Que a Farm nasceu na Babilônia Feira Hype muita gente sabe. Mas e que, em 1997, apenas duas costureiras faziam todas as peças que iam para o estande no Jockey? E que uma delas, Dona Julia, antes de entregar as sacolas com a moda leve, solar e colorida da marca carioca pedia um minutinho para rezá-las? Parece que a reza forte de Dona Julia deu mesmo uma forcinha para abençoar os números e a trajetória da Farm. Vinte anos depois, são 70 lojas, 1.700 funcionários e um faturamento de R$ 450 milhões no ano passado. A grife carioca — que já nasceu como queridinha das jovens de classe média e alta da Zona Sul — tomou o Brasil e agora se prepara para conquistar o mundo. Há um ano, é vendida nos Estados Unidos pela Anthropologie. Em dois dias, voaram das araras da loja americana 1.200 peças de um mesmo vestido. Sem falar nas sete coleções em parceria com a Adidas, sendo que a última vendeu 1.333 milhão de peças em 131 países, sem incluir o Brasil.
Diretora de estilo da marca, Katia Barros, que antes da Farm auditava empresas na consultoria Ernst & Young, é a verdadeira alma da Farm, aponta o amigo e sócio Marcelo Bastos. Eles se conheceram por volta dos 14 anos, nos tempos de escola. Hoje, os dois não estão mais sozinhos no negócio. Desde 2010, a Farm faz parte do grupo Soma, que abriga também Animale, A.Brand, FYI, Fábula (infantil), Cris Barros e Foxton, a única marca masculina do grupo.
— A mágica do nosso relacionamento é que não tem litígio. Se eu não conseguir convencer a Katia de alguma coisa, a última palavra é dela. A gente, às vezes, diverge, mas não tem climinha. Passamos para todo mundo que trabalha com a gente essa energia positiva, a simplicidade e o trabalho verdadeiramente colaborativo.
Para muitas clientes, a Farm traduz um jeito bronzeado e sorridente de levar a vida, já que mais do que roupa, a grife vende lifestyle.
— Construir uma marca com tanta identidade e que ainda tem uma sensação de frescor me deixa muito feliz. A Farm é da rua — diz Katia.
Durante muito tempo, a marca não teve lojas em grandes shoppings (“apesar de ofertas mirabolantes”, lembra Marcelo) — uma decisão tomada para preservar a cara da grife — e nunca participou de semanas de moda. Hoje, a Farm está nos shoppings, sim, e sua moda se espalhou pelo país, com lojas em 22 estados sem contar o Distrito Federal, e num e-commerce turbinado pelo poder da grife nas redes sociais.
— Acho muito difícil alguma marca de moda brasileira vender mais do que a Farm no e-commerce. São R$ 4 milhões por mês — diz Marcelo.
Apesar de ser conhecida pelo estilo good vibes, a Farm não se livrou de tropeços. No final de 2015, uma cliente que disse ter sofrido ‘gordofobia’ na filial do Shopping Iguatemi de São Paulo soltou um textão no Facebook. Entre críticas pertinentes e haters que amam odiar a Farm, foram centenas de compartilhamentos. Antes disso, a marca já tinha sido acusada de apropriação cultural por mostrar uma modelo branca como Iemanjá.
— Não sofro nada porque todos os nossos erros resultaram em aprendizado. Hoje, o mundo é muito mais democrático. Não temos como calar a voz da internet e isso é maravilhoso. O Marcelo sofre com as polêmicas, mas eu não — conta Katia, que tem planos inclusivos para a marca: — Vamos fazer uma coleção sobre dança de rua e trouxemos a Lelezinha, que é a cara da Farm, para entender tudo. Ela veio ajudar a construir o conceito da coleção para a gente não pisar na bola. No ano que vem, pretendemos mudar a nossa grade de tamanhos. Estamos trabalhando nisso, mas é um projeto industrial. Hoje, se a gente quer falar de qualquer assunto, a gente primeiro estuda. Trazemos pessoas para palestrar na Academia Farm.
Para celebrar os 20 anos de história, a Farm espalhará amanhã sete palcos pela orla, do Leblon a Ipanema, onde acontecerá um grande Arraial Tropical. No Arpoador, haverá um desfile com o verão de 2018 da marca, que o ELA antecipa neste editorial de capa, com styling de Pedro Sales. A Farm também vai lançar neste mesmo dia a banda Flor de Sal, que oficializa a grife como a primeira marca de moda a se lançar como selo e gravadora musical.
Fonte: O Globo