Por Redação | Depois de uma sucessão de trocas na cadeira de comando, João Pinheiro Nogueira Batista assumiu a presidência-executiva da Marisa em fevereiro deste ano e, desde então, lidera o plano de reestruturação da companhia. O processo envolveu o fechamento de 88 lojas, o enxugamento de pessoal e a renegociação de R$ 200 milhões de dívidas com bancos, além da negociação com fornecedores.
O passo mais recente desse processo foi dado nesta segunda-feira: a parceria firmada com a Credsystem para a área de créditos e empréstimos. Ao GLOBO, ele diz que o objetivo, com o acordo, é aumentar a concessão de créditos e ajustar as contas desse braço da empresa. Ao mercado, a Marisa projetou uma receita de R$ 7 bilhões ao longo dos quinze anos de contrato.
Depois de uma sequência de resultados ruins para o varejo, a expectativa do CEO da Marisa é de um segundo semestre melhor. O foco, para empresa, é em uma “agenda positiva”, o que pode incluir até a expansão das operações. Depois de um pente fino que fechou lojas em vários cantos do país, Batista conta que começou a olhar oportundiades, mas que a ideia “não é abrir loja por abrir”.
Em entrevista algumas horas depois de anunciar a nova operação no setor de crédito, o executivo falou ainda da concorrência que, para ele, continua “desleal” com as varejistas asiáticas e do que pensa sobre uma possibilidade de venda da Marisa.
Confira os principais trechos da entrevista:
Qual sua expectativa para o varejo no segundo semestre?
O segundo semestre deve ser um pouco melhor. Os juros estão baixando devagarinho, mas estão baixando. A pressão contra as plataformas asiáticas está aumentando. A gente espera que o crescimento paulatino se estabilize até o final do ano no varejo. A tendência é de melhora. O pior já passou. A embicada para baixo ficou para trás.
O pior já passou também para a Marisa?
Certamente, o que tinha que ser feito de reestruturação, está feito. Agora a gente entra em uma fase de ajuste. Começamos uma agenda positiva. Semana passada fui para Recife para inaugurar uma loja. Quem sabe a gente começa, aqui ou ali, a ver oportunidade de abrir novas operações.
Que tipo de novas operações?
Vamos começar olhar as oportunidades para novas lojas, de forma muito seletiva. A ideia é ser bem seletivo para olhar as oportunidades e eventualmente abrir lojas em lugares onde a gente não esteja e sejam muito rentáveis. Não é só abrir loja por abrir. Por exemplo, no Rio de Janeiro. Nossas lojas estão na Grande Rio, não estamos na Zona Sul. Só para citar um exemplo. Será que nós temos que nos posicionar na cidade do Rio de Janeiro? Ou não?
Vocês já fizeram esse mapeamento?
Ainda não. Vamos começar agora. E tem outros locais assim como aquele que fizemos a reinauguração em Recife, na semana passada. Nós tínhamos duas lojas em um mesmo shopping. Juntamos as duas em uma só e fomos para um andar maior. Nesse tipo de ajuste, vão ter muitas oportunidades. Vamos se criativos, trazer novas ideias.
E mais para o médio prazo, o que está no radar? Pode ser a venda da empresa?
Não. Não temos planos de vender. Esse é o momento de organizar a empresa. Mas é um setor que, no futuro, e agora não é o caso, pode ser que requeira equilíbrio de consolidação. Aí estaremos prontos para sermos consolidador e não consolidado. Vamos estar na ponta compradora. Isso tudo pode vir (a acontecer) em um mercado que cresce e que necessite de consolidação. Nós queremos estar organizados e prontos para participar disso.
Em quanto tempo?
Não sei, vai depender da retomada economia brasileira. Primeiro vamos estar com a empresa tinindo.
O senhor citou as varejistas asiáticas. O jogo ficou mais equilibrado com o Remessa Conforme?
Ainda não. O Remessa Conforme pelo menos é uma plataforma que coloca todas as informações no mesmo lugar. A plataforma organiza a confusão. Mas agora precisam vir as (mudanças nas) alíquotas de importação. Eles continuam vendendo aqui no Brasil de forma não isonômica. Ficou uma concorrência organizada, mas que continua desleal. Esperamos que o Ministério da Economia cumpra a promessa de impor alíquotas de importação adequadas. Nós não estamos pedindo nada demais. Só queremos isonomia.
Como está o processo de renegociação de dívidas da Marisa, com os fornecedores, por exemplo?
Essa parte está toda equacionada, está toda negociada. O que faltava era fazer um ajuste na estrutura de capital. Essa transação que fizemos (parceria com a Credsystem para operar serviços de crédito) tem esse viés de resolver estrutura de capital porque permite que mais para frente eu acerte as contas do banco (MBank, da Marisa).
O que muda para os consumidores a partir do acordo com a Credsystem?
O cartão continua sendo Marisa. Mas a nossa expectativa é que melhore muito (o serviço). Estamos colocando uma empresa que entende do negócio e que faz isso há 27 anos. Nossa expectativa é que aumente a concessão de crédito para o cliente – o que, na nossa perspectiva, ainda está muito limitado.
De quanto deve ser essa expansão na concessão de crédito?
Hoje temos uma carteira de R$ 400 milhões. Nós precisamos aumentar bastante para chegar a uma receita de R$ 7 bilhões (nos próximos 15 anos, previsão que foi enviada ao mercado). Mas o potencial de crescimento da carteira é grande.
Por que apostar no braço de crédito depois de mais de dois anos de contas no vermelho, em um momento em que os juros continuam altos e a inadimplência ainda preocupa?
Dar crédito para o nosso cliente é importante. Nós queremos vender. O cliente precisa de financiamento para que possa comprar a prazo ou ter empréstimo direto. Mas nós não somos um banco, não sabemos dar crédito. Essa é uma operação sofisticada que precisa de mecanismos sólidos, de análise de risco, de sistema de crédito que não tínhamos. Por isso estamos entregando isso para um parceiro que sabe fazer. Para eles, o que é importante na parceria? O acesso que nós temos.
O comunicado ao mercado desta segunda-feira falou que a parceria vai diminuir o risco para o braço de serviços financeiros na Marisa. Como?
Diminui o risco porque somos uma empresa de varejo que não sabe dar crédito. Não é a nossa especialidade. Quando você cria um banco, está sujeito e precisa cumprir as normas de uma instituição financeira impostas pelo Banco Central, incluindo capitalização mínima e o Índice de Basileia (indicador internacional que analisa saúde financeira das instituições bancárias). Quando você erra a mão, como erraram no passado, fica com uma PDD muito grande (Provisão para Devedores Duvidosos, que é a reserva de valores voltados para suprir a inadimplência). Aí você precisa colocar capital no banco, como fizemos. É um dinheiro que poderia ter sido investido na minha operação principal.
Com esse acordo, a Marisa entra numa fase de reestruturação do braço financeiro?
Na verdade faz parte da mesma estratégia. Consertar várias coisas, inclusive a má operação do banco. Com isso, a gente conclui essa fase (de reestruturação). Das grandes medidas, era o que faltava. Agora é focar no nosso dever de casa, fazendo o que a Marisa sabe fazer há 75 anos, que é moda.
Fonte: PEGN