Quem garante é Juliana Silva, gerente de serviços digitais do Magalu. Confira as recomendações da especialista para enfrentar o cenário atual de mudanças rápidas e profundas
Essa foi uma das mensagens de Juliana Silva, gerente de serviços digitais do Magazine Luiza (ou simplesmente Magalu), no Webinar de SA Varejo. Sua participação também foi marcada pela ideia que inspirou o título desta matéria de capa: “antes feito que perfeito”. Com 12 anos de empresa, Juliana vivenciou a transformação do Magalu, uma das companhias mais bem-sucedidas na digitalização dos negócios no Brasil.
Mesmo num período de pandemia, a empresa teve um crescimento de 34% nas vendas nos primeiros três meses do ano, puxado pelo online, que compensou o fechamento de parte significativa das lojas. No período, o faturamento atingiu R$ 7,7 bilhões. Já em 2019, a receita foi de R$ 27,3 bilhões. A seguir selecionamos os principais trechos da participação de Juliana no webinar, que podem ajudá-lo a pensar a transformação em seu supermercado.
Juliana Silva
Gerente de serviços digitais do Magazine Luiza
MODELO MENTAL E VELOCIDADE
“A ideia de ‘Melhor feito do que perfeito’ deve acontecer dentro de um guarda-chuva de responsabilidades e de um modelo mental que é próprio para o digital, em que se pressupõe rapidez. Esperar pelo perfeito não dá uma velocidade boa e vencedora. Os detalhes e acabamentos de uma ideia ou inovação podem ser melhorados ao longo do tempo, porque o próprio processo de implementação vai respondendo quais pontos precisam ser mais bem trabalhados. Enquanto o projeto não está rolando, não se consegue mapear todas as alavancas importantes para atingir os resultados. Fazer as coisas e ir melhorando é algo muito verdadeiro no digital. No Magalu, a maioria dos projetos não sai perfeita. A gente lança e vai melhorando. Priorizamos velocidade e a participação das pessoas. Entendo essa preocupação mais conservadora, mas é preciso ficar atento porque muitas vezes ela impossibilita tirar a ideia do papel. A busca pelo perfeito pode se tornar burocrática e demorada. Já a opção pela velocidade e por ir aprimorando aos poucos é um modelo mental das startups. Se elas estão tendo sucesso, por que não aprender o jeito que essas empresas pensam?”
“Pensar em transformação é se criticar o tempo todo, pensar do seu próprio jeito, sem apegos emocionais pelas práticas que trouxeram a empresa até aqui. Elas foram importantes, mas é necessário olhar para elas de uma maneira diferente”
CAPACIDADE DE LER INFORMAÇÕES
“É preciso observar o movimento que o mercado está fazendo e também o que as pessoas estão falando para você. Elas falam por meio de dados, que podem ser analisados, ou de comportamentos, que podem ser observados. Nesse período de Covid-19, tínhamos uma situação com comércios fechados, ainda analógicos e fora do digital, e de pessoas sem conseguir trabalhar. A partir disso, plugamos uma solução, o Parceiro Magalu, em que os varejistas que não conseguem montar seus sites de vendas e não têm recursos para fazer o investimento necessário sobem seus produtos para nossa plataforma e utilizam nossa vitrine para vender. Já as pessoas físicas sem empregos formais, como manicures e outros profissionais que ficaram sem poder trabalhar, montam suas lojinhas no nosso portal, selecionando produtos do Magalu para vender e recebendo comissão por isso. Como fizemos? Observamos o que estava acontecendo, olhamos as informações e o contexto e tivemos agilidade para montar a solução. Está perfeito? Provavelmente nunca vai estar, porque a gente sempre vai querer melhorar, mas está feito, está no ar e é um sucesso.”
PROPÓSITO
“Ele é o pano de fundo para qualquer comportamento na empresa. Se isso não acontece, não é um propósito. Se está escrito em algum lugar, mas não é um norte para as decisões que a companhia toma, não funciona. No Magazine Luiza, temos de fato um propósito: Levar ao acesso de muitos o que é privilégio de poucos. Trabalho há 12 anos na empresa e ele está na minha cabeça e de todos os colaboradores. Muitas vezes, se define o propósito achando que funciona como apertar um botão, mas é algo que precisa ser construído e leva tempo. O executivo, por exemplo, deve tomar decisão com base nele sem ao menos perceber. Quando essa naturalidade acontece, aí sim você tem um propósito sólido e estabelecido.”
GERAR VALOR
“Acredito muito que vendedores e outros profissionais que lidam diretamente com os consumidores precisam construir uma ponte sólida de relacionamento com eles. Devem saber como potencializar essa relação e se antecipar às necessidades das pessoas a partir do que eles observam. Fico imaginando, por exemplo, se eu fosse proprietária de um supermercado, eu pegaria todos os meus pontos principais de contato com os clientes e me perguntaria como fazer esses contatos serem mais inteligentes. Se uma cliente vai todo dia à minha loja comprar seis pãezinhos às 8h00, acredito que seria uma boa solução entregar esses pãezinhos todos os dias na casa dela, por meio de uma assinatura mensal ou algo assim.”
“Uma tendência forte nas lojas físicas é atuar num conceito de mini CD, o que começa a trazer outras competências, como as de logística, para esse canal”
INOVAÇÃO NATURAL E DE TODOS
”Sempre tem alguém no time mais a fim de inovar. É importante captar essa pessoa, conversar com ela e deixar as ideias fluírem. Pega uma situação prática do dia a dia e propõe a ela rever o processo. Pode ser a simples impressão de um relatório. Você questiona: será que é necessário imprimirmos esse relatório todos os dias? Vai jogando a provocação e você vai ver que é algo muito orgânico. As ideias vão surgindo. Aos poucos, se tornam mais naturais e a resistência vai diminuindo. Mas é preciso que essa vontade de transformar a empresa seja legítima em você, para que todos entendam e sintam que podem conseguir fazer a mudança.”
“Já vi muitas iniciativas a custo zero nascerem da base e gerar transformações muito eficientes”
Fonte: SA Varejo