Em recuperação judicial nos EUA, empresa também enfrenta dificuldades no Brasil; empresa precisa queimar o estoque até dia 19, data em que as 15 unidades da empresa no País devem fechar definitivamente
Por Lilian Cunha
Na loja, camisetas eram vendidas por R$ 40. Vestidos tinham sido remarcados de R$ 59 para R$ 15. Regatas estavam até por R$ 5. “Acho ruim fechar”, afirmou Victor Antonelli, analista de risco. “São poucas as lojas como essa, com variedade e preço baixo.”
Quando as primeiras unidades da rede de varejo de moda Forever 21 abriram no Brasil, filas imensas de consumidores ávidos por roupas a preços baixos se formaram na entrada das lojas. Agora, oito anos depois, a marca está de saída: as araras estão quase vazias, sem produtos, e uma liquidação com tudo pela metade do preço está em andamento para queimar o estoque até dia 19, data em que as 15 unidades da empresa no País devem fechar definitivamente.
No Bourbon Shopping, em São Paulo, os consumidores foram surpreendidos. “Não sabia que ia fechar. Aí entrei, vi a liquidação e um funcionário me falou (do encerramento). Comprei mais de dez peças na semana passada e paguei menos de R$ 300, com 50% de desconto. Voltei agora para comprar mais umas camisas”, disse a advogada Luíza Maria Mello, 25 anos.
Trabalho escravo
Em 2012, o Ministério do Trabalho dos EUA disse ter encontrado oficinas de fornecedores da Forever 21 em condições de trabalho análogo à escravidão em Los Angeles, na Califórnia, onde fica a sede da empresa. A rede disse, porém, que esses problemas teriam sido resolvidos naquele mesmo ano. Segundo a revista Forbes, a empresa também já foi processada mais de 50 vezes por violar direitos autorais. Procurada, a Forever 21, tanto no Brasil quanto nos EUA, não respondeu à reportagem.
A professora de inglês Bettina Oliveira, que foi à liquidação e comprou um vestido de R$ 129 por R$ 75, disse que não era cliente da loja por questões como essas. “Não vou sentir falta. Além de tudo isso, a modelagem é sempre feita para pessoas muito pequenas e magras.”
Cenário
Boa parte dos consumidores hoje é mais seletiva e não gasta mais tanto com o chamado fast fashion. E quem gosta desse tipo de moda, lembra o especialista em varejo Sandro Magaldi, prefere a internet, com plataformas como Shopee e Shein, de preços mais baixos. Além disso, existe o movimento contrário, o slow fashion, pelo qual o consumidor prefere pagar um preço maior em roupas de melhor qualidade.
Assim, a companhia está em recuperação judicial nos EUA desde setembro de 2019. Na época, o motivo alegado foi a concorrência entre as lojas de rua e o e-commerce. Com 800 lojas nos EUA, Ásia, Europa e América Latina, a varejista recorreu ao Capítulo 11 da Lei de Falências americana, que permite manter o controle e posse de seus bens enquanto administra uma reestruturação.
Na semana passada, o Authentic Brands Group (ABG), empresa global de desenvolvimento de marcas, anunciou a compra da Forever 21. Outra acionista da empresa é o fundo Brookfield Property Partners.
Aqui, o caldo começou a entornar no ano passado, quando a marca virou alvo de ações judiciais movidas por shoppings cobrando aluguéis em atraso. Sem acordos, a empresa de moda fechou no começo de 2021 todas as 11 lojas nos shoppings da rede Multiplan, entre elas, as dos shoppings Morumbi, Vila Olímpia e Anália Franco (São Paulo), Brasília, Ribeirão Preto (SP) e Canoas (RS). Procurada, a Multiplan não quis comentar o assunto.
Meses depois, a Justiça do Rio de Janeiro acatou pedido do shopping RioSul (administrado pela Combrascan) e deu 30 dias de prazo para que a marca deixasse o local. O despejo foi realizado. Procurado, o RioSul disse que não divulga detalhes de negociações comerciais.
Havia, pelo menos, mais dois processos por inadimplência no aluguel, movidos pelos Shopping Tijuca e o Plaza Shopping Niterói, ambos da BRMalls, que também não quis comentar o assunto. A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) disse não ter informações sobre se esses casos foram resolvidos ou não.
Negociação
As lojas da marca eram consideradas “âncora” nos centros de compra em que atuavam, com áreas de mais de 1.000 m² nos empreendimentos. “Fica difícil renegociar com uma empresa quando se sabe que a matriz dela está passando por um processo de recuperação judicial”, diz o presidente da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), Nabil Sahyoun.
Segundo Sahyoun, a Forever 21 tem hoje 15 lojas no Brasil e todas devem fechar até domingo. Os funcionários da loja no shopping Bourbon, em São Paulo, confirmam a informação. A equipe de dez pessoas será demitida ainda este mês. “Estou aqui há sete anos e nunca achei que isso pudesse acontecer. A liquidação está indo bem. As prateleiras e cabides vão ser vendidas a outras empresas. Eu mesmo não sei onde vou trabalhar agora”, disse um funcionário.
Fonte: Estadão