Nos últimos quatro anos, dobrou o número de estabelecimentos na capital especializados em fast food saudável. Sim, isso mesmo. Em vez de oferecerem as tradicionais junk foods (comidas processadas com excesso de gordura, açúcar e sal), as casas apresentam alternativas com poucos conservantes, ingredientes integrais, frescos e até orgânicos. Como o próprio nome indica, a rapidez do atendimento conta pontos — em menos de dez minutos, serve-se um “combo” — e as lojas ganham espaço em praças de alimentação.
Para reconhecer uma, basta prestar atenção ao ambiente. A maioria tem paredes verdes e vitrines que exibem frutas e saladas. Além disso, muitas dispõem de cercadinhos, separados das mesas coletivas. “Proporcionamos um refresco da barulheira dos centros comerciais”, diz Eliardo Rodrigues Filho, dono do Club Life to Go, criado há um ano e meio.
Com doze unidades (oito aqui na cidade) e faturamento de cerca de 30 milhões de reais em 2017, na segunda quinzena de janeiro ele abre sua primeira filial em shopping, no Top Center, na Avenida Paulista. Entre seus hits estão pratos adaptados para todo tipo de dieta, como o cookie low carb (com farinha de coco e sem açúcar, por 8 reais a unidade). “Teremos 25 endereços abertos até março de 2018”, diz Rodrigues Filho.
Dos aproximadamente 1 500 pontos de refeições expressas nos centros de compras, de acordo com a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop), estima-se que 5% apostem nesse nicho, com faturamento anual de cerca de 100 milhões de reais. Ainda é um aperitivo, em comparação com o império das sanduicherias — que representam cerca de 50% desse mercado, com receitas de cerca de 700 milhões de reais por ano só na capital, pelos cálculos da Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Mas a onda natural é uma aposta promissora. “Enquanto as redes de fast-food apresentam um crescimento de 9% em 2017, as marcas que oferecem refeições sadias devem ter um aumento de 25% no mesmo período”, diz Enzo Donna, diretor da consultoria ECD Food Service. À espera da filha Daniela, que deve nascer em março, a bancária Elisa Bellelis, de 37 anos, comemora as novas opções. “Pelo valor de um lanche, dá para comprar comida de verdade”, compara.
Um dos pioneiros a investir nesse setor foi Victor Giansante. Em dezembro de 2007, ele abriu a primeira franquia da americana Salad Creations, no Shopping Higienópolis. “Percebi que, além do saudável, as pessoas buscavam sabor e variedade”, conta. Em 2015, ampliou o menu, incluiu wraps como o de salmão (29,90 reais), crepes e criou a própria marca, Boali. Hoje, ela é a maior da área, com 32 lojas no país (catorze na Grande São Paulo) e faturamento anual de 42 milhões de reais. “Ingredientes específicos para as pessoas que praticam atividades físicas também fazem sucesso”, afirma Anderson Romero, da Homelete.
Por 3,90 reais a mais, pode-se enriquecer a omelete (que custa em média 20 reais) com whey protein, suplemento que é um hit entre frequentadores das academias. Da primeira loja, no Shopping Light, em 2015, ele passou para quatro pontos na cidade e deve alcançar seu primeiro milhão de reais neste ano.
Empresários dizem que o preço competitivo é um dos principais desafios. “Trabalhamos com produtos frescos, orgânicos, e isso costuma encarecer a operação”, explica Camila Stonis, uma das sócias da Tapiocaria Market, com três unidades em shoppings e a blogueira Gabriela Pugliesi como uma espécie de garotapropa ganda.
Para equilibrar a receita, Camila investe em ingredientes como carne-seca, açúcar de coco e a própria estrela da casa, feita à base de mandioca. Graças ao sucesso de pratos como a tapioca de frango e mussarela (24,90 reais), ela pretende expandir sua rede para dez unidades em 2018. “Até as grifes de fastfood, como McDonald’s, incluíram itens como saladas e frutas”, lembra João Baptista da Silva Jr., coordenador do comitê de food service da ABF. “Os administradores de centros de compras perceberam que se trata de um mercado em expansão e abrem espaços para esses negócios.”
Fonte: Veja SP