O Sincovaga (Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de S. Paulo), por meio do programa Coexistir, e a consultoria Santo Caos, realizaram a pesquisa inédita “Engajamento no Varejo Alimentício”, com o objetivo de identificar o que impacta na experiência de quem trabalha em supermercados, sejam funcionários com ou sem deficiência, e apoiar as empresas em estratégias para se conectarem com esse público e reter talentos.
A metodologia incluiu imersão nas empresas, entrevistas com empregados e clientes e um candidato “espião”, que participou de processos seletivos. Ao todo foram 185 entrevistas com colaboradores (10 RHs, 19 gerentes, 58 funcionários com deficiência e 98 sem deficiência), com um total de 520 pessoas consultadas em 22 lojas da capital, entre maio e setembro de 2016.
O perfil do colaborador ? A pesquisa realizou um raioX dos colaboradores das lojas participantes e concluiu que 54% deles são homens, 80% têm idades entre 18 e 40 anos, 44% moram no mesmo bairro em que trabalham e 31% têm de 1 a 3 anos de atuação na mesma empresa.
Quando se fala em distribuição de cargos, há desequilíbrio. Do total de funcionários sem deficiência entrevistados, 40% ocupam vagas operacionais, 30% de média liderança, 16% de liderança, 8% administrativas, 2% são especialistas, e 4% ocupam outras funções. Já entre pessoas com deficiência, 97% estão em posições operacionais (repositor, caixa e estoque) e para mais de um terço deles este é o primeiro emprego.
No geral, os pontos positivos mais citados de trabalhar em supermercado foram o clima e os colegas (31%), cultura da empresa (12%), função que realiza (12%) e carreira e crescimento (5%).
A pesquisa avaliou os processos seletivos de pessoas com deficiência, com a análise de 12 lojas, 1 especialista em RH e 8 candidatos. Os contatos foram feitos pelo site, e-mail, telefone e entrega de currículo pessoalmente.
Entre as constatações está que a falta de feedback aos candidatos é comum, o que os leva a ficar esperando um contato sem nem mesmo saber se a vaga ainda existe. De um modo geral, a entrega do currículo nas lojas gera mais retorno do que o contato por outros meios (site, cadastros online).
Carreira e crescimento ? A pesquisa levantou o nível de conhecimento do público sobre o plano de carreira das empresas. No geral, 72% acreditam que podem crescer na empresa e 71% querem que isso aconteça. No que se refere a reconhecimento e motivação, 59% dizem que se sentem reconhecidos em seu trabalho, o que aparece de forma comum como resultado de elogios dos gerentes. Por outro lado, 13% afirmam nunca serem reconhecidos, o que abre a oportunidade para a criação de programas de reconhecimento estruturados.
Inclusão na empresa ? A interação entre funcionários com e sem deficiência é um destaque, com 81% dos entrevistados afirmando que ela ocorre de fato.
Para avaliar o nível de conhecimento sobre o potencial de uma pessoa com deficiência colocou-se a seguinte questão: “A pessoa com deficiência pode realizar qualquer função?” A maioria dos entrevistados (49%) respondeu “não”, “já que este público não pode assumir funções de muita responsabilidade, como mexer com dinheiro ou trabalhar no açougue”. Para 20% “depende”, pois como “uma pessoa com deficiência não é ágil e hábil, ela só poderia exercer funções que não exigissem essas características”. E, por fim, 22% opinaram que é possível, desde que recebam treinamento.
Na percepção dos funcionários, as deficiências que tornam a pessoa com deficiência mais capacitada para o trabalho são a auditiva, intelectual e física leve, enquanto as que a tornam menos capaz são a visual, física severa e física leve. Os dados são bastante preocupantes na medida em que apontam um olhar para a deficiência e não para a valorização das competências profissionais dessas pessoas.
Ações que promovam mudança de cultura devem ser uma preocupação constante das empresas. A percepção de igualdade de tratamento entre os funcionários com deficiência e os demais é parecida nos dois públicos: 70% acham que ele é igualitário. Entretanto, justamente alguns dos que dizem não haver discriminação julgam a pessoa com deficiência “alguém que necessita de ajuda”.
Engajamento ? Segundo a consultora Santo Caos, a média geral de engajamento, numa escala máxima de 5 pontos, foi de 4,2 pontos para gerentes, 3,9 pontos para funcionários sem deficiência e 3,8 pontos para os funcionários com deficiência. Se considerarmos cada público, o maior fator de engajamento para pessoa com deficiência é o orgulho, seguido do comprometimento. Já para funcionários sem deficiência, destacam-se a conscientização e o orgulho. No caso dos líderes, os mais citados são o compartilhamento e o orgulho.
Quebrar paradigmas ? “Os resultados mostram que a mentalidade precisa mudar. Sem isso, a cota de contratação de pessoa com deficiência será sempre um número inatingível, e a inclusão, um objetivo distante”, afirma Alvaro Furtado, presidente do Sincovaga.
“Esta pesquisa é pioneira e por isso os seus resultados serão essenciais para apoiar as empresas em seus programas, além de aperfeiçoar o processo de recrutamento e seleção, garantindo não apenas a “oportunidade”, mas o verdadeiro desenvolvimento da carreira dessas pessoas”, afirma Maria de Fátima e Silva, coordenadora do programa Coexistir, do Sincovaga.
“Um ponto positivo da pesquisa é o quanto o funcionário com deficiência se sente integrado, desenvolve um vínculo emocional com os colegas e com a atividade. O que nos surpreendeu negativamente foi a infraestrutura das lojas, a falta de acessibilidade, que impacta na qualidade do trabalho e na motivação da pessoa com deficiência, e que é pouco discutido. Isso foi até mais citado que o salário e a jornada”, completou Daniel Santa Cruz, sócio da consultoria Santo Caos, responsável pelo levantamento.
Fonte: Infomoney