Investimento no online, vendas por WhatsApp e uso das malinhas foram algumas das estratégias usadas por redes do setor para enfrentar a crise
A moda foi um dos segmentos mais afetados pela pandemia do coronavírus. Segundo uma pesquisa da Associação Brasileira de Franchising (ABF), as franquias do setor apresentaram uma queda de 47% durante esse período, mas demonstraram uma trajetória de melhora nos últimos três meses — o que só foi possível com muito jogo de cintura.
Uma das principais dificuldades encontradas pelos franqueadores foi o momento específico em que a pandemia foi decretada, segundo Celina Kochen, coordenadora do Comitê de Franquia de Moda, Beleza e Acessórios da ABF. “Março é o mês em que o franqueador de moda está despachando os produtos de inverno para toda a sua rede”, afirma.
“De um dia para o outro, ele se viu com o estoque cheio, mas com o canal de distribuição fechado, não tendo para quem entregar esses produtos e sem saber o que esperar do futuro”, diz Celina, acrescentando que as duas primeiras semanas passaram a sensação de que não existia “uma luz no fim do túnel”. Neste momento, os franqueadores precisaram encontrar alternativas para sobreviver.
As marcas que já estavam com o e-commerce adiantado e o omnichannel implantando tiveram mais facilidade para continuar vendendo. Mas, segundo Celina, a loja virtual, muitas vezes, não é o suficiente para manter um negócio.
Uma das alternativas foi a malinha, uma prática muito antiga e bem conhecida no segmento. “As marcas começaram a ver a sua lista de clientes e oferecer uma mala com os seus produtos para serem enviados direto para as suas casas. Assim, elas poderiam experimentar e decidir o que comprar sem precisar sair”, explica Celina. E o método, ela diz, serve para lojas de todos os tamanhos — desde as pequenas até as grandes do setor.
O WhatsApp também foi muito usado durante esse período. Sem a plataforma, segundo a coordenadora, a pandemia teria sido um problema ainda maior. “O WhatsApp sempre foi muito importante para a moda. É por lá que a equipe manda fotos dos produtos, estimula a fazer compras e fala sobre os programas de fidelidade.”
Agora, ele também é muito usado para compras à distância por vídeo, no qual o vendedor pode conversar ao vivo com o cliente mostrando as roupas que estão na loja. Entre as marcas que já usaram esse sistema, Celina cita Tip Top, Arezzo, Puket e Hering — mas muitas outras fazem o mesmo.
Sorte para alguns
Dentro do setor de moda, alguns segmentos tiveram mais aceitação do que outros, como roupas infantis, pijamas, moletons e meias. As lojas desses segmentos foram mais procuradas do que as que vendem roupas de festa e salto alto — que estão enfrentando problemas até hoje. “Mesmo com a abertura das lojas, ninguém está procurando vestido de festa ou um terno novo”, afirma Celina.
No caso do segmento infantil, uma franquia que conseguiu crescer nesse período foi a Bibi Calçados, que já estava investindo nas vendas online desde 2017 e precisou acelerar com a pandemia. A rede com 120 unidades teve um crescimento de 238% dos canais digitais e já dobrou o número de vendas no site em comparação com o mesmo período em 2019.
A rede também criou um sistema em que o cliente fala com a vendedora pelo WhatsApp, recebe as fotos dos produtos e faz o seu pedido. Depois, o produto é entregue em sua casa. “Incentivamos os franqueados a usarem o WhatsApp para que seus vendedores fizessem vendas personalizadas durante esse periodo”, afirma Andrea Kohlrausch, presidente da Bibi Calçados. Hoje, ela diz que esse tipo de venda corresponde a 17% do total da rede.
As lojas físicas até voltaram a abrir com horário reduzido, mas eles esperam continuar com as vendas no digital para tentar minimizar as perdas da pandemia.
Outro exemplo foi a uFrog, marca de calçados feitos de neoprene: no primeiro mês de lojas físicas fechadas, em abril, a rede vendeu 9 mil sapatos por meio do site. Eles costumavam vender 300 sapatos por mês pelo canal online em 2019.
A explicação, segundo o fundador, Fernando Vieira, foi o fato de as pessoas estarem mais interessadas em conforto. “Nossos calçados são pensados principalmente para serem usados dentro de casa e os clientes precisaram mais disso durante o período de isolamento social”, diz ele. Foram investidos R$ 150 mil em marketing digital para melhorar a presença da marca virtualmente.
O que esperar do futuro
Segundo Celina, a permissão de abertura dos shoppings, mesmo com o horário reduzido, ajudou o setor. Mas ainda existe um empecilho: muitas pessoas ainda se sentem inseguras quanto a frequentar os centros comerciais com ambiente fechado.
“As lojas de rua se recuperaram melhor do que as lojas de shopping porque o consumidor tinha menos medo”, diz Celina. Conforme foram vendo as medidas de segurança, como restrições do número de pessoas e seguranças na porta conferindo a temperatura corporal, as pessoas começaram a se sentir mais confortáveis em entrar no local.
Além disso, segundo ela, chegamos em um momento em que as pessoas estão querendo fazer compras para se sentir mais felizes. “Está tudo mais difícil, então as pessoas começaram a se dar mais prazer, a se dar uma roupa mais nova ou um presente para os amigos. Para muita gente, ir ao shopping é um lazer importante”, diz Celina. Com isso, ela espera ver uma melhora gradual.
No entanto, ainda não podemos falar de uma recuperação total do setor. “As lojas ainda vão fazer promoções das peças de inverno por um bom tempo porque ficou muito produto acumulado. Enquanto isso, terá falta de abastecimento de outros produtos”.
Fonte: PEGN