Segundo especialistas, empreendedores ligados ao meio ambiente não recebem os investimentos necessários para que suas ideias avancem
Para especialistas, ainda é difícil engajar companhias e investidores em causas voltadas ao meio ambiente. Segundo Plinio Ribeiro, diretor da Biofílica, empresa de gestão de florestas, as companhias que investem em negócios sustentáveis já são “maduras” nessa agenda e enxergam ganho de mercado ao adotar medidas mais eco-friendly. “Iniciativas que resolvem um problema ambiental e geram dinheiro são bem vistas internacionalmente, mas não no Brasil”, diz. “O nosso maior desafio ainda é criar um ambiente no qual os empreendedores recebam investimentos.”
Lauro Marins, diretor executivo do Carbon Disclosure Project (CDP) na América Latina, concorda. Ele acredita que os investimentos em empresas por causa das estratégias de sustentabilidade delas ainda são um nicho no país. “O nosso mercado é jovem e mais imediatista”, afirma. “É um desafio fazê-lo compreender, mas também há muitas oportunidades”.
Para Eduardo Ferlauto, gerente sênior de Sustentabilidade da Lojas Renner, as empresas precisam associar as suas estratégias a iniciativas voltadas ao meio ambiente. “A aliança é importante porque um aprende com o outro”, diz. “Conseguimos expandir esses valores para nossas cadeias de produção e criar um movimento de engajamento.”
De acordo com Luciana Nicola, superintendente de sustentabilidade e negócios inclusivos do Itaú Unibanco, fomentar o empreendedorismo é peça-chave para gerar um ecossistema de inovação sustentável. “Como empresa, você está comprando crédito de carbono, mas ao mesmo tempo, gerando renda e novos empregos”, afirma. “Pela sustentabilidade, você conquista ganhos econômicos e sociais que não seriam possíveis.”
Necessidade de engajamento
Uma das iniciativas que visa fechar esse gap entre os novos empreendimentos e os investimentos é o Programa Compromisso com o Clima, criado em 2017 pelo Itaú Unibanco e pela Natura, em parceria com o Instituto Ekos Brasil. Por meio da plataforma Ekos Social, o projeto conecta empresas e investidores com empreendedores e projetos ligados ao meio ambiente. “A campanha mostra o nosso compromisso com o clima, mas também serve para engajar outras empresas na causa”, diz Keyvan Macedo, gerente de sustentabilidade da Natura.
De acordo com o Instituto Ekos Brasil, desde a criação do programa, as empresas reduziram suas emissões de carbono em três milhões de toneladas. Para Ana Moeri, coordenadora de projetos do Instituto, o programa representa mais visibilidade, influência e principalmente redução de custos para as companhias. “Pelas novas parcerias e fornecedores, as empresas dividem o custo técnico e jurídico”, afirma. “Ainda ganham a oportunidade de investir em projetos com menos risco e maior impacto.”
As Lojas Renner e a B3 aderiram ao programa no começo deste ano. Contudo, de acordo com as empresas, elas já vinham estabelecendo metas sustentáveis dentro dos seus negócios. “Pelo programa, estamos investindo na plantação de algodão orgânico com pequenos agricultores”, diz Ferlauto, da Renner. “Além de expandir nossa visão corporativa, ganhamos uma entendimento social que abre novas oportunidades.” De acordo com Ferlauto, em paralelo, a varejista de moda ainda tem criado programas de aceleração de startups para trazer soluções aos desafios que encontra ao longo da sua estratégia de sustentabilidade.
A B3 espera que sua maior contribuição ao programa seja trazer novas empresas e investidores para o projeto. “Temos a oportunidade de contribuir não só como empresa, mas também de criar um movimento no mercado”, afirma Sonia Favaretto, diretora de imprensa, sustentabilidade, comunicação e investimento social da B3.
Fonte: Época Negócios