Falta de opções durante a madrugada tem levado consumidor mais jovem a realizar compras em espaços nos postos de gasolina
Jovens de até 29 anos, que buscam alimentação rápida, agilidade na compra de amenidades ou até mesmo só matar a sede. Este é o perfil do consumidor que tem movimentado as lojas de conveniência durante a madrugada (0h às 6h) nas grandes cidades, e teria ajudado o setor a driblar a crise no varejo, ao avançar 10% no ano passado.
O diretor de mercado e comunicação do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), César Guimarães, estima que o setor tenha crescido esse volume no ano passado por conta também da abertura de novas lojas, que ajudaram o mercado a faturar acima de R$ 6,6 bilhões. Hoje, acredita-se que existam cerca de 8 mil espaços do tipo no Brasil.
A respeito do maior fluxo de clientes na madrugada, o fechamento de alguns estabelecimentos que operavam 24 horas no ano passado pode ter tido influência. Em maio de 2014, por exemplo, o Grupo Pão de Açúcar (GPA), sob controle da francesa Casino, anunciou o fim do funcionamento 24 horas de 55 unidades do Extra e Pão de Açúcar, que operavam dessa forma no País. Já no início do ano passado, o grupo voltou atrás, mas apenas parcialmente, quando garantiu que deixaria 22 unidades da bandeira Extra abertas durante toda a extensão do dia. A falta de opções para as compras noturnas parece ter atingido principalmente os consumidores mais jovens, que passaram a frequentar mais as lojas de conveniência. “A grande maioria dos clientes [40%] é composta por jovens até 29 anos. E por incrível que pareça, eles chegam mais a pé do que de carro”, afirma Guimarães.
Uma pesquisa do Sindicom realizada em 2014 mostrou que mais de 50% dos consumidores de lojas de conveniência no País vão a pé até o local. “A conveniência se tornou uma opção de minimercado de bairro. E o consumidor vizinho da loja vai até lá para fazer compras rápidas”, comenta. Outro fator que pode ter influenciado nos resultados do setor é o aumento do consumo de snacks – produtos substitutos, complementares ou intermediários às refeições -, que tem crescido nos países em desenvolvimento. De acordo com a pesquisa Nielsen Consumo Dentro e Fora do Lar, atualmente, na região Metropolitana de São Paulo, 46% do consumo de snacks é feito fora do lar.
Para a consultoria Nielsen, o consumidor brasileiro vem aumentando o consumo desses alimentos por conta de mudanças mais profundas na cultura, à medida que mais mulheres conquistam o mercado de trabalho e há menos tempo para cozinhar. Complemento à refeição (31%), prazer pessoal (12%) e matar a sede (10%) foram as necessidades mais relatadas durante o levantamento com os consumidores de snacks. Um levantamento realizado em 2014 pelo Sindicom mostrou que produtos de tabacaria, bebidas não alcoólicas, cervejas, bonbonnière, sorvetes, snacks e biscoitos, bebidas destiladas e food service representavam mais de 90% de todo o faturamento das lojas.
Redes crescem
Com 1.238 lojas, a rede BR Mania, da Petrobrás, faturou R$ 1,2 bilhão no ano passado com as vendas de produtos em suas unidades de conveniência. O resultado representou crescimento de 20% em relação ao alcançado em 2014. A rede aproveitou para lançar 25 produtos de marca própria BR Mania, além de incorporar a Rádio BR Mania e internet gratuita nas lojas. Para este ano, a meta é crescer igual ou em ritmo levemente menor do que o registrado em 2015.
A concorrente AmPm, dos Postos Ipiranga, preferiu não divulgar números, mas também relatou crescimento nas receitas do ano passado. “O nosso segmento de lojas de conveniência vem crescendo ao longo dos anos e, em 2015, tivemos o crescimento dentro do nosso planejamento”, informou a rede. Até setembro do ano passado, a Ipiranga contabilizava 1.910 unidades junto a postos, sendo 521 delas com padarias e 237 equipadas com a Beer Cave, uma espécie de geladeira gigante de bebidas.
No início desse ano, a marca anunciou uma parceria o Burger King para montar megalojas em rodovias brasileiras. A primeira na Rodovia Presidente Dutra, que liga as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No mercado, as lojas de conveniência têm espaço para avançar. Só 18% dos postos de gasolina no Brasil possuem unidades que vão além do combustível. Enquanto isso, em alguns países localizados na América do Sul, esse índice chega a 48%.