Até 2020, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo deverá produzir 70% a mais de alimentos para dar conta de uma população estimada em quase 10 bilhões de pessoas. O desafio, que visto sobre uma perspectiva global parece quase inatingível, motiva um ecossistema de inovação que vem trabalhando em micro soluções para resolver o problema e gerar negócios. As foodtechs, ou startups voltadas à soluções relacionadas a alimentação já receberam US$ 6,5 bilhões de investimentos nos Estados Unidos, valor que deve triplicar nos próximos dois anos.
De acordo com a consultoria Builders, no Brasil, existem 53 foodtechs espalhadas em várias regiões e a tendência é que esse ecossistema se fortaleça ainda mais indo diretamente de encontro a novos hábitos de consumo e, sobretudo, às dinâmicas das grandes empresas em lidarem com os desafios atuais da indústria.
“Estamos falando de uma revolução que está ai e, em questão de vinte anos muitas empresas de alimentos atualmente não estarão mais aqui para responder a essas perguntas. Sobreviverão aquelas capazes de se desprendem da lógica de produção atual e encontrarem novas dinâmicas”, diz Carolina Barajunas, sócia da consultoria Builders.
A grande questão é de que maneira esse cenário altera a estratégia de marketing e o diálogo com o consumidor. Heloísa Padilha, sócia-diretora da RG Nutri, consultoria voltada à educação alimentar, afirma que as medidas atuais de redução de sódio ou alteração de produtos existentes têm sido um grande desafio já que, para grande parte das indústrias está resultando em rejeição por parte do consumidor. “Quando por uma questão legal ou um compromisso setorial você coloca em uma embalagem que está reduzindo em 40% o sódio, o consumidor médio se assusta já que ele não quer uma alteração em um produto habitual. Isso dá duas alternativas para as empresas, ou cria-se um produto do zero ou muda a estratégia de alteração dos alimentos”, diz Heloísa.
De acordo com ela, a grande questão dos alimentos para os grandes grupos de consumidores passa por “sabor, facilidade de acesso, distribuição e acessibilidade de preço. Sem isso, fica difícil pensar em soluções que não sejam nichadas”, afirma. Gustavo Guadanini, managing diretor do The Good Food Institute, explica que o grande desafio da indústria de alimentos atualmente é aposentar o bastão moral e focar em soluções que sejam viáveis. “Oferecer produtos que façam sentido por que tem o sabor desejado, no preço justo e sem alterar a experiência que as pessoas possuem com os alimentos”, afirma.
Presente no evento Foodtech Movement, realizado nesta quarta-feira, 16, no centro de inovação Ahoy Berlin, em São Paulo, Marina Ferreira, especialista de Food & Drink da Mintel, apresentou três grandes tendências que estão norteando como as grandes indústrias estão repensando a sua forma de ofertar alimentos e, principalmente, de buscarem entre as startups, soluções viáveis e escaláveis. “O que percebemos é que mudanças que envolvem alimentos demandam um esforço muito grande em não impor aos consumidores o que se convencionou dizer que é bom, mas mapear o que eles esperam e enquadrar isso em uma estratégia mais ampla”, afirma Marina.
Veja as três tendências mapeadas pela Mintel em relação aos novos hábitos de consumo de relação das pessoas com os alimentos:
Full Disclosure
De acordo com a Mintel, 21% dos consumidores brasileiros que comem carne têm interesse em saber sobre a rastreabilidade e a origem dos alimentos. Do montante, 41% estão preocupados com a qualidade dos ingredientes. Ou seja, demandam que as empresas assumam processos mais transparentes e compromissos que façam sentido.
Self Fullfing Practices
Dentro do universo dos consumidores brasileiros, 21% consomem snacks como autoindugência e consideram isso importante para equilibrar a rotina diária. Isso indica que a indugências como chocolates ou salgadinhos continuam sendo um elemento importante da conexão dos alimentos com as pessoas.
Novas Sensações
Na era das redes sociais em que um alimento no Instagram faz sentido para muitas pessoas oferecer produtos que gerem sensações, sejam elas de imagem ou de memórias, faz todo sentido para atender expectativas dos consumidores e eles esperam isso de muitas marcas e produtos.
Fonte: Meio e Mensagem