Fintech com 20 milhões de clientes ativos amplia oferta de crédito e investimentos para crescer
Por Talita Moreira
Nascido como um facilitador de pagamentos dentro do Mercado Livre, o Mercado Pago se transformou quase silenciosamente num banco com 20 milhões de clientes ativos – e agora quer ser reconhecido como tal.
A fintech já oferece o cardápio básico: conta digital grátis remunerada, cartão e algumas opções de crédito. No entanto, está expandindo o leque para encorpar a oferta de empréstimos e de produtos de investimentos.
Nessa seara, abriu recentemente uma frente de compra e venda de criptomoedas dentro do aplicativo, com transações a partir de R$ 1. No primeiro trimestre de 2022, a gama de investimentos ganhará novo impulso com o lançamento de um marketplace em parceria com a Órama. A ideia é ter uma oferta enxuta, mas diversificada o suficiente para que os clientes possam se expor a ativos variados, como renda fixa e ações. Assim, dentro do app os usuários terão acesso a fundos oferecidos pela plataforma de investimentos.
“Estamos na transição de ser uma companhia de pagamentos para ser um banco completo e, agora, estamos maduros com nossa proposta de valor”, afirma Tulio Oliveira, vice-presidente do Mercado Pago e responsável pela operação brasileira da fintech. Nesta entrevista ao Valor, o executivo fala pela primeira vez, de forma mais abrangente, sobre essa travessia.
A fintech já tem mais de 15 milhões de cartões emitidos e 17 milhões de clientes com limite de crédito aprovado. No fim do terceiro trimestre, dado mais recente disponível, a carteira de crédito no país era de R$ 2,2 bilhões – o Mercado Pago também tem operações de banco digital na Argentina e no México e, somando os três países, o portfólio totalizava US$ 1,1 bilhão. No Brasil, a fintech atua com as licenças de instituição de pagamentos e financeira e representa 35% da receita do Mercado Livre.
Embora o Mercado Livre seja naturalmente uma porta para a entrada de clientes no banco digital, o Mercado Pago pretende depender cada vez menos da empresa-mãe, o que também explica o esforço de ampliar a oferta. “A gente começa a ter um volume de pessoas físicas nos escolhendo mesmo”, afirma Oliveira, que está há sete anos na instituição e viu a clientela mudar aos poucos.
Há um pouco de tudo nesse público: vendedores do Mercado Livre, gente que nunca teve contra bancária e, agora, uma clientela um pouco mais sofisticada que chega atraída por recursos como a negociação de criptomoedas.
A ambição não é necessariamente ser o único banco do cliente, mas ter relevância na vida dele. “A ideia é que ele possa concentrar a vida financeira conosco sem desfazer o que tem”, diz.
Por isso, o open banking é um pilar fundamental na estratégia de crescimento do banco digital. Já está em fase de testes um agregador de contas, ou seja, um recurso que permitirá ao cliente enxergar as operações que tem em todos os bancos com os quais se relaciona sem ter de sair do aplicativo do Mercado Pago.
A fintech também pretende atuar como iniciador de pagamentos, figura criada pelo Banco Central (BC) por meio da qual será possível, entre outras coisas, pagar uma conta sem sair do site ou aplicativo em que fez a compra. Esse é um passo que Oliveira considera importante não apenas do ponto de vista de experiência dos usuários do banco, mas também defensivo para o negócio de pagamentos. “Essas transações dispensam a maquininha. Podem mudar a forma de fazer negócio”, afirma.
Outro movimento de ataque e defesa é a própria incursão no mundo dos criptoativos. Além de ampliar as opções oferecidas, o Mercado Pago planeja, como próximos passos, permitir a transferência entre carteiras e colocar as criptomoedas nos “checkouts” de pagamentos. “Começamos a mergulhar nesse assunto neste ano, inicialmente com a compra [de cripto] pela tesouraria, em março. “Já tem mais gente investindo em cripto que em ações no Brasil. A adoção vai ser brutal”, diz Oliveira.
Mais uma vertente de crescimento se dá no mundo corporativo, que o Mercado Pago já aborda em suas operações de adquirência e pagamentos. O banco digital não pretende entrar na disputa por folhas de pagamento. Porém, o executivo afirma que muitas das pequenas empresas que vendem produtos pelo Mercado Livre usam a fintech para pagar funcionários e, ao mesmo tempo, ela oferece benefícios a quem faz portabilidade de salário.
Agora, o Mercado Pago vai começar a oferecer às companhias o pagamento de benefícios, como vale-alimentação, mas não ligados ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT). O produto está em fase de testes, segundo o executivo.
Os planos de expansão em várias frentes impõem um desafio de gente e tecnologia. O Mercado Pago reforçou a equipe de TI, antes concentrada na Argentina, e agora já tem mais de 1,8 mil desenvolvedores no Brasil. O número deve continuar crescendo. O quadro total de funcionários é de 13 mil e, como atrativo, a fintech acaba de adotar um modelo de trabalho em que só vai ao escritório quem quer ou precisa.
Fonte: Valor Econômico