The Fortune One pretende comprar fatias minoritárias em negócios regionais e formar holding
Por Adriana Mattos
O grupo The Fortune One, gestora de fundos local com foco em private equity, vem analisando a compra de participações minoritárias de negócios no varejo de construção civil para formar uma holding na área. A ideia é fechar sociedade com varejistas regionais, mantendo os controladores na gestão, e montar um negócio consolidador no segmento, diz a companhia.
Os planos começaram a ganhar força no ano passado, depois da forte aceleração nas vendas de categorias do setor no primeiro ano de pandemia, em 2020, num ambiente de alta pulverização desses negócios pelo país, que favorece projetos de consolidação.
Estudos já feitos pelo fundo, liderados por Waldir Abreu, atual diretor e ex-superintendente da Anamaco, associação nacional do setor, mostra que 66% das lojas no país têm até quatro funcionários. Apenas 14% têm mais de 100 empregados e dois terços estão na primeira geração, ou seja, o comando tem idade mais avançada.
O Valor apurou que houve dois contatos iniciais com redes, e pelo menos sete negócios foram identificados internamente pelos investidores com perfil para uma aproximação e busca de um acordo. Nesse grupo estão as redes Cassol (SC), Todimo (MT), Amoedo (RJ), Chatuba (RJ), Balaroti (PR), ABC da Construção (MG) e Carajás (AL). Estas duas últimas já teriam sido sondadas pelo fundo, apurou o Valor. A rede ABC informa que não teve conversas ou mantém negociações com fundos e continua comprometida com seu plano de investimentos, e a Carajás nega o contato.
O The Fortune One prefere não comentar eventuais acordos, mas confirma que a fase inicial de mapeamento e estudos do mercado já foi concluída.
“Houve um avanço no modelo de operação das redes desse setor nos últimos anos. Há um entendimento de que, para alcançar crescimento consistente, é preciso unir forças e criar escala nacional. E há um amadurecimento delas também em termos de governança e de abertura para negociar”, afirma o CEO da gestora, Marcos Costa.
Segundo ele, há uma disponibilidade, neste momento, de R$ 300 milhões em um fundo de investimento já aberto, e registrado na B3, para a capitalização de negócios, e esse volume disponível deve alcançar R$ 1 bilhão até o fim de 2022, e R$ 5 bilhões ao fim de 2023. “A intenção não é buscar negócios isoladamente, fechando um ou outro acordo de forma separada, mas uma parceria maior com negócios regionais”.
Costa afirma que, caso esse projeto avance, o fundo faria a saída do investimento por meio de abertura de capital do negócio criado, ou eventual negociação com um grupo comprador.
Segundo um assessor de investimentos que já esteve em contato no passado com cadeias de lojas regionais, pode existir um interesse na venda de fatias minoritárias porque as redes sentiram aumento de alavancagem com a escalada recente dos juros. Ele lembra, porém, que ainda há certa resistência entre controladores, e não é um modelo simples para ser implementado. Mas pesa favoravelmente uma negociação em “cash”, que gera liquidez para sócios que querem deixar os negócios.
“O problema é que é difícil montar esse modelo de holding com diferentes empresas porque, mesmo que mantenham sua gestão regional, há divergências em relação a estratégias mais nacionais, e nem sempre uma fusão que mantém a autonomia das redes gera sinergias tão fortes”, afirma ele, lembrando de tentativas de criação de holdings mal-sucedidas em farmácia e varejo eletrônico.
No Brasil, as movimentações da última década envolvem a entrada dos chilenos da Sodimac no país, com a compra da controle da Dicico em 2013, e aquisição da Tumelero (RS) pela Telhanorte em 2017. Neste ano, até julho, as vendas do setor caíram 8,3%, após alta de 4,4% em 2021, segundo o IBGE.
Na avaliação de Abreu, diretor do fundo e um dos executivos à frente desse projeto, houve avanços nas redes em termos de sistemas e de gestão de dez anos para cá, o que facilita integrações, e há lojas que já atingiram seu “teto” de expansão regional, o que acaba levando a busca de novos acordos. Paralelamente, Abreu observa que outro caminho possível é a formação de fundos imobiliários com ativos das redes que se associarem. As lojas seriam vendidas a esses veículos, que passariam a alugá-los às varejistas.
Neste momento, está em atuação o Anamaco Bank, banco digital criado em parceria com a Anamaco, e lançado neste ano, como relatou o Valor em março. O banco passou a oferecer crédito vida fundos de investimento em direito creditório (FIDCs) às redes associadas da entidade, que licenciou o uso da marca à instituição. Foi um primeiro passo no sentido de se aproximar desse mercado.
A The Fortune One, gestora brasileira dos sócios Sadao Isuyama e Marcos Costa, comprou em 2020 a Ícone Investimentos para acelerar a estruturação de fundos locais. A empresa ainda tem um braço no Reino Unidos, para negócios internacionais.
Fonte: Valor Econômico