Modelo focado em pequenas compras de supermercados ganha força com o crescimento da demanda online e da exigência pelo tempo de delivery
Por Daniela Braun
O modelo de entrega super-rápida de pequenas compras de supermercado, que vem ganhando o mercado europeu, começa a abrir espaço por aqui, contando com a demanda elevada durante a pandemia.
No Brasil, as vendas on-line do segmento de autosserviço – hipermercados, supermercados e mercados de bairro – somaram R$ 4,7 bilhões em 2020, o que representa uma alta de 11% sobre o faturamento de 2019, e de 22% em volume de itens vendidos, segundo a Ebit|Nielsen.
Na segunda onda da pandemia, a entrega super-rápida busca atender o consumidor mais exigente com prazos de entrega e qualidade para o chamado consumo imediato.
O Rappi, que informa ter ampliado em 79% as vendas de supermercados na plataforma em 2020, começou a testar a entrega ultra-rápida em fevereiro. O serviço disponível em alguns bairros das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro promete entregar compras a partir de R$ 30, com até 15 itens, no prazo de dez minutos.
A ideia da empresa é se adiantar a concorrentes europeus como as berlinenses Flink e Gorilla e as londrinas Dija e Weezy, além da Getir, startup sediada em Istambul, na Turquia, avaliada recentemente em US$ 2,6 bilhões.
Fundada em 2015, a empresa vem expandindo suas entregas em até dez minutos na Europa e já sinalizou interesse no Brasil.
Diferentemente de uma compra de mercado por aplicativo, em que o próprio entregador seleciona os itens, no modelo super-rápido, os pedidos são selecionados por times internos em pequenas lojas próprias, as “dark stores”, que estocam os produtos mais pedidos.
O Turbo 10, do Rappi, inicia sua operação com 18 lojas – 16 em São Paulo e duas no Rio de Janeiro – que atendem um raio de até dois quilômetros em bairros com perfil de alta renda.
O modelo do Rappi foi acelerado com a aquisição da startup Avocado, em junho, por uma quantia não revelada.
Mariam Topeshashvili, fundadora da Avocado, hoje diretora de “dark stores” do Rappi, conta que a ideia de entrar no segmento surgiu quando morava em Chicago, nos Estados Unidos, e fez a compra on-line de um abacate para um prato mexicano de última hora. “O ‘avocado’ veio parecendo uma pedra”, lembra.
Com a formação em Ciência Política e Economia pela Universidade de Harvard e o interesse pelo varejo, a georgiana naturalizada brasileira voltou ao Brasil e lançou o Avocado, em 2018, para entregas rápidas na categoria de mães e bebês. “Conseguimos um índice de retenção de 90% e 3 mil entregas, mas a pandemia direcionou os consumidores aos supermercados e aí a Rappi nos abordou”, diz a empreendedora.
A proposta do Rappi é chegar a 40 lojas em meados de maio, 60 no primeiro semestre e 100 até o fim do ano, em bairros de Belo Horizonte, Curitiba, do Recife, de Fortaleza e Campinas, no interior de São Paulo. O México também está na rota do novo serviço este ano.
Embora exija capital de giro, segundo Mariam, o modelo tem um custo operacional reduzido comparado ao de um supermercado tradicional.
“Hoje, os itens que mais saem são bebidas e notamos um aumento em pedidos de petiscos e mercearia”, diz a executiva. “A diferença é entender que o cliente quer um produto de qualidade e pronto para consumo.”
Pesquisas rápidas com clientes do aplicativo ajudam a identificar o que é essencial nas “dark stores”. Saladas prontas e pães artesanais entram em breve nas prateleiras atendendo a pedidos.
Para aproximar os varejistas e atrair clientes, a empresa lançará corredores exclusivos de algumas redes de supermercados voltadas ao público de alta renda.
A rede Mambo já fechou negócio para ter entre 60 e 250 itens de consumo rápido nas “dark stores”, como queijos importados, por exemplo.
Diante da iminente chegada da concorrência, Mariam diz que a empresa vem abrindo o jogo com os varejistas para tê-los como aliados. “Sabemos que é um mercado de nicho, mas de alta frequência e valor médio de compra”, observa a executiva. “Os concorrentes chegarão sem dó nem piedade dos supermercados”, prevê.
Fonte: Valor Econômico