Os engenheiros mecânicos Diogo Santos, Raul Calheha e Thierre Penteado trabalhavam na área e tinham tudo para continuarem subindo na hierarquia corporativa. Porém, tinham outro sonho em mente – trabalhar com o que realmente era sua paixão: a cultura pop.
“Com 26 anos, eu tinha uma carreira que tinha tudo para dar certo, assim como meus sócios. Mas a vontade de criar nosso próprio negócio a partir do nosso hobby fez com que a gente quisesse largar tudo isso”, afirma Soares.
Os três engenheiros saíram de seus empregos e abriram, em abril de 2015, o clube de assinatura Nerd ao Cubo: um negócio voltado para o público gamer, geek e nerd. Em apenas um ano de empresa, o clube vendeu 25 mil caixas.
“Em determinado momento, uma empresa em que já havia trabalhado me convidou para voltar. Depois que conseguimos que nosso hobby virasse nosso ganha-pão, eu acho que não serei engenheiro nunca mais, ainda que essa área seja um prazer para mim”, conta Soares. “Ter recusado voltar para um emprego seguro é uma prova de que a gente acredita muito no que estamos fazendo.”
História
O próprio nome, “Nerd ao Cubo”, faz referência ao fato de a empresa ter sido criada por três sócios. A ideia do negócio surgiu em março de 2014, pensando em juntar o sucesso que o modelo de clubes de assinaturas estava fazendo e um interesse comum de Calheha, Penteado e Santos: o universo dos videogames,quadrinhos e seriados.
Eles dividiram as tarefas, no esquema de sócios complementares: Soares ficou com a parte comercial e de comunicação; Penteado cuida da operação e do financeiro; e Calheha é responsável pelo marketing e pela curadoria dos produtos (ainda que todos gostem de dar pitacos sobre a seleção).
De um dia para o outro, os empreendedores colocaram a ideia no papel. Mas a estruturação do negócio em si levou meses. “Apostamos economias e horas de sono em um universo que a gente acredita muito. Não é simplesmente comprar produtos e revender. Passamos cinco meses fazendo o plano de negócios e depois buscamos marcas que tínhamos interesse em fazer negócio, batendo na porta mesmo”, diz Soares.
No começo de 2015, havia mais uma dessas visitas, à empresa Universal Pictures. “Aconteceu algo muito legal: eles deixaram que nós fizéssemos o lançamento da marca no cinema particular deles, junto com a Sony, para uma série de influenciadores. Criamos uma caixa de teste e os influenciadores gostaram tanto que saíram divulgando. Deu um boom imenso ao projeto”.
A venda da primeira caixa começou em maio do mesmo ano, em parceria com a Universal Pictures. É comum cada box possuir vários parceiros, já que essa divulgação é benéfica para as marcas.
“Procuramos parceiros com bastante antecedência e vemos se eles têm a intenção de participar. Hoje, por exemplo, estamos negociando as caixas de outubro e novembro”, conta Soares.
Como funciona?
Todo mês, o assinante do Nerd ao Cubo recebe uma caixa, que possui entre cinco e sete itens. Há produtos como camisetas, bonecos, bottons e até doces temáticos.
Os critérios para seleção são adequação ao tema do mês, exclusividade do item e novidades no setor. “Nosso público gosta muito do que é limitado. Por isso, tentamos sempre colocar itens que você só irá encontrar conosco, ou algo que acabou de ser lançado. Porém, também não deixamos de falar de assuntos icônicos, como Cavaleiros do Zodíaco ou Star Wars, mesmo que não haja nenhuma novidade em vista”, explica Soares.
O tema da caixa costuma ser genérico, para incluir vários itens de lançamento – na última caixa foi “Resistência”, por exemplo. Além de poder aumentar a diversidade de produtos, o nome genérico ajuda a não contar o que virá dentro do box, criando curiosidade nos assinantes.
A assinatura custa 59,90 reais mensais, sem contar o frete. “Uma das nossas intenções, quando começamos o negócio, era provar que é possível consumir produtos desse universo pagando menos. Produtos como consoles, jogos, camisetas e bonecos colecionáveis possuem os preços muito inflados, especialmente aqui no Brasil”, diz Soares. “Fixamos um valor que nós concordamos que pagaríamos pelo conteúdo que vem dentro e que também cobriria nossos custos de operação, deixando alguma margem de lucro.”
Por isso, o Nerd ao Cubo decidiu investir no modelo de clubes de assinatura, que costumam fazer compras mensais de grande quantidade, negociando valores menores por conta do volume adquirido. Além disso, as parcerias de divulgação também abaixam o preço final da caixa.
O box do Nerd ao Cubo é composto, então, por uma mistura de itens com preço reduzido e outros totalmente gratuitos (geralmente em tamanho de brinde, por meio de um acordo de permuta por mídia).
Redes sociais
A grande estratégia da Nerd ao Cubo para ganhar novas assinaturas (e manter as antigas) é apostar nas redes sociais.
A comunicação online com os usuários começa antes mesmo da caixa ser finalizada. “Os usuários sabem que trabalhamos com lançamentos e fazem pedidos. Por exemplo, agora estamos recebendo muitas sugestões de Game of Thrones, por conta da estreia da nova temporada. Nós analisamos esses pedidos e vemos o que é possível fazer”, explica o sócio.
Até agora, não houve nenhum investimento em publicidade do clube – o negócio cresce com a própria mídia espontânea feita pelos seus assinantes. “É um tipo de produto que alguém só assina se realmente se interessar por esse universo. Por isso, eles são também muito engajados: assim que recebem a caixa, tiram fotos e fazem vídeos sobre o que veio no mês.”
Porém, como em todo clube de assinatura, é preciso manter a satisfação para que a grande publicidade não vire grande reclamação. “Nossos próprios assinantes divulgam o produto, mas, para isso, precisamos impressioná-los. Ou seja, o que não investimos em mídia realocamos em qualidade da caixa.”
Ter consistência nos produtos ajuda também na fidelização: 80% dos consumidores da Nerd ao Cubo estão com o negócio desde os primeiros meses.
Planos e conselhos
A Nerd ao Cubo informa que existem interessados em entrar no negócio como investidor ou acelerador, mas que não há nada acertado ainda. “Sabemos que, mantendo nossa estrutura como está, algum dia nosso crescimento atingirá o limite. Agora funciona muito bem, mas talvez precisemos de investimento no futuro”, diz Soares. Para este ano, a ideia é alcançar 100 mil caixas comercializadas.
O empreendedor dá alguns conselhos para quem também quer abrir um clube de assinatura – um setor em que poucos se destacam. “Um dos pontos mais importante é a curadoria, ou seja, o cuidado ao escolher os produtos. Tenha paixão pelo que você vende e estude o mercado; trabalhando com algo que você ame muito é mais provável que sua curadoria seja melhor e que seus consumidores gostem. Fazer algo simplesmente porque acha que dá dinheiro não é uma boa estratégia.”
Além disso, é preciso pensar muito bem na hora de estruturar sua apresentação nas redes e falar com o consumidor, para criar um bom relacionamento. Por fim, atente-se para a disposição dos produtos na caixa, para gerar surpresa, e também às áreas de logística e entrega, que costumam ser o calcanhar de Aquiles de muitos negócios do ramo.