Empreendedores reduzem preços e tentam se adaptar ao novo momento da economia dois anos após o início da moda dos caminhões de comida
A ideia de equipar um caminhão com uma cozinha de aço e entregar a chave para um chef conhecido no circuito gastronômico da cidade parecia promissora para os paulistanos Rafael Coutinho e Pedro Vilela. Há pouco mais de um ano eles reservaram cerca de R$ 200 mil para iniciar o Co.Mo Cozinha Móvel. Planejaram um cardápio contemporâneo e estacionaram o veículo em pontos chiques da cidade, como por exemplo em frente ao Shopping Iguatemi, localizado em Pinheiros. Mas a despeito das previsões iniciais da dupla de empresários, o investimento não vingou.
Em novembro do ano passado, exatamente um ano após o início das atividades, eles desligaram permanentemente o caminhão. Agora, tentam revender equipamentos como forma de mitigar o prejuízo. “O resultado não foi o planejado”, afirma Vilela. “É um mercado onde a demanda varia muito. Se um dia chove, a demanda vai a zero. E o meu produto também não estava adequado a esse mercado.”
O caso dos dois empresários não é único. Ramificação ainda nova da alimentação fora do lar, o food truck começou de maneira arrebatadora há dois anos e, agora, já se vê em uma espécie de processo de reestruturação.
“A moda passou. E esse negócio nosso precisa se readaptar ao novo momento da economia”, diz Rolando Vanucci, dono da rede Rolando Massinha. “Precisamos também trabalhar para atrair um cliente que não vê mais novidade nenhuma em comer em pé, ao ar livre, uma comida que muitas vezes ele come sentado, dentro de um restaurante”, diz Vanucci, também presidente da Associação Paulistana de Comida de Rua.
“Um ano atrás, tinha gente vendendo hambúrguer a R$ 35, com uma margem de lucro de 50%, 60% líquida. Isso é uma loucura”, conta Otto Neri Queiroz, dono do Los Ogros, especializado em lanches. “Food truck é pra vender lanche, hambúrguer até R$ 20. Mais que isso a pessoa come na lanchonete, com ar-condicionado”, diz Letícia Navas, sócia de Queiroz.
Resolver a equação entre preço baixo, estrutura enxuta e cardápio chamativo foi a saída que o empresário Fábio Luís Damião encontrou para sobreviver com seu ThaiTai Brasil, especializado em comida tailandesa há dois anos na rua.
O cardápio é reduzido – a equipe de Fábio prepara apenas três tipos de pratos – e o desembolso máximo por parte do consumidor é de R$ 27 em uma opção mais elaborada. Assim, o empreendedor mantém uma saída diária de, em média, 170 pratos vendidos entre os dois espaços explorados pelo caminhão: a Feira Gastronômica Itinerante Benê Food des Arts, na região da Avenida Paulista, e no Pic Nic, localizado nas proximidades da avenida Faria Lima.
“Não é vantajoso manter cardápios extensos”, analisa o empresário. “A proposta do truck é vender comida de restaurante a um preço justo. Isso já é consolidado em outros lugares do mundo”, avalia.
Sem números ainda oficiais, estima-se atualmente em 1,2 mil o número de food trucks espalhados pelo Brasil, 500 deles funcionando apenas em São Paulo. A margem de lucro média desses negócios, que pode variar muito principalmente de acordo com o tipo de prato oferecido aos clientes diariamente, é de 20%.