Os varejistas devem celebrar um segundo semestre muito bom de vendas, retomando índices de 2019, antes da pandemia de Covid-19
Por Esfera Brasil
Os varejistas devem celebrar um segundo semestre muito bom de vendas, retomando índices de 2019, antes da pandemia de Covid-19, avalia Flávio Rocha, presidente do conselho de administração do Grupo Guararapes, que inclui as Lojas Riachuelo. “A retomada está rápida. Quando o varejo vai bem, o país vai bem”, afirma o empresário.
Mas para que haja mais investimentos, segundo Rocha, é preciso melhorar o ambiente de negócios no Brasil. “Eu acredito que o caminho para melhorar a atratividade em investimentos são as reformas. Diria que a reforma administrativa antes até da tributária.”
Ele diz que uma outra demanda do setor é a questão da regulamentação da tributação do chamado “camelódromo digital”. Os varejistas são obrigados a considerar no preço final de seus produtos os efeitos do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), do ICMS (Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) entre outros impostos, taxas e contribuições. Mas essa mesma carga tributária não se aplica da mesma maneira à maioria dos produtos vindos do exterior que são vendidos em plataformas de marketplace.
“Quando a gente imaginava que estava ganhando a guerra contra a clandestinidade, a informalidade agora ressurge com superpoderes que o mundo digital proporciona.”
Leia a seguir a entrevista na íntegra.
Esfera Brasil – Como estão as vendas do varejo? Houve retomada?
Flávio Rocha – O varejo é um ambiente muito heterogêneo, muito diversificado, ainda mais agora com a mudança dramática no quadro concorrencial com a globalização do varejo e uma penetração muito maior do e-commerce, do varejo digital.
De maneira geral, em 2022, que é o primeiro ano realmente de volta à normalidade, quando usamos a base comparativa de 2019, em que não houve fechamento de lojas nem restrições, eu diria que a maioria dos setores já retomou esse patamar de 2019. Claramente existe uma correlação com a renda: as lojas mais voltadas para um público mais afluente estão se recuperando mais rapidamente, enquanto a base da pirâmide de consumo ainda sofre com o desemprego e com falta de renda e de crédito. De maneira geral, a retomada está rápida e devemos comemorar um segundo semestre bastante bom para o varejo. Quando o varejo vai bem, o país vai bem.
Esfera Brasil – Quais são atualmente as principais demandas dos varejistas brasileiros?
Flávio Rocha – Acho que o problema fundamental do Brasil é a degradação do ambiente de negócios. Nós temos, infelizmente, um dos ambientes mais hostis ao investimento, à geração de emprego e ao empreendedorismo. Qualquer ranking de empreendedorismo mostra o Brasil em condições, eu diria, até humilhantes. Nos rankings do Banco Mundial, do Doing Business, o Brasil está sempre entre os 10/20 piores ambientes de negócios em listagens que chegam a até 150 países.
Eu acredito que o caminho para melhorar a atratividade em investimentos são as reformas. Diria que a reforma administrativa antes até da tributária. Para se definir como vamos financiar o Estado é fundamental que se dimensione esse Estado. Quando se vai construir uma casa, primeiro você projeta a casa, depois vai ao gerente do banco pedir os recursos para construí-la, por isso acho que a reforma administrativa deve anteceder a tributária.
Depois são as reformas de maneira geral que tornem o Estado mais eficiente, menor e menos oneroso. Então as duas principais demandas são a reforma administrativa e a tributária.
Esfera Brasil – O governo federal tem mostrado disposição para resolver a questão do “camelódromo digital”?
Flávio Rocha – Temos encontrado muita acessibilidade tanto nas autoridades federais quanto na Polícia Federal, no Ministério da Justiça. As nossas autoridades identificam claramente esse problema de inequidade concorrencial. Quando a gente imaginava que estava ganhando a guerra contra a clandestinidade, a informalidade agora ressurge com superpoderes que o mundo digital proporciona. O “camelódromo digital” é que desfruta da impossibilidade até dos mecanismos tributários tradicionais de lidarem com essa novidade da economia de plataforma, a economia “uberizada”, essa economia extremamente atomizada, estratificada, de microtransações.
A economia agora não é mais aquela para a qual foram projetados os nossos impostos clássicos, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), um eventual IVA (Imposto sobre Valor Agregado), ou até um imposto de renda. Aquela economia da cadeia de suprimento linear que eu costumo chamar de economia de água encanada, onde você põe uma barreira fiscal em controle de todo o fluxo econômico ou de grande parte dele. Agora a economia se dá na forma etérea das gigantescas plataformas, unindo uma oferta estratificada com a demanda estratificada.
Junto com o “camelódromo digital” vem também a profissão que mais cresce no Brasil, a sacoleira digital, desfrutando da porosidade das nossas fronteiras em relação ao novo e-commerce. São centenas de milhares de malotes de e-commerce que entram pelas nossas fronteiras diariamente sem qualquer controle das autoridades fiscais. Então é muito alvissareiro que haja sensibilidade das nossas autoridades em relação a esse sério problema, porque o bom funcionamento da economia de livre mercado pressupõe uma competição justa e equilibrada.
Fonte: Exame