Vale música, trilhas e até lutas para diminuir faltas e incentivar a produtividade
A crise econômica pode gerar o acúmulo de funções, o excesso de trabalho e, consequentemente, a queda da produtividade. Os reflexos de um profissional com pouca qualidade de vida aparecem no engajamento e na assiduidade, pilares de sucesso para os negócios. O cenário, que tem se repetido em grandes corporações e pequenas empresas, acendeu o sinal de alerta em alguns gestores, que têm investido em programas que garantam saúde e bem-estar para os seus colaboradores.
A Ancar Ivanhoe, administradora do Rio Design Leblon e do Botafogo Praia Shopping, é uma das empresas que aderiram à prática. Com a ajuda de uma firma especializada, a Qualiforma, busca estimular as áreas física, mental e cultural dos funcionários com as aulas de música e atividades ao ar livre.
Leia Cardoso, gerente corporativa de recursos humanos da Ancar, defende as vantagens desse tipo de investimento:
— As ações trazem resultados de alta performance, mais engajamento, redução de rotatividade e dos gastos com plano de saúde.
No Copa Dor, o foco são as palestras, como a da oftalmologista Andrea Lima. A médica esclarece temas como a fadiga e o estresse ocular.
— Dou orientações como a de que a tela do computador deve estar 20 centímetros abaixo da mirada do olho — diz.
Para o diretor médico do hospital, Paulo Tinoco, as informações são necessárias para mudar os hábitos prejudiciais.
— Temos a obrigação de educar nossos colaboradores a ter cuidado com a saúde. A principal vantagem é o bem-estar deles. Além disso, a boa saúde reflete na qualidade do serviço e assegura a excelência do negócio — conclui.
Já o escritório de Furnas, em Botafogo, tem um centro de treinamento completo para a prática de artes marciais. Inaugurado em 2014 para receber crianças de comunidades carentes, o projeto se estendeu a pedido dos funcionários. Apesar de considerados esportes violentos por alguns, modalidades como boxe, muay thai, luta livre, jiu-jítsu e MMA atraem hoje 480 funcionários. Gratuitas, as aulas têm até turmas de portadores de necessidades especiais e tradução em libras para deficientes auditivos.
— Perguntei ao professor se ele toparia me dar aula, e ele aceitou. Gosto muito de praticar esportes, o que aumenta minha autoestima — conta a analista de recursos humanos Núbia Rodrigues, que teve a mão esquerda amputada e já fez parte da seleção brasileira de vôlei paralímpico entre 2000 e 2004.
— Depois das aulas volto outra pessoa, com muito mais vontade de trabalhar — conta.
Gestores da empresa dizem ter percebido um aumento da produtividade dos funcionários e estão incentivando a participação nas aulas. O professor e lutador profissional Miguel Santana, um dos responsáveis pela implementação do projeto, conta que viu o esporte fomentar a união de colegas de trabalho:
— Funcionários que trabalhavam juntos há dez anos e nem se cumprimentavam começaram a se falar. Além disso, muitos pararam de beber, de fumar e perderam peso.
O engenheiro Filipe da Silva, por exemplo, perdeu 14 quilos desde 2014, quando ingressou no projeto. Morador de Petrópolis, diz que demora muito no deslocamento até o trabalho e tem pouco tempo para atividades:
— Eu aproveito o horário do almoço para fazer muay thai e ainda volto ao trabalho com um gás a mais.
Jordan Drummond, assessor de relações institucionais, foi quem teve a ideia de transformar uma sala sem uso em em centro de treinamento.
— Foi uma grande surpresa quando os funcionários quiseram participar. Então me envolvi totalmente com o projeto — conta.