Do início da crise causada pela pandemia, em março, até agora, as franquias passaram de uma perspectiva relativamente otimista para um cenário de perda de faturamento. Essa é uma das conclusões da pesquisa Gestão de Crise no Franchising – 2a Onda, realizada pela Praxis Business.
A consultoria de varejo e franquias ouviu os franqueadores logo no início da quarentena, em março, e depois, no período de maio e junho. No início da crise, 61% das redes acreditavam que conseguiriam algum nível de crescimento neste ano. Agora, 66% esperam queda no faturamento. Os dados se referem a uma comparação de mesma base de lojas, ou same store sales.
Participaram do levantamento 76 redes, que representam 16,6 mil unidades franqueadas. Pouco mais da metade dessas lojas são localizadas em ruas (54,2%). Um terço (33,8%) fica em shopping centers ou centros comerciais, e 10,7% em escritórios, home office ou formatos móveis.
Do total das redes, 36% esperam uma queda superior a 20% no faturamento neste ano. Onze por cento preveem redução entre 15,1% e 20%, 3% estimam queda entre 10,1% e 15%, 8% calculam perder entre 5,1% e 10%, e 9%, até 5% de redução.
Aquelas que não preveem nem crescimento nem queda são 9%. As que estimam crescer até 10% somam 14%, e as que vislumbram crescimento superior a 10% são 11% das redes.
As redes com maior número de unidades em shoppings são as mais pessimistas. “Isso ocorre em razão das restrições de circulação nesse locais, mesmo com a reabertura. O custo extrapola a receita que pode ser obtida”, afirma Adir Ribeiro, presidente da Praxis Business.
Para 64%, a expectativa é de fechamento de até 10% das unidades de franquia. Quase metade – 47% – espera alcançar até 40% da meta originalmente traçada para a expansão da rede. “Nesse cenário, franqueados estruturados que já fazem parte da marca podem adquirir unidades que não estão bem ou mesmo novos pontos”, diz Ribeiro.
Em relação à receita da empresa franqueadora, apenas 11% dos executivos entrevistados dizem que a crise não causará impactos significativos. Para 48%, a redução deve ser de no mínimo 25% neste ano. Em 33% das franqueadoras, o nível de inadimplência dos franqueados tem estado acima de 25% nos últimos dois meses.
Prevendo ou sentindo as dificuldades, 68% das redes optaram por buscar linhas de crédito. Destas, 51% conseguiram o empréstimo e 25% ainda aguardam a aprovação dos recursos. Os bancos privados foram a principal fonte de crédito para 61%, e 35% buscaram as instituições financeiras públicas.
Vendas digitais
A maioria absoluta das redes de franquia – 97% – estão usando algum meio de venda remota. A ferramenta mais adotada é o WhatsApp (37%), seguida das plataformas de delivery (29%). As televendas são usadas por 9%, e 7% têm e-commerce próprio. O Instagram é citado por 3%.
Existem, contudo, desafios para realizar vendas digitais. O principal é a atratividade ou viabilidade financeira da operação para todos os envolvidos. O fator humano é citado como desafio por 19% dos participantes, e a logística, por 16%.
Um terço das empresas franqueadoras (33%) envolveu os franqueados nas vendas realizadas pelo site, seja na realização da venda, na entrega ou em ambas.
Em 22% das redes pesquisadas, não há qualquer envolvimento do franqueado, tampouco qualquer repasse. E, por fim, em 12% dos casos, a franqueadora faz algum repasse, determinado por território ou por outros fatores, como cupons gerados pelas lojas.
A maior parte – 68% – das redes informou ter criado um produto para atender às demandas novas do mercado. Além disso, 53% mencionaram que a sua rede tem aplicado cupons de desconto; destes, 65% o fazem para readequar preços ao cenário de crise, e 35%, para antecipar vendas futuras.
“A crise reforçou o protagonismo do papel das partes no franchising: o franqueador inova, e o franqueado implementa”, diz Ribeiro. “E o franqueador tem uma lição de casa: pensar na remonetização, para que todos os elos da cadeia ganhem com os novos canais de venda.”
O marketing digital se tornou um dos focos das franqueadoras, com 69% oferecendo capacitação para que o franqueado realize a gestão da marca localmente. Os treinamentos mais oferecidos são os de Instagram (64% das redes) e WhatsApp (61%).
As redes estão ainda buscando trabalhar o engajamento de seus franqueados com várias ações. Entre essas iniciativas, as lives foram adotadas por 77% das franqueadoras. Também houve a intensificação das ações de suporte ou consultoria de campo (ainda que remota), para 69%, e o reforço dos comunicados oficiais, adotado por 61%.
Para Ribeiro, a franqueadora tem agora o papel de lutar pelo equilíbrio emocional dos empreendedores também. “Algumas redes estão oferecendo lives com psicólogos, por exemplo. Isso traz conforto e mostra um olhar para o lado humano dos franqueados.”
Fonte: PEGN