Uma pesquisa da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) obtida pelo Broadcast indicou que 90,1% das indústrias de São Paulo estão pessimistas em relação aos preços dos insumos em 2020. Para 2021, a porcentagem de pessimismo é de 65,7%. A sondagem interna feita com 414 indústrias paulistas mostrou que houve aumento em todos os insumos utilizados. O reajuste ponderado destes custos foi de 22,8% de janeiro a agosto deste ano. A taxa das empresas que pretende repassar esses preços ao consumidor é alta. São 58,5% as indústrias que pretendem transmitir parcialmente os custos para o preço final e 37,4% os que pretendem repassar totalmente os custos para o preço final. O documento da Fiesp destaca que “o repasse dos custos, seja parcial, seja total, é avaliado por parte considerável das indústrias do Estado de São Paulo”. As respostas a essa sondagem foram múltiplas, assim, o resultado soma mais de 100%. Outra solução apontada pelos industriais para lidar com a alta dos insumos, por exemplo, foi “buscar outros fornecedores por menor preço”, caminho apontado por 60,9%. “A questão do repasse é sempre um cabo de guerra. Só se repassa o quanto o mercado aguenta, pois há concorrência. Embora estejamos pressionados nos custos, principalmente em razão do câmbio”, diz André Rebelo, economista e assessor de assuntos estratégicos da Fiesp. Ele explica que o poder de repasse limitado da indústria ao consumidor final explica o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) ter uma variação maior em relação ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo. Nas conversas para ver quem absorve mais a alta de preços, algumas categorias de produtos tem mais espaço que outras para aumentos. Isso, porém, depende do consumidor. “Com o Auxílio Emergencial, temos uma demanda mais aquecida. Enquanto a oferta de produtos é menor. Nessa situação, se o varejo endurecer demais nas negociações, pode ficar sem produtos”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra. Rebelo afirma que a alta nos preços de insumos e matéria prima é motivada, em sua maior parte, pela desvalorização do câmbio, que não deve ser revertida tão cedo. “Uma taxa de câmbio que se desvaloriza 30% vai ter impacto significativo na economia. Essa variação de preço não é sazonal. É fruto de um choque bastante forte. Tende a provocar efeitos reais na economia. Provoca aumento da exportação e queda da importação. É um movimento clássico. Vai acontecer”, explica Rebelo. No entanto, para além do real desvalorizado, o país vive um descompasso entre oferta e demanda. Já que durante a pandemia a indústria reduziu sua produção e estoque e, agora, a demanda foi reaquecida, sem que os estoques estivessem normalizados. Enquanto isso, no mundo, a forte retomada chinesa também ajudou a desequilibrar a oferta de produtos internacional. “Hoje temos uma demanda alta. Com a demanda mais firme consegue-se repassar mais o choque de preços. Mas há vários elos na cadeia e todos estão nesse cabo de guerra. A distribuição sabe que esse nível de demanda não vai permanecer. A pergunta de um milhão de dólares é qual é a nova demanda depois da retirada dos estímulos. Agora, independentemente da demanda, temos um choque de custos”, conclui o economista da Fiesp. Sem insumos Quanto à disponibilidade dos insumos e a dificuldade da indústria em encontrá-los, a pesquisa identificou os setores mais preocupantes. Papelão, aço e plástico estão entre os insumos mais utilizados pela indústria paulista. A sondagem mostra, porém, que para 22,5% dos pesquisados o papelão está em falta e 59,5% tem dificuldades para encontrá-lo. A alta de preço nos últimos meses para esse insumo é de 30%. Quando se trata de aço, 67% dos pesquisados têm dificuldade de encontrar o insumo e 14,1% veem o produto totalmente em falta. O documento aponta alta de 33% no preço médio dessa matéria prima. Eduardo Terra avalia que a indústria brasileira vive um “desabastecimento crônico” de insumos. “Por enquanto, não percebemos o cenário de desabastecimento na ponta. O varejo e o atacado tem trabalhado para que isso não aconteça”, diz. Ele afirma que as empresas de varejo tem buscado aumentar seus estoques, enquanto a indústria procura substituir insumos. Fontes da indústria ouvidas pela reportagem afirmam, por exemplo, que buscaram a reutilização de caixas de papelão ou mesmo a substituição por caixas de madeira para o transporte. Além disso, para buscar um repasse maior dos preços, uma saída recorrente é buscar lojistas menores, para escapar do poder de fogo de grandes redes varejistas nas negociações. O documento da Fiesp alerta ainda que, no caso do aço, “os reajustes dos preços dos importados foram maiores que os dos nacionais. Portanto há possibilidade de reajustes nos próximos meses”. Para alguns produtos, inclusive, a alteração já teria sido comunicada. Quanto ao papelão, a sondagem da Fiesp conclui que “o equilíbrio entre a oferta e demanda se dará se ainda houver capacidade ociosa e, no médio prazo, com novos investimentos. Enquanto isso não ocorrer, é possível que ocorram novos reajustes de preços”. Contato: talita.ferrari@estadao.com
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