Por Sergio Ripardo | A fusão entre Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3) resultará, a partir de 2025, em receitas adicionais para a companhia combinada, que unirá 34 marcas, 2.057 lojas, 1.520 franquias, 22.000 multimarcas e 22.000 funcionários.
A previsão foi divulgada pelo atual CEO da Arezzo, Alexandre Birman, que vai comandar o novo grupo com R$ 11,98 bilhões de receita bruta anual e R$ 1,54 bilhão de Ebitda, durante uma reunião com investidores nesta manhã, em São Paulo.
O executivo evitou estimar um valor total consolidado para os ganhos de sinergias. Bancos como o BTG Pactual (BPAC11) estimaram as sinergias em R$ 4,5 bilhões (35% do market cap combinado dos grupos).
Os executivos da Arezzo e Soma não confirmaram nem negaram esse valor.
O cronograma é concluir a fusão em 2025.
Neste primeiro semestre, a expectativa é pela aprovação da transação em assembleia geral extraordinária (AGE). Birman disse que, neste ano, haverá a integração de processo, sistemas e logística. “Não temos pressa para deixar essa empresa muito sólida para longo prazo”, afirmou.
Uma consultoria internacional, a Bain & Company, foi contratada para realizar os estudos de quantificação de sinergias com a fusão.
O objetivo é criar a maior plataforma de marcas de moda e acessórios do país, com quatro verticais (calçados e acessórios, vestuário masculino, feminino e infantil).
Roberto Jahahy, CEO do Grupo Soma, comandará a vertical de vestuário feminino, dada a sua experiência à frente de marcas como Farm, Animale e NV.
Além do mercado interno, o foco da nova companhia é acelerar a internacionalização, incluindo a América Latina. Marcas menores, que hoje não são comercializadas no exterior, podem ampliar o alcance de seus mercados, segundo os dois executivos.
“Em 2025, as receitas adicionais vão gerar grande alavancagem de receitas e da última linha do balanço”, disse Birman, confiante na captura de ganhos de eficiência e escala com compras em conjunto de matéria-prima, além do uso de canais de distribuição.
Pelo desenho da operação, a Arezzo ficará com 21,31% da nova companhia, enquanto o Soma terá 16,45%. O nome da nova holding, resultado da união de quatro empresas, será definido em comum acordo pelos acionistas no prazo de quatro meses.
O prazo do acordo de acionistas é de 10 anos. Os acionistas do Grupo Soma receberão 0,120446593048 ação da Arezzo para cada papel.
“Sou uma pessoa que não tem nenhum conflito de protagonismo”, afirmou Jahaty, explicando que, sem cuidar da área de governança e relações com investidores, vai se dedicar mais ao vestuário feminino.
Ele disse que a fusão permitirá trazer mais marcas internacionais para operar no mercado do Brasil, sem citar nomes. A operação internacional do Grupo Soma é conduzida hoje pela Farm Global.
Birman anunciou nomes dos quatro líderes das verticais: Luciana Wodzic (calçados e acessórios femininos), Rony Meisler (vestuário masculino lifestyle), Thiago Hering (vestuário democrático), além de Jatahy (vestuário feminino lifestyle). O chairman da nova companhia não foi escolhido ainda.
“Este é o maior big bang da moda brasileira. São marcas icônicas. É um novo modelo de negócios. Estamos construindo um legado para o Brasil”, disse Birman.
A captura de sinergias deve ocorrer mais rápido com a união do parque industrial da Arezzo com o da Hering, marca que é mais verticalizara, segundo Birman. Atualmente, 20% da produção da Arezzo é própria.
Bechimol como conselheiro
Guilherme Bechimol, fundador e chairman da XP (XP), abriu o encontro dos CEOs da Arezzo e Soma com os investidores. A XP atuou como advisor do negócio.
O banqueiro disse que será conselheiro externo da empresa combinada entre Arezzo e Soma. Serão sete membros do conselho de administração. Haverá seis reuniões anuais.
“É a união de dois colossos que traz vantagens absurdas. Estive dez dias com as equipes, a operação teve idas e vindas, mas deu certo. Traz cultura e intelecto, além de sinergias. Como conselheiro externo, minhas metas são altas”, disse Bechimol, que foi tratado por Birman como “padrinho e embaixador” da associação com o Grupo Soma.
Além da XP, a operação envolveu o Itaú Unibanco (ITUB4), JPMorgan (JPM) e Bank of America (BAC), segundo Birman.
Os executivos da Arezzo e Soma dizem que esperam a aprovação da transação na AGE, bem como no órgão antitruste brasileiro, o Cade.
As duas companhias possuem pesos pesados como acionistas com participação relevante, como a BlackRock (com 5,3% do capital) e o Opportunity (6,51%).
Para alinhar os passos do processo de integração, o CEO da Arezzo disse que vai dedicar mais tempo em viagens a Blumenau, em Santa Catarina, onde fica a sede da Hering, além do período em que fica em Campo Bom, no Rio Grande do Sul, onde está a fábrica da Arezzo. A equipe criativa da calçadista trabalha em São Paulo.
A Arezzo já atua no segmento de vestuário após a aquisição das marcas Reserva, mas são voltadas principalmente para o público masculino, enquanto as do Grupo Soma, como Animale, Farm, NV, Foxton, são para o público feminino.
O Soma detém ainda Hering, Fábula, Cris Barros e Maria Filó, em uma plataforma de 14 marcas. Já o grupo Arezzo é dono de 20 marcas próprias e adquiridas, como Schutz, Anacapri, Vans e Baw.
Analistas de bancos avaliaram a fusão de forma positiva. Em relatório, o Goldman Sachs (GS) destacou o potencial de cross-selling e expansão de categorias.
“Com base nos termos negociados, os acionistas da Arezzo deterão 54% da empresa resultante (NewCo), enquanto os acionistas do Grupo Soma, 46%, o que implica basicamente nenhum prêmio/desconto até o fechamento de 2 de fevereiro”, citou a equipe do banco, liderada pela analista Irma Sgarz, que tem recomendação de compra para os papéis das duas companhias.
Birman e Jatahy afirmaram que o espírito do negócio não foi estabelecer um prêmio.
Por volta das 13h20, as ações da Arezzo registravam queda de 4%, cotadas a R$ 60,29, enquanto os papéis do Grupo Soma recuavam 6,2%, negociados a R$ 7,22, após forte valorização na semana passada, quando o negócio foi divulgado inicialmente pela imprensa.
Fonte: Bloomberg Linea