O consumo das famílias já foi um motor de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas não apresenta neste ano sinais claros de melhora. Dados do Monitor do PIB, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), indicam para o consumo das famílias uma queda de 5,2% no trimestre móvel de maio a julho, ante o mesmo intervalo de 2015, com taxas negativas em todos os bens de consumo. Uma pesquisa inédita realizada pela consultoria The Boston Consulting Group (BCG) com a Cielo revelou, no entanto, a existência de “ilhas” de crescimento para vendas de 11 categorias do varejo.
Considerando o perfil de compras em mais de 5 mil municípios no país, o consumo cresce em dois tipos de cidades: as que têm a economia concentrada em exportações do agronegócio e cidades do interior do Nordeste, em geral.
Enquanto o consumo no país como um todo encolheu 1,3%, nas zonas agro exportadoras, houve aumento de 1,3%; e, no interior do Nordeste, incremento de 0,8%. Em queda estão as regiões da Amazônia (retração de 2,8%), regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília (2,2%), outras capitais (1,9%) e interior das regiões Sul e Sudeste (0,4%).
Daniel Azevedo, sócio e diretor administrativo do BCG, observou que, em média, as cidades do interior apresentaram crescimento a uma velocidade 1,8 ponto percentual maior do que nas regiões metropolitanas. “Essa tendência por região observada em 2015 também se mantém neste ano, mesmo com uma estabilização recente nas quedas do varejo”, disse.
De acordo com o estudo, as três metrópoles (São Paulo, Rio e Brasília) são as mais representativas para o varejo, respondendo por 39% das vendas do setor. Em seguida estão as outras capitais, com 31% do varejo; interior das regiões Sul e Sudeste, com 22%. As cidades agroexportadoras respondem por 5% do varejo, o interior do Nordeste responde por 3% e a região amazônica, por 1%.
As farmácias tiveram o melhor desempenho de vendas, com crescimento no país de 7,6% e expansão em todas as regiões. As maiores altas foram nas regiões do interior do Nordeste (9,6%), capitais (9%) e cidades agroexportadoras (7,7%). A segunda categoria que cresceu em todas as regiões foi a de combustíveis, com alta de 2,3% no país e crescimento acima da média no interior do Nordeste (4,2%), região agroexportadora (3,3%) amazônica e capitais (2,5% em ambas).
Outras seis categorias do varejo tiveram desempenhos mistos. A categoria de supermercados cresceu 0,8% em vendas em 2015, sendo que as vendas só caíram nas metrópoles de São Paulo, Rio e Brasília (0,6%). O maior incremento em regiões agroexportadoras (com alta de 5,2%), seguido pelo interior do Sudeste e Sul do país (2,4%) e região amazônica (2,4%).
O varejo alimentício especializado (padarias, lojas de conveniência e outros) apresentou expansão de 1% no país, com expansão em quatro regiões. O maior aumento foi nas regiões agroexportadoras, com alta de 4,4%, seguidas pelo interior do Nordeste (3,6%), interior do Sudeste e Sul (2,8%) e capitais (1,2%).
Na categoria de autopeças e automotivo, houve queda no país de 1,1% em vendas, mas houve crescimento em três regiões: agroexportadoras (1,4%), região amazônica (1,3%) e interior do Sudeste e Sul (1,1%). A área de turismo, que teve queda de 2,5% no país, também apresentou crescimento em três regiões: interior do Nordeste (3,8%), agroexportadoras (0,5%) e interior do Sudeste e Sul (0,4%).
O setor de bares e restaurantes encolheu 1,3%, mas apresentou crescimento em duas regiões. No interior do Nordeste, houve crescimento de 2%. Nas regiões agroexportadoras, as vendas aumentaram 0,7%.
No setor de materiais de construção, apenas a região agroexportadora apresentou crescimento em vendas, de 0,1%. No país, a categoria encolheu 2,7%. Os setores que apresentaram queda em todas as regiões do país foram eletrônicos, móveis e decoração (com queda de 9,1% no país); vestuário, com queda total de 7,5%; cosméticos e itens de cuidados pessoais (1,6% de retração nacional).
Gabriel Mariotto, gerente de inteligência da Cielo, disse que já era esperado um desempenho mais favorável em regiões agro exportadoras, devido ao rápido enriquecimento dessas áreas nos últimos anos, e no interior do Nordeste – nesse caso, principalmente por conta do turismo, em cidades como Sobral (CE), Cairu, município da praia Morro de São Paulo (BA), Juazeiro (BA) e Garanhuns (PE).
Já a região amazônica teve os piores resultados do varejo, devido à dependência da região em relação à mineração e produção de óleo e gás, observou Azevedo, do BCG. “Os dados até agora não mostram uma recuperação na economia. Talvez ela venha no ano que vem. Mas a recuperação também será heterogênea, mantendo a tendência observada até agora”, afirma Azevedo.