Segundo Paulo Correa, embora a dinâmica de preços de custo venha desacelerando, o aperto monetário com aumento de taxas de juros e inflação tem consequências
Por Daniela Braun
Após um primeiro semestre com avanço em vendas estimulado por um inverno mais rigoroso e antecipado, a varejista de moda C&A mostra cautela na projeção para a segunda metade do ano, diante do patamar de juros altos e dos efeitos da inflação.
“Estamos cautelosamente otimistas com o segundo semestre”, disse Paulo Correa, presidente da C&A, em teleconferência com analistas.
Segundo Correa, embora a dinâmica de preços de custo venha desacelerando, o aperto monetário com aumento de taxas de juros e inflação têm consequências. “Acreditamos que 2º semestre não será tão forte como o primeiro”, disse o executivo. Ele observou, entretanto, que a operação da C&A está muito mais forte em lojas multicanais e em novos formatos.
A receita operacional líquida da empresa somou R$ 1,6 bilhão, superando em 38,7% o resultado do segundo trimestre de 2021.
O segundo trimestre apresentou ”clara recuperação dos resultados” com uma retomada à normalidade após o auge da pandemia. “Este é o primeiro trimestre com lojas abertas sem impacto da pandemia”, completou.
Entre abril e junho, a C&A abriu dez novas lojas e pretende reduzir a velocidade de abertura de novas unidades nos próximos meses. As vendas mesmas lojas ficaram em uma média de 30% no trimestre.
O lucro líquido nos três meses encerrados em 30 de junho foi de R$ 2,1 milhões, 97% inferior ao lucro de R$ 69,2 milhões obtido um ano antes.
Segundo a empresa o resultado foi impactado por efeitos não recorrentes especialmente por um volume de R$ 114,3 milhões em despesas financeiras com aumento da dívida e da taxa de juros.
Nos próximos trimestres, o foco da varejista está em preservar caixa e recuperar a margem bruta de vendas observada antes da pandemia.
Nos três meses encerrados em 30 de junho, a margem bruta de vestuário ficou em 55,9%, refletindo as vendas de inverno a preços cheios. As vendas na categoria cresceram 39% ante o mesmo período de 2021.
Em eletrônicos e produtos de beleza, a margem de 21,6% foi favorecida com o lançamento da marca própria de produtos de beleza no trimestre.
Para Correa, a chegada do 5G ao Brasil deve surtir efeito nas vendas de smartphones da rede a partir de 2023, quando a nova geração das redes móveis começar a se popularizar.
A redução da alavancagem é outra meta da C&A. A empresa encerrou o segundo trimestre, com dívida líquida de R$ 1,2 bilhão.
As despesas operacionais somaram R$ 579,3 milhões, 28,6% acima do verificado um ano antes. Neste intervalo, as despesas com vendas somaram R$ 464,9 milhões, um avanço de 33,4%. “Isso reflete o aumento da nossa base de vendas, sem deixar de considerar o impacto da inflação”, disse o CEO.
A companhia segue ampliando a participação das vendas em canais on-line. “O digital é uma operação muito consistente, com 14% a 15% das vendas totais”, disse Correa. Ele destacou as vendas por WhatsApp, com valor médio (tíquete) alto e maior volume de retirada dos pedidos em loja, bem como a redução do prazo de entrega para até 24 horas nas vendas on-line para a região metropolitana de São Paulo.
Na área de serviços financeiros, incluindo a carteira digital C&A Pay, a empresa contabilizou uma base de 1,5 milhão de cartões, entre abril e junho, que representou 13% das vendas, e elevou o limite de crédito médio para R$ 790 com taxa de aprovação de 35%. O índice médio de inadimplência de 19,4% no C&A Pay tem um patamar aceitável, segundo a companhia.
Fonte: Valor Econômico