunda negociação em andamento que pode levar a outras mudanças no controle de certos empreendimentos.
O portfólio de três shoppings da Brookfield está à venda há alguns meses, dizem fontes. Apesar de pequeno, analistas de bancos dizem que ele tem importância estratégica significativa, e “pode mudar a dinâmica competitiva do cenário do shopping”, escreveu dias atrás, em relatório, a equipe do banco Credit Suisse liderada pelo analista Daniel Gasparete.
As conversas para venda incluem as participações da empresa nos shoppings Higienópolis e Pátio Paulista (ambos em São Paulo) e Riosul (no Rio de Janeiro), todos ativos em áreas de alta renda e valor de metro quadrado elevado.
Segundo analistas, a Iguatemi, controlada pela família Jereissati, deve ter interesse nos ativos — a empresa já disse que está aberta a avaliar negócios com esse perfil, sem citar especificamente a Brookfield.
A questão é que os sócios atuais dos empreendimentos têm direito de preferência numa eventual venda de participação de qualquer sócio — e a Iguatemi já poderia exercer esse direito no Higienópolis, já que ela já é sócia no shopping. Mas todos os acionistas podem avaliar esse direito de preferência.
O Higienópolis tem controle bem pulverizado. São duas empresas, Higienópolis 1 e 2, com sócios como administradora de bens, fundos e pessoas físicas. Entre todos os acionistas, a Iguatemi é aquela com maior liquidez para entrar nesse tipo de negociação hoje.
O Credit Suisse estima, considerando todo o valor de mercado dos três empreendimentos, que eles valem R$ 5,7 bilhões. A Brookfield é acionista minoritária.
No Patio Paulista, fontes acreditam que os maiores interessados são Ancar — que já é gestora no empreendimento— Aliansce Sonae e Iguatemi.
Apesar do interesse do mercado nesses acordos, há cautela em relação a um eventual avanço em todos eles — seja o da Ancar com a BR Malls, seja a venda do portfólio da Brookfield.
No primeiro caso, as conversas ainda estavam nos cálculos do valor dos ativos, e os direitos de preferência de outros sócios nos shoppings, para o desenho da operação.
No caso da Brookfield, a companhia já sondou diversas vezes o mercado levantando a hipótese da venda desses empreendimentos, mas as conversas nunca foram concluídas.
Em 2017, a empresa sondou outros grupos para a entrada de um novo investidor em seu fundo de shoppings, cujos ativos principais já eram o Pátio Higienópolis, o Pátio Paulista e o RioSul. Potenciais interessados também incluíam na época Aliansce, Iguatemi, Multiplan e BRMalls.
Fonte: Valor Econômico