Os pontos comerciais fora dos shoppings e ruas, hoje com representatividade pequena no setor de franquias, serão um dos impulsionadores do crescimento das redes nos próximos anos. Conforme o sistema amadurece e as oportunidades ficam mais escassas, as marcas tendem a dar maior atenção para locais como aeroportos, universidades, supermercados e até hospitais.
Atualmente, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), quase 90% das unidades de franquias estão localizadas dentro de shopping centers e na rua. As galerias comerciais de supermercados respondem por 3,6% do total, terminais de transporte, como aeroportos e rodoviárias, por 0,8% e condomínios residências, comerciais, clubes e outras localizações por apenas 1,4% das lojas (veja mais no gráfico).
Na visão do presidente da entidade, Altino Cristofoletti Júnior, esse quadro deve começar a mudar já no curto prazo. “Vejo as lojas fora de shoppings e da rua como um impulsionador do crescimento do setor ao longo dos próximos anos”, afirma.
O movimento, para o presidente do Grupo Trigo, Antonio Moreira Leite, é natural e vai se acentuar à medida que o franchising for amadurecendo e as oportunidades de expansão pelos canais tradicionais cada vez mais escassas. “A partir do momento que o mercado vai ficando mais maduro e as oportunidades diminuindo, necessariamente as redes vão começar a olhar mais para os canais alternativos”, explica. A holding detém as redes de alimentação Domino’s Pizza, Spoleto e Koni.
Com a primeira marca, o executivo conta que a empresa desenvolveu recentemente um novo formato de franquia justamente para explorar espaços dentro de universidades, de terminais de transporte e supermercados. Até o momento, o modelo de carrinho já está presente no aeroporto internacional Juscelino Kubitscheck, em Brasília, e dentro de um supermercado. A intenção é começar a explorar também centros educacionais. “Nas universidades, o modelo de carrinho resolve a questão da sazonalidade, já que nos meses que não tem aula o franqueado pode levar a unidade para outro lugar”, explica.
O caso da Domino’s não é exceção no setor e outras redes têm começado a explorar novos locais para a instalação de suas lojas. A Espaçolaser, que faz parte da holding SMZTO, do empresário José Carlos Semenzato, começou, por exemplo, a testar a implementação de suas clínicas de depilação a laser dentro ou do lado da entrada de estações de metrô. “Só trabalhávamos com unidades dentro de shopping centers e na rua, mas começamos a experimentar com a Espaçolaser e com as clínicas odontológicas [OdontoCompany]”, diz.
BenefíciosEstímulo de vendas em canais não recorrentes, divulgação da marca, menor concorrência e oportunidade de um bom faturamento com uma estrutura baixa de custos são alguns dos benefícios de diversificar os pontos de venda. Mais do que isso, para o diretor de franquias do Rei do Mate, João Baptista Silva Júnior, a busca por pontos alternativos é, cada vez mais, uma necessidade das empresas do franchising. “Quem ficar apenas nos pontos tradicionais limitará a expansão do negócio”, afirma. Ele acrescenta ainda que há um benefício claro na estrutura de custos, uma vez que nesses locais a franquia tem “um potencial de faturamento grande com um custo de ocupação que é, em geral, menor.”
Forte atuaçãoA percepção do executivo vem de uma vasta experiência, já que o Rei do Mate trabalha há anos com a implementação de franquias em lugares pouco usuais no setor. “Temos lojas dentro de empresas, como a Avon e a Volkswagen, na área social de clubes de futebol, em terminais de transporte, pontos turísticos (como o Pão de Açúcar no Rio de Janeiro), universidades, hospitais, supermercados. Temos até unidades móveis para operar em feiras e eventos”, elenca o executivo. O fundamental, diz, é que seja um local de alto fluxo de pessoas.
Além dos benefícios já citados, outra vantagem de operar em pontos fora dos shopping e da rua é que, em muitos casos, o negócio principal dos locais não é o real state, o que garante oportunidades melhores. “No caso de um posto de combustível, por exemplo, o negócio dele não é viver de aluguel, mas vender combustível. Ele quer alugar o espaço para gerar mais circulação e dar um melhor serviço para o seu consumidor. Buscamos essas parcerias”, diz.
A Chilli Beans também tem um histórico forte de atuação com pontos alternativos. No caso do varejista de óculos o principal são os aeroportos. “Estamos em 90% dos aeroportos brasileiros. Só no de Guarulhos temos cinco unidades – quatro quiosques e uma loja”, afirma o presidente da rede, Caito Maia. A performance das operações, segundo ele, têm sido muito boas, justificando o investimento. “Tem também o fator marketing: como o fluxo é grande ajuda na nossa divulgação”.
De acordo com ele, a rede também investe e em pontos turísticos, como Porto de Galinhas, Jericoacoara e Praia da Pipa, onde o desempenho também tem sido positivo. Ele conta que a marca testou abrir lojas dentro de universidades e de estações de metrô, mas que os resultados foram fracos.
CuidadosO caso do varejista evidencia um dos pontos cruciais da expansão para lugares alternativos: a necessidade de analisar se a marca e o modelo são adequados para aquele local. “O fundamental é estudar se o negócio tem natureza para funcionar naquele lugar. Essa conta precisa ser feita, e tem muitos franqueados que insistem em ficar em localizações que não fazem sentido para a operação”, pondera Semenzato, da SMZTO.
Fonte: DCI