Empresas brasileiras gradativamente têm criado consciência sobre a importância de investimentos na área de treinamento e desenvolvimento (T&D). Durante o ano de 2016 o volume de horas de treinamento por empregado foi 33% superior ao registrado no ano anterior, de acordo com pesquisa realizada pela Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD). Na prática, isso significa que, enquanto em 2015 o trabalhador participou de 16,6 horas de treinamento, no ano passado o tempo desprendido foi de 22 horas.
O professor de Administração de Empresas da Fundação (FGV), Alexsandro Nascimento, percebe a conscientização sobre como esta área influencia também no faturamento da empresa. “A pesquisa indica a percepção de que funcionários que recebem treinamento adequado rendem mais”, aponta. Na avaliação de Nascimento, essa é uma época de transição. Algumas empresas realizam investimentos constantes em treinamento como maneira de manter e avançar em seus padrões, enquanto outras despertam para a questão somente agora.
A líder da Pampili em Porto Alegre, Aracheine Fagundes, faz parte da estatística. Para a abertura de um staff conceito em um shopping da capital gaúcha, a empresa organizou três dias de treinamento para seus funcionários, ainda no ano passado. Um espaço foi alugado e o treinamento foi técnico, passando por todos os momentos da venda, de acordo com o relato da funcionária. “Em todas as empresas de varejo que trabalhei é visível a diferenciação através do treinamento”, avalia Aracheine, que tem 26 anos de varejo e vê segurança e tranquilidade nos colaboradores que passaram pela capacitação.
Segundo a pesquisa, em média, o comércio investe R$ 637,00 por colaborador treinado. O total de horas investidas pelo segmento é de 15 horas por trabalhador. A indústria, por outro lado, investe menos, em média R$ 545,00, mas totaliza tempo de treinamento maior, com 24 horas por funcionário. Os dados ainda apontam que a indústria é o setor que mais investe em treinamentos obrigatórios, como os relacionados à segurança no trabalho. A pesquisa também aponta que 96% das indústrias dispõe de orçamento anual em treinamento.
Nascimento recorda que é usual em empresas de maior porte, especialmente do segmento da indústria, que o investimento realizado seja no intuito de qualificar a mão de obra interna para que essa suba posições na empresa. “Cada empresa é um mundo à parte, cada uma apresenta características distintas”, afirma o professor, como justificativa para garantir a permanência de pessoal qualificado na corporação sem que haja a necessidade de aculturamento de mão de obra externa.
Este é o caso da Ambev, que nos últimos 20 anos investiu R$ 370 milhões em treinamento e desenvolvimento. Hoje, a empresa tem cerca de 30 mil funcionários, destes, pouco mais de 20 mil já participaram de algum tipo de treinamento promovido internamente pela universidade Ambev, que dispõe de cursos nas áreas técnica, de liderança e cultural. “(Através da universidade) quem não é formado pode passar por qualificações, ou quem é pode reciclar o seu conhecimento”, explica o gerente regional de gestão da Ambev, Bruno Ribeiro.
Ribeiro é um dos funcionários da Ambev que iniciou sua carreira na empresa como estagiário. Atualmente, ele está ligado à área de supply da Ambev. Assim como ele, o gerente fabril da Maltaria Navegantes, Renato Witt, também iniciou sua carreira na empresa ainda no período de sua graduação. Sua primeira oportunidade na universidade Ambev foi ainda como estagiário, oportunidade pela qual adentrou no programa de talentos da empresa.
Nesta oportunidade foram seis meses de treinamento, em diversas áreas da empresa. “Me apaixonei pela área cervejeira e recentemente fiz o curso de mestre cervejeiro da Ambev”, relata. Foram quatro meses em Jacareí, São Paulo, para a conclusão do curso. Na avaliação de Ribeiro, um número alto de pessoas que ocupam cargo de lideranças tiveram o início de sua vida profissional em cargos baixos da empresa.
Fonte: Jornal do Comércio