Por Fernanda Brigatti e Diego Felix | A empresa de inteligência de mercado Scanntech estima que o varejo alimentar brasileiro seja 60% maior do que o projetado pela principal associação do setor, a Abras (Associação Brasileira dos Supermercados). Segundo a companhia de informação de dados, o faturamento real ultrapassa R$ 1,1 trilhão por ano.
Os dados contrastam com o monitoramento oficial da Abras, elaborado pela consultoria NielsenIQ, sua parceira de longa data.
Em 2022, de acordo com o anuário da associação, o setor faturou R$ 695,7 bilhões. Neste dado estão considerados todos os formatos e canais de distribuição, como supermercados, hipermercados, atacarejos, ecommerce, entre outros.
A suspeita da Scanntech teve início quando a companhia percebeu que, apenas em sua base de dados, ou seja, das informações que chegavam diretamente dos sistemas de seus clientes, o faturamento referente a 2022 ultrapassava os R$ 680 bilhões.
Na prática, isso corresponde a 98% do mercado oficial reportado pela Abras. A Scanntech recolhe dados de 40 mil pontos de vendas (42% do total) e tem entre seus clientes companhias como Carrefour e Pão de Açúcar, duas das quatro maiores redes supermercadistas do país.
“Seria ótimo se tivéssemos 98% do mercado, mas temos muitas redes que ainda não estão na nossa leitura. Quando chegamos nesses R$ 680 bilhões, o próprio mercado percebeu que o dado total estava errado. Utilizando esse número censitário, que já é grande, acreditamos que o mercado seja superior a R$ 1,1 trilhão”, afirma Thomaz Machado, CEO da Scanntech.
No caso da Scanntech, os dados são coletados ticket a ticket —mais de 700 milhões por mês. A companhia diz que se forem somados, por exemplo, os faturamentos de seus clientes com os dados oficiais reportados por grandes grupos fora dessa base de leitura, o varejo alimentar já seria 20% maior do que a estimativa oficial.
A Scanntech afirma que a subnotificação de ao menos R$ 404 bilhões pode ser explicada pela dificuldade em coletar dados diretos dos pontos de venda, principalmente fora dos grandes centros de consumo do país.
O erro, neste caso, estaria no desenho da amostra para reportar o tamanho real do varejo alimentar.
À coluna, a Abras disse que o número da Scanntech é “superestimado” e que confia na parceria de mais de 40 anos com a NielsenIQ. A associação também afirma que segue monitorando a realidade do setor, fornecendo “dados confiáveis e auditáveis sobre a atividade”
“Por fim, levando em conta a Classificação Nacional das Atividades Econômicas do IBGE, seria necessário contemplar diversos outros estabelecimentos do varejo alimentar, sem relação nenhuma com o setor supermercadista, para se chegar à marca de R$ 1,1 trilhão citada no suposto estudo”, disse a Abras.
A Scanntech discorda.
“Conseguimos fazer um trabalho muito granular, de conectar cada um dos varejos. É uma coisa de bater de porta em porta, principalmente no cliente offline”, diz Priscila Ariani, diretora de marketing da Scanntech.
“Existia uma grande dificuldade em conseguir mensurar toda essa informação, mas conseguimos alinhar os dados do mundo digital com o físico através de API [interfaces de aplicação], utilizando tecnologia. É uma guinada em como a gente lê o varejo físico.”
Com uma nova leitura de mercado, a expectativa é de que as empresas possam reorganizar suas estratégias ajustando a cobertura do atendimento e entender se o mix de produtos comercializados é o ideal para cada região.
Fonte: Folha de S. Paulo