O plano é captar R$ 300 milhões de investimentos em 2021 para a Juntos Somos Mais, programa de fidelidade no varejo de materiais de construção
Uma joint venture de três marcas fortes da construção civil, a Votorantim Cimentos, a Tigre e a Gerdau, estruturada com a cultura de startup — métodos ágeis, times multidisciplinares que trabalham por projetos, estímulo à aprendizagem contínua, disposta a correr riscos e a errar. Em dois anos, a Juntos Somos Mais já tem 120 funcionários, ampliou de 25 mil para 80 mil lojas cadastradas, e cresceu de 10 mil para 370 mil profissionais afiliados ao programa de fidelidade, que cresce mais que o esperado, segundo as companhias. O trio planeja inserir no caixa da JSM nos próximos dois anos R$ 50 milhões, mas também planeja levantar R$300 milhões em investimentos do mercado.
O nome da empresa surgiu de um programa de fidelidade que nasceu em 2014 na Votorantim Cimentos em parceria com uma loja de materiais de construção. O programa cresceu bastante mesmo em anos muito difíceis para o setor de construção, e após a crise, as empresas entenderam que poderiam unir os esforços com o programa Mundo Tigre, da Tigre, e o profissional do aço, da Gerdau. “A JSM se distingue por ser uma empresa muito mais pautada em tecnologia e digitalização do que as joint ventures que combinam ativos físicos, fábricas, plantas, e com o propósito de transformar o varejo de material de construção”, conta Antonio Serrano, CEO da Juntos Somos Mais. “Do ponto de vista dos acionistas, a união traz muito mais velocidade e impacto do que as ações individuais. “Não precisamos reinventar a roda, o custo de desenvolvimento é menor porque não temos que replicar as ações para todos os players”, diz Otto von Sothen, da Tigre.
O negócio faz sentido na realidade do varejo de materiais de construção, bastante pulverizado e familiar. Os quatro maiores grupos varejistas concentram 10% do mercado. “Metade das lojas tem mais de 20 anos de existência”, diz Serrano. As lojas também ganham pontos, que podem trocar por produtos que melhoram a sua infraestrutura, como computadores. “O propósito do programa é ajudar na profissionalização do varejo, melhorando o desempenho e principalmente a conexão com os profissionais de obra, o que indiretamente ajuda a melhorar a experiência de compra do consumidor”, diz Otto von Sothen, da Tigre. “Percebemos a migração e aumento de lojas mais generalistas, oferecendo uma gama ampla de produtos e serviços. E este é um setor que o consumidor tem muitas dificuldades de fazer as compras, acaba indo por sugestão do profissional de obra, um aspecto muito importante dessa escolha”, observa.
Um os objetivos é aproveitar o cadastro dos profissionais para oferecer serviços, como cursos de capacitação. Estima-se que este mercado tenha 4,5 milhões de profissionais autônomos. Roberto Rodriguez de Oliveira, de 47 anos, vive em Feira de Santana, na Bahia, e trabalha como pedreiro, encanador e pintor há pelo menos 15 anos, e logo pretende ensinar a profissão ao sobrinho, que cria como filho. Conta que os clientes têm pedido muito a pintura estilo cimento queimado, especialmente em áreas como varanda gourmet, mas ele ainda não sabe fazer. “Sempre tem alguma inovação na área da gente, principalmente em pintura, textura”, diz Oliveira, cadastrado no programa de fidelidade da JSM há cerca de oito meses. Os primeiros pontos, ele trocou por recarga de celular pré-pago, mas recentemente trocou pontos por uma mochila, porque mudou o formato da conta do celular para pós-pago.
Nos dois anos iniciais, focados no cadastro da base de clientes na JSM, a Tigre, por exemplo, tem 80% dos seus clientes na plataforma. A formação da joint venture significou cerca de 6 mil clientes novos. A taxa de retenção de clientes de um ano para o outro alcançou 90% segundo Sothen. “Isso mostra o quanto o programa é bem usado. No indicador de pontos expirados, estamos no patamar abaixo de 20%, um dos menores do setor como um todo”. Além disso, o estilo de trabalho da JSM inspira a cultura da inovação aberta na Tigre. A companhia tem utilizado a prática mais intensivamente nos últimos meses no desenvolvimento de produtos e serviços para conservação da água. “Compramos uma startup de efluentes um ano atrás que cresce em velocidade chinesa, mais do que dobrando a receita”, diz Sothen, sobre a empresa da Tigre que está produzindo estações de tratamento unifamiliar. “A entrada na JSM nos trouxe muitos aprendizados sobre como acelerar nosso crescimento através da inovação aberta porque passamos a buscar por outras iniciativas, como essa aquisição”.
Fonte: Época Negócios