A Farm agora tem uma banda. Uma das principais marcas de moda feminina do país, que exporta há 20 anos o tal estilo de vida carioca para o resto do Brasil e para o mundo, anunciou, no começo do mês, a criação de um selo, cujo primeiro produto é a Flor de Sal. Flor de Sal é um duo formado por Micael Amarante, da banda Mohandas, e Karina Zeviani, que já cantou com Nouvelle Vague e Thievery Corporation. E não, Flor de Sal não é apenas um grupo contratado para o casting de um selo musical iniciante.
O primeiro disco, homônimo, está disponível nos principais serviços de streaming e traz dez faixas compostas pela dupla, que recebeu orientações da equipe de marketing da Farm sobre os temas e influências que os inspiram. Além disso, os músicos tiveram acesso a uma espécie de glossário com palavras que fazem parte do lifestyle da marca. As farmetes (como são conhecidas as consumidoras/fãs da marca) adoraram a ideia. Já quem estava interessado apenas na música não entendeu muito bem o conceito.
“ALGO QUE ACONTECEU”
Anunciado como uma gravadora, o selo da Farm já existe como empresa, mas ainda não tem nome ou mesmo diretor artístico. A primeira música de trabalho da Flor de Sal, “Natureza feminina”, passou das 6 mil audições no Spotify em menos de um mês (o que ainda é pouco, mas não é de se jogar fora), e conta a história de uma personagem que, assim como a Farm, tem 20 anos e avalia sua trajetória.
‘A ideia era gravar duas ou três músicas para celebrar os 20 anos da Farm (…) Essas músicas fazem parte do mundo imagético da marca, com referências e palavras com as quais a gente se identifica’
Com participação da cantora Lila, “Adoro” foi batizada com o slogan da Farm, enquanto “Tipo” traz os termos do tal glossário enfileirados. Neste sábado, a dupla, que lista Caetano, Gil e Rita Lee como influências, se apresenta no super-hypado Meca, em Inhotim (do qual a Farm é patrocinadora).
— Karina e eu já vínhamos compondo há algum tempo, ela participou do meu disco solo. Fizemos músicas novas e decidimos mostrar para a Farm — explica Micael, afirmando que a dupla teve total liberdade criativa após as orientações iniciais. — Ninguém pensava em fazer um projeto de verdade, uma banda. Foi algo que aconteceu. A ideia era gravar duas ou três músicas para celebrar os 20 anos da marca, e eles aprovaram tudo de primeira, curtiram, e pediram mais. Essas músicas fazem parte do mundo imagético da Farm, com referências e palavras com as quais a gente se identifica.
Todo o processo durou cerca de três meses, das conversas iniciais até a produção das fotos de divulgação, passando por composição e gravação, com produção musical de Filipe Rasta (“acho que foi tão rápido porque já havia uma sintonia que antecedia nosso encontro com a Farm”, justifica Karina). Selo e banda fazem parte de uma iniciativa de branding da marca, que já vem investindo em shows, festivais (como o Dia da Rua, na orla de Ipanema e Leblon, e o Eu Quero Festival, no Circo Voador) e rádio virtual.
— Já tínhamos uma relação ótima com o Micael por causa do Mohandas, e a Karina veio como a voz feminina, que é tão importante para a gente. Vimos os dois tocando juntos e percebemos que eles tinham o borogodó (palavra que, aliás, batiza uma música do disco) — explica Taciana Abreu, gerente de marketing da Farm. — Tivemos uma reunião para trocar ideias e demos a eles esse dicionário com palavras que expressam a marca, que é o principal material de branding da Farm, e lembramos que sempre seremos muito do Rio e do Brasil. A partir daí eles foram compor. Karina e Micael fizeram duas apresentações para a gente, só na voz e violão, e a gente chorou, ficamos muito emocionados. Eles foram muito habilidosos. Tudo o que está no disco identifica a Farm, mas eles compuseram para o mundo.
Segundo Taciana, a maior interferência da Farm foi o pedido para que eles regravassem “Glorioso”, hino do bloco de carnaval também patrocinado pela empresa (“e que tem uma importância institucional muito grande”).
— A ideia por trás disso tudo é: se um vestido viesse com uma música (própria) junto, como ela seria? São duas formas de arte e uma complementa a outra — diz Taciana.
Karina complementa:
‘Se um vestido viesse com uma música (própria) junto, como ela seria? São duas formas de arte e uma complementa a outra’
— A Farm nos deu as opções de tecido, nós escolhemos a estampa, a linha e fizemos o vestido que queríamos, juntamos as nossas inspirações e referências com as deles de uma forma superfluida e natural — argumenta.
— Depois do disco, a gente recebeu uma estampa deles com uma letra nossa. Estamos nos retroalimentando nesse processo — frisa Micael.
Taciana conta que o selo ainda não está em negociações para aumentar seu casting, mas quer continuar investindo nesse mercado.
— Queremos transformar isso uma plataforma de marca, por isso estamos experimentando e tentando entender como fazer isso de maneira saudável em termos de investimento e orçamento. Queremos ver como a banda acontece. A recepção nas lojas da Farm tem sido ótima, as meninas estão adorando. Mas não queremos que seja uma gravadora de uma banda só, queremos poder investir mais e abrir mais portas, só não sabemos ainda como. Temos vontade de abrir inscrições, fazer um grande chamado para bandas independentes do Brasil.
Fonte: O Globo