De vento em popa em plena crise, o varejo farmacêutico brasileiro não se deixa levar pelo conformismo e já mira no futuro para seguir crescendo. Além do produto principal – o remédio -, as grandes redes de farmácias querem consolidar serviços como identificação de riscos a doenças, acompanhamento do tratamento de clientes por farmacêuticos e aplicação de vacinas. Outra aposta do segmento é fortalecer as vendas dos chamados não-medicamentos.
Olhando um pouco mais à frente, o setor vislumbra inovações, como a utilização de receitas médicas eletrônicas, que poderão ser renovadas automaticamente, sem a necessidade novas consultas.
A inspiração para o futuro da farmácia brasileira está sendo procurada no presente, em outros países, onde o setor é porta de entrada do sistema de saúde. Isto é, pequenos problemas, como gripes ou reações alérgicas na pele costumam ser resolvidos na própria farmácia, sem a necessidade de se pagar mais caro ou esperar em grandes filas de consultórios médicos.
“Isso a gente vê muito claramente nos Estados Unidos, no Canadá, na Inglaterra. Ao invés de a farmácia simplesmente dispensar o medicamento, o profissional da área passa a ter uma outra ação, que é essa ação educativa e de aplicar vacinas. Nas farmácias dos Estados Unidos, você tem consultórios de atendimento mesmo, com médicos, com enfermeiros”, diz o presidente executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sérgio Mena Barreto.
Direcionamento
Por aqui, não é permitido que estabelecimentos farmacêuticos tenham consultórios médicos ou enfermeiras que realizem prescrições de remédios. A intenção não é substituir esses profissionais. A ideia é que os farmacêuticos deem o direcionamento inicial para a consulta médica.
As farmácias já dispõem no Brasil de pequenas “clínicas”, espaços privativos. Nelas, os farmacêuticos oferecem aos clientes exames preventivos para doenças como diabetes, hipertensão e colesterol alto; aplicação de vacinas; acompanhamento para a redução de peso e para o tratamento receitado pelo médico; dentre outros serviços. Esse modelo de assistência farmacêutica foi constituído pela Abrafarma e já está espalhado por cerca de 650 estabelecimentos no Brasil, inclusive no Ceará.
Além dos serviços de saúde dentro das farmácias, os não-medicamentos também são uma aposta já concreta e crescente do setor. Isso significa dizer que para o consumidor será cada vez mais comum encontrar, por exemplo, produtos de higiene, perfumaria e cosméticos nas farmácias. Esse tipo de item já representa cerca de 33% do total vendido nas farmácias hoje, segundo a Abrafarma, e eles têm potencial para chegar aos 50%, como nos Estados Unidos.
Cenário
No Brasil, existem cerca de 72 mil farmácias, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias. Destas, só 12 mil pertencem a redes e a grande maioria, 60 mil, são independentes ou estão interligadas por associativismo ou franquias. Entretanto, as 27 maiores redes de farmácias (6.200 estabelecimentos), associadas à Abrafarma, detém cerca de 43% das vendas de medicamentos do País.
As grandes redes atravessam a crise praticamente intactas. O faturamento não para de crescer, embora o ritmo do progresso tenha caído. Em 2014, quando a crise já dava os primeiros sinais, o crescimento foi de 12,81% em relação ao ano anterior, com R$ 32,39 bilhões em vendas, segundo a Abrafarma. Já em 2015, ano de plena recessão econômica, as redes atingiram o faturamento de R$ 35,94 bilhões, superando em 11,99% o ano anterior. Em 2016 a crise persiste, mas o resultado deste e dos próximos anos não será muito diferente.
E se não fosse uma questão fundamental, que inclusive afeta o bolso do consumidor, as farmácias teriam crescimento ainda mais pujantes. “Nós temos a maior carga tributária do mundo em medicamentos. A média no mundo é de 6% e tem muitos países que não cobram nada. Dependendo do instituto que calcula, essa carga aqui varia entre 33 e 36% no País”, destaca Sérgio Mena Barreto.